sábado, 29 de novembro de 2008

Carta de um ateu

O texto que segue não expressa em nenhum momento a minha opinião, a minha visão sobre esse assunto. Entendam como um personagem meu escrevendo isso, não eu.
Caros,
Queria explicar-lhes o que é ser ateu e o porquê de eu ser ateu. Sou ateu porque não acredito em Deus, isso é redundante. Nenhuma divindade é racional. Deuses são criaturas criadas pelos homens e seus diversos povos e por diversos momentos da história para refugiar-se de seus medos ou mesmo explicar as coisas que eles não compreendiam. A ciência, é claro, está longe de nos explicar tudo, mas o que hoje já sabemos é o suficiente para não ter que atribuir a alguma divindade a autoria de tudo o que acontece com o mundo.
Sabemos que o mundo foi gerado a partir de uma explosão, a qual chamaram de big bang. A partir dela, seres microscópicos foram evoluindo desde as águas até ganharem terra e evoluirem ainda mais. Uma dessas criaturas foi certa espécie de macacos que adquiriram habilidades conforme suas necessidades de sobrevivência e aprenderam a andar sobre duas patas, eretos, a falarem e desenharem; posteriormente, criaram sinais para representar a fala: nasceu a escrita.
É, portanto, inconcebível a idéia de que o homem nasceu do barro. Fósseis nos provam essa evolução das espécies. As criaturas que ainda vivem e evoluem aos nossos olhos comprovam a veracidade dessa teoria. Pra quê recorrer a um deus criador?
Em nosso país é muito bem difundida a idéia do deus judaico-cristão-islâmico, embora a religião predominante seja o cristianismo e nela, o catolicismo. Avaliemos esse deus, então, e as factóides das histórias cristãs:
É irracional pra mim, primeiramente, o mundo ser criado em seis dias. Impossível. Mais impossível ainda é o homem vir do barro e só ganhar inteligência porque comeu uma maçã. Adiante, conhecemos um velho que reuniu todas as espécies de todos os ecossistemas existentes numa barca para fugir de um dilúvio. Mesmo divinamente, isso é impossível. Haja espaço!
Percorremos mais um pouco e encontramos travessia num mar a pé enchuto e depois disso pães que caem do céu. E até chegar no Cristo, personagem central da história, percorremos por pessoas que caem em covis de leões e não são atacadas, caem no fogo e não queimam, enfim. Atrocidades inexplicáveis.
A Bíblia nada mais é que um grande livro de fantasia inventado pelas pessoas para mostrar um poder maior impressionante e reger a vida de um povo para manter o controle sobre ele. O ápice do impossível é uma mulher conceber sem o ato sexual e dar à luz um filho que iria morrer e depois ressuscitar.
Respeito todos os credos e todas as filosofias de vida, mas como é possível esse mundo que lemos nas páginas bíblicas ser o mesmo de hoje e não acontecer tais coisas? E de fato, muitas coisas que a Bíblia construiu, a ciência já provou o contrário. Qualquer pessoa com um pouco de racionalidade saberia avaliar e perceber que deus é uma criatura e não um criador.
Por que eu resolvi escrever isso? Estava eu fazendo no orkut uma visita àqueles que fuçam no meu perfil e encontro esse amigo aqui. No perfil e nos vídeos dessa pessoa encontram-se explicações do porquê ele é ateu. E eis que vejo a mais infeliz das manifestações humanas: a hipocrisia!
Creio que um verdadeiro ateu é aquele que não acredita, por entender que a razão o explica tudo. Mas uma pessoa se dizer não-crente por julgar as atitudes humanas deploráveis e Deus não fazer nada, por achar que o episódio de Sodoma e Gomorra foi uma prova da ira implacável e da falta de misericórdia de Deus, é inaceitável.
Se eu não creio em (D)deus, então pra mim Sodoma e Gomorra, as pragas do Egito, a travessia do Mar Vermelho, a criação da Terra em seis dias são histórias fantásticas e não realidades a serem contestadas ou tomadas como objeto de revolta. Se existem pessoas que maltratam animais e eu não concordo com isso e também não creio em Deus, porque ficar esperando de algo que eu sei que não existe uma solução? Ser ateu e ser anti-Deus são coisas diferentes. Cuidado, então, eu digo para esses falsos ateus. Se Deus pra vocês também existe, controlem seus ímpetos que vocês estão sujeitos à ira dEle. Não falem o que vocês não sabem porque mais sábio é aquele que se cala quando vê que vai proferir uma tolice. Não zombem de Deus. Por mais que para vocês ele não exista, ou não querem aceitar a existência dEle, mas faz parte de uma coisa que se chama respeito e que mora em quem acredita nEle (e não é pouca gente, nem tampouco são ignorantes). Agora se não crêem, de fato, não se revoltem com coisas que para vocês são falsas. Vai poupar-lhes estresses. Como diria Wanessa Camargo: "Viva a vida sem ter pressa, ser feliz é o que interessa!".
obs.1: Galera. Valeu mesmo pela repercusão do tópico anterior. Sei que fui muito mal interpretado, mas acreditem: eu não tenho valores desvirtuados. Só fui mal entendido em alguns casos. Foi o tópico máximo da história do Andarilho.
obs. 2: Semana que vem tem a Carta do Cristão. Pra provar que ter uma crença não é tolice. Mas deixem pra comentar sobre isso no próximo tópico.
obs.3: Ah! E ajudem SC! Como puderem! Não é exagero da mídia. A coisa por aqui tá feia mesmo! Quem puder, colabore!

domingo, 2 de novembro de 2008

Quando que não é comercial?

Pra tudo há exceções, sim, é verdade. Mas grande parte das manifestações culturais de hoje são frutos comerciais. Não; não creio que isso seja ruim. Também não é bom por inteiro. Explico: claro que existem coisas idiotas feitas e ditas culturais para vender, mas nem tudo que é comercial é tosco. E não venha me dizer que o que é bom não é comercial. Pode existir o que não seja, mas maioria é.
Divago a respeito pois estava lendo uma entrevista velha e polêmica das páginas amarelas de Veja. E como não podemos falar e dar certezas do que não conhecemos, vou usar uma personagem que eu acompanho bastante para defender a minha tese. Lembrando que não estou defendendo a personagem, defendo a tese.
A referida entrevista antiga (2003) e polêmica, é com Wanessa Camargo. Certa altura da conversa, eis que o repórter pergunta: "Existe alguma qualidade musical no seu trabalho?". A cantora responde: "Eu não sou uma grande cantora, mas estou aprendendo. Hoje, por exemplo, não consigo ouvir o meu disco de estréia porque acho que os vocais são muito ruins. Tenho consciência de que meu trabalho é comercial. O povo gosta de ouvir baladas, elas tocam mais no rádio e ajudam a vender discos". Pergunto, portanto: o que não é comercial?
Se me disserem: Roberto Carlos, Gal Costa, Milton Nascimento, Gilberto Gil e esses grandes nomes da música nacional, ou mesmo internacional, caso de Enya, Celine Dion e outros, digo que tudo é comercial. Voltando à Wanessa; se formos fazer uma busca qualquer, encontraremos referências como: "Wanessa já fez duetos com Elba Ramalho, Rita Lee, Zeca Pagodinho, Daniela Mercury..." e vai citando. Grandes nomes atestando que "se ela é capaz de cantar com esses, é porque não é tão ruim".
Quando qualquer gravadora lança algum CD, mesmo que seja do Leoni, Titãs ou Paralamas do Sucesso, está de olho nos índices econômicos (prova de que também é comercial esses dois, é o CD ao vivo com as duas bandas juntas cantando sucessos). Não há nada que não seja comercial. Consigo avistar menos comercialidade no cinema, em casos como curtas que geralmente são feitos por gente amante de cinema, ou longas não holywoodianos. O Brasil também ultimamente vem produzindo um cinema autenticamente comercial.
Theodor Wiesengrund-Adorno, na teoria da comunicação, já falava da "Indústria Cultural". A cultura sendo usada como forma de industrialização. Se formos observar o lado capitalista da coisa, com certeza isso é negativo, mas não diminui o valor cultural do objeto. Claro que essa "indústria cultural", a comercialidade nesse meio e o fruto disso tudo, pode gerar diversos produtos com qualidades discutíveis na música (Xuxa só para Baixinhos, Hight Scholl Musical, RBD, entre tantos outros exemplos e, inclusive, a Wanessa Camargo) e em outras manifestações também. É o caso, por exemplo, da infelicidade do Brasil só filmar seus podres, pobres, tragédias, violências e favelas, porque sabe que enquanto mais sangue e agressividade, mais vai agradar os expectadores nacionais. Mas Milton Nascimento, Titãs, Paralamas do Sucesso e uma galera boa aí não deixa de ter qualidade só por serem usados como objetos comerciais. O selo de qualidade de qualquer artista que almeja um reconhecimento e ainda trilha pelas pedras da "balada" (como diz Wanessa) para conquistar espaço, é ser elogiado por esses grandes nomes, justamente porque criou-se neles um produto de credibilidade e referência.
Portanto, não concordo que as pessoas digam: "não assito esse filme, não gosto desse cantor, não ouço essa música porque é comercial". No mundo capitalista que vivemos tudo é comercial, queiramos, ou não. A qualidade é outro campo de discussão, mas a comercialidade, me desculpem; repito: está em tudo.