segunda-feira, 9 de março de 2009

500 mil = 10 mil?

Hojé é aniversário de Joinville. A cidade que eu nasci e que moro desde sempre. Amo-a. Ela faz parte da minha vida e é muito importante para mim; mas tem alguns defeitos e justamente por eu amá-la tanto é que esses defeitos me entristecem.
Sei que deve ser chato para alguém que mora a 400km daqui (maioria dos meus poucos leitores) ler sobre uma cidade que quase nunca se ouve falar, mas relevem!, é aniversário dela (a cidade).
Para localizar os perdidos: Joinville é uma cidade catarinense, no norte do Estado, de colonização especialmente alemã e suíça. Seu forte são as indústrias de onde provém maior parte dos rendimentos econômicos. É o maior polo idustrial de Santa Catarina e o terceiro maior do Sul do país. É a maior cidade do Estado (sim, maior que Florianópolis) com quase meio milhão de habitantes. É o maior centro comercial do Estado com a maior indústria varejista de Santa Catarina. Se a cidade não é conhecida, mas o que se fabrica aqui, talvez o seja mais familiar para muitos: Tigre (conexões em PVC), Tupy (fundição), Consul, Brastemp e Embraco (geladeiras e compressores, sob o comando a Whirpool), Busscar (ônibus), Docol (metais sanitários), entre tantas outras. Abriga o maior Festival de Dança do mundo e é a única cidade no planeta com uma sede da Escola do Ballet Bolshoi fora da Rússia.
Pois bem. Joinville tinha, então, tudo para ser uma cidade de alto nível. Aqui não tem favelas de montão e de morro como em outras cidades do seu porte (mas existem regiões bem pobres, sim. Só não em morros), e os números de expectativa de vida, qualidade na educação de ensino fundamental, índice de mortalidade infantil e segurança são melhores que a média do país (assim como em todo Sul). Mas o que eu vejo hoje na cidade é um cenário dos século XIX: uma população bitolada e um município capitaneado pelos barões da posse.
Por isso o título desse post: eu li no último sábado numa crônica do jornal A Notícia, daqui de Joinville, que certo autor veio à cidade e disse que Joinville tinha 10 mil habitantes, o resto eram máquinas programadas para trabalhar, consumir e aceitar as "determinações" dos telejornais. E eu concordei. Vejam:
A cidade tem 5 salas de cinema (apenas!). Na verdade, eu considero só 3 (do maior shopping da região), porque as outras duas (do outro shopping) são "salas de vídeo", mal projetadas e com acústica e som horríveis, além de outros problemas. E elas nunca lotam! Quando enchem, é para filmes de qualidade questionável, ou aqueles que os "telejornais determinam que é bom". Pensemos na minha linha de raciocínio, considerando duas como "salas de vídeo" somente: uma cidade com 3 salas de cinema não se pode dar ao luxo de deixar um filme (Se Eu Fosse Você 2, por exemplo) três meses em cartaz! Bem, em Joinville pode. Porque é o único filme em meses que faz a sessão lotar.
Existe outra alternativa. A Cidadela Cultural Antarctica (já falo sobre ela) tem um espaço para o chamado "Ciclo de Cinema". A ideia é excelente, se as exibições não fossem em DVD numa cozinha! Sim, porque é um espaço quadrado, com janelas vasculante, azuleijos até a metade da parede, objetos jogados no canto, pois não têm onde ser colocados e cadeiras de plástico. Além disso, por mais bem intencionados que os produtores do "Ciclo de Cinema" sejam, poucas pessoas vão e não há divulgação decente.
Além dos 4 Sebos que vendem mais discos e revistas que outras coisas, só temos duas livrarias. Uma biblioteca pública abandonada, pequena e desconfortável e desatualizada e uma Feira do Livro anual prestes a ruir pela falta de público.
O transporte coletivo é péssimo. Poucos horários, ônibus lotados e desconfortáveis. Além de só termos ônibus como opção de transporte, a tarifa é cara e não temos, por exemplo, direito a descontos para estudantes. Daí as empresas (duas somente) colocam uma meia dúzia de linhas de madrugada (que não haviam até então) e diz instalar linhas universitárias (que vão para os maiores campus da cidade e que já existia antes) e acredita que já pode reajustar em 12% a tarifa. Mas eu não falei que eles tiraram de circulação linhas especiais como o chamado Pega Fácil (alegando que dava prejuízos), reduziram ainda mais linhas e horários e não são mais responsáveis pela manutenção dos terminais e abrigos de ônibus. Além dos corredores implantandos para agilizar as viagens, a bilhetagem automática que dispensou os cobradores, a água reutilizada para lavação dos carros e a fabricação e manutenção feitas na própria cidade pela Busscar, que reduz valores de logística, por exemplo. Mas ainda assim, a Transtusa e a Gidion são um dos capitães que mandam na cidade mais que o prefeito.
Outro capitão é a Engepasa, vulga "Ambiental" (mudou o nome a pouco). Cobra uma taxa de limpeza urbana sem critério nenhum! Antes essa taxa vinha no IPTU e custava alguns reais, ou centavos mensais. Hoje ela é mais cara que o próprio Imposto, em alguns casos.
E o pior: a população bitolada: se os estudantes fazem protestos para melhorar as condições do transporte público, são taxados pela própria população de baderneiros. Se vem um teatro de qualidade, só a muito custo para lotar. Se vem um show bom (ou não), não se alcança o público esperado. Os museus (bons, por sinal) vivem vazios, exposições artísticas não interessam pra ninguém e os nossos governantes até agora nunca investiram em turismo, alegando que a arrecadação da cidade é estritamente industrial. E quem mora aqui, não precisa se divertir?
Temos um mirante muito belo, mas abandonado, com acesso por rua de barro, sem iluminação e lá no alto, misturado a antenas de TV. A Vigoreli (chamada "praia de Joinville", apesar de não ser uma, é um lugar interessante) tem acesso horrível. Não temos um parque decente na cidade e as praças dos bairros, quase em todos os casos, estão abandonadas.
Aquela que seria a "Cidade das Flores", cujo canta o próprio hino, não passa de pedras nas praças centrais e matos nas rótulas das maiores (e ainda assim pequenas) avenidas. Aquela que seria a "Cidade dos Príncipes" nunca foi digna de realeza e nem os príncipes nunca estiveram aqui. A "Cidade da Dança" não tem apoio digno para os grupos de dança da cidade, nem espaço para se apresentar fora do Festival. A "Cidade das Bicicletas" não tem ciclovias (pouquíssimas, para não dizer que são inexistentes). Não tem um bom sistema de esgoto tratado e desemboca tudo no morto e histórico rio Cachoeira que cruza a cidade fétido e escuro.
A Cidadela Cultural Antarctica (antiga fábrica da cerveja na cidade, desativada por entraves políticos, como sempre) seria um bom projeto se não estivesse abandonada e o que existe lá, nada mais fosse que improvisações para usar o espaço como atrativo cultural...
É... por mais que eu ame a cidade e queira vê-la bem, e em situações festivas como hoje devêssemos ver o lado bom das coisas, não consigo. Muito me incomoda, me deixa desconfortável e me entristece ver que vivo numa cidade de máquinas e que muitos (políticos) aproveitam-se (ou aproveitaram-se) disso para torná-la, basicamente, um bom rosto maquiado parado no tempo, atrasado e "regredido".

A seguir, algumas fotos minhas retratando Joinville. Bem... a seguir, o olhar é de um apaixonado, não de um crítico:

Obs. 1: Apesar de tudo, ninguém pode morrer sem conhecer Joinville. Qual cidade não tem problemas? O nosso papel é só não se conformar com o que tem de errado para através do nosso incômodo nós mesmos, ou alguém faça algo para melhorar. E nós continuamos sonhando...

Obs. 2: Segue alguns links de coisas que eu escrevi sobre a cidade: Centreventos Cau Hansen; Cerveja Antarctica e Cidadela Cultural.

Lá no Set Sétima tem a crítica de Menino da Porteira. Vale a pena conferir!

domingo, 1 de março de 2009

A Teoria da Conspiração

Eu não gosto muito de fazer parte de grupinhos, ou pertencer a determinadas "associações", se pode-se chamar assim. Não sou filiado a nenhum partido, não pertenço a nenhum movimento social, embora tenha meus princípios.
Mas de todas as "associações" que conheço, a mais incrível e a que mais me chama a atenção - não por eu concordar, mas por vezes até achar graça - é a chamada "Teoria da Conspiração". Maioria de quem adere a ela não se autodeclara como participante, mas pensa exatamente como qualquer outro integrante pensaria, embora não haja reunião de "conspiradores".
Algumas coisas eu acho simplesmente curiosas. Olhar manchete e fotos de jornais (principalmente Folha e Estadão) dá um bom caldo para teorias conspiratórias.
Certa vez prestávamos atenção, em uma aula de Meios Impressos na faculdade, numa capa do Estadão com uma foto rasgada (expressão para foto grande) do Lula passando por baixo de uma cerca de arame, quase ao chão, enquanto a manchete dizia algo como "Confiança no Brasil está em queda".
A foto não tinha nada a ver com a manchete, embora subliminarmente poderíamos dizer, numa conspiração, que era o Lula que tava levando o Brasil ao chão, já que na foto o presidente estava quase caindo.
Talvez um monte de gente ache isso tudo que eu falei uma baboseira, mas então pode ser um sinal de que você não é tão conspiratório assim.
Daí tiramos mais um tanto de histórias, no mínimo, interessantes. Há que diga que o casamento da Fátima Bernardes e do Willian Bonner, da Angélica com o Luciano Huck foi nada mais que jogada de marketing da Rede Globo. E tantas outras que, como eu não sou tão conspiratório, não enxergo muito além. Só escuto longe.
E a história de que os cientistas já poderiam ter achado o remédio para o câncer e a AIDS, mas não fazem nenhum esforço para um avanço nos resultados clínicos e de pesquisa, para continuarem vendendo coquetel e quimioterapia? Há quem diga que é mais lucrativo para os laboratórios elaborarem coquetéis e remédios de quimioterapia do que vender, de uma vez, um medicamento curativo. Se isso for mais que conspiração realmente é grave.
Coisa parecida, mas menos grave é a conspiração dos vírus de computador. Alguns dizem que quem espalha os vírus são as próprias empresas fabricantes de software antivírus. Isso porque, se não tiver mais vírus, não precisa mais de antivírus, daí eles não têm mais o que vender! Será?
Tem aquelas mais difundidas, do tipo: povo educado é povo que questiona, melhor não investir na educação. Ou... se está doente no hospital, vamos deixar morrer porque é menos um pra tratar. Ainda pior: os traficantes têm de ficar impunes para os grandões da sociedade camuflarem-se melhor no meio da máfia da corrupção e das drogas...
Enfim, pode ser que essas coisas tenham lá sua lógica, mas a verdade é que em tudo podemos ver conspiração. E ela pode tanto nos ajudar a ser mais críticos e não aceitar as coisas facilmente, como podem nos cegar para o que realmente é verdade, e nos aprisionar em uma vida limitada a ver chifre em cabeça de cavalo.