sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

É Natal mais uma vez

Amanhã é Natal. Essa data significa muito pra mim. Por vários motivos. Primeiro porque cresci com uma educação católico-cristã que me influenciou muito no modo de encarar 25 de dezembro. Outra porque ela vem cheia de recordações.
Lembro-me da minha infância, quando, lá por fim de novembro, o calor ia chegando com a proximidade do verão, as chuvas de fim de tarde traziam consigo um lindo arco-íris no céu, e no fim da tarde a cigarra cantava anunciando a proximidade do fim do ano.

Era a época que a família se reunia para decorar a casa e combinar o dia que iríamos ao Centro da cidade, dar uma volta para ver a decoração do shopping e ver o Papai Noel. Ao fim do passeio, passávamos numa lanchonete simplezinha, só para comer coxinha, bolinho de carne com Laranjinha. Essa foi a época em que minhas maiores preocupações eram passar de ano direto e cuidar do meu brinquedo novo.

Não demorava muito, íamos à casa da minha avó, uma cidade rural na região sul do interior de Santa Catarina - Imaruí - e lá passávamos a virada do ano.

Nostalgia. O Natal pra mim é isso, e por mais que por vários motivos ele tenha perdido muito da sua essência - pelo menos dentro da minha família - eu guardo no meu coração essas lembranças, e me apego a elas pra fazer do Natal uma data sempre especial. Pelo menos pra para mim.

E daí que a gente se reúne com um monte de parente que quase nunca vê? Me irrito com quem diz isso, porque é reduzir o Natal a um mero encontro. E o Natal não é um mero encontro. Pelo menos não com seus parentes grudentos e hipócritas.

O Natal é o nascimento do menino Jesus, e não há Papai Noel que mude isso. Pode ser que você não seja cristão, ou talvez sendo, não acredite que Jesus tenha nascido nessa época. Mas isso também é richa de quem quer reduzir o Natal a explicações antropólogo-histótricas-geográficas. E isso é entediante. Típico de gente chata.

Deveríamos usar o Natal para, assim como eu, se apegar a lembranças boas da vida, e refletir o que estamos ou não fazendo para tornar nosso dia-a-dia tão feliz quanto aquelas lembranças. Tá certo que não há jeito de a vida ser sempre um mar de rosas, maravilha pura, mas é importante salientar que o Natal é magia; e a magia é algo que brota de dentro do nosso coração, que sai um pouco da realidade pra nos deixar um pouco melhor.

Se continuarmos, diariamente, a todo momento, encarar tudo com essa frieza e racionalidade típica do ser humano capitalista-consumista, vamos acabar perdendo o melhor da vida: acreditar que no fim do arco-íris tem um pote de ouro e que o Papai Noel existe; foi nesta época que as pessoas eram mais felizes. E relutamos, sendo frios e adultos em demasia, chatos, com um pensamento rançoso, sem lembrar que, no fim das contas, o que estamos celebrando é o ser criança; pois todo esse auê só existe porque um dia alguém acreditou no impossível, e, talvez não por magia, mas concebeu sem conhecer varão, e deu à luz a uma criança que assim como aquelas que ainda acreditam no Papai Noel, e ficam felizes simplesmente de ouvir a cigarra cantar, salvou o mundo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Negro novembro

Chove em Joinville (pleonasmo). Há mais de dois meses não se sabe o que é passar uma semana sem chuva. Não dá de planejar nada: a chuva vai estragar os planos. Os tênis não terminam de secar, as roupas nunca estão limpas. Aquela calça que eu tenho branca no guarda-roupa não pode ser usada. Se usá-la, será só por um dia pelas próximas duas semanas, porque ela terá de ser lavada e demorará outro tanto de tempo para secar.
Sinto cheiro de fungo no ar. As ruas estão encharcadas e o solo não suporta mais a umidade. Está como uma esponja pesada. A cidade está cinza. As pessoas saem de casa desconfiadas. É claustrofóbico. Joinville parece um elevador gigante. O clima é inconstante. Não há sorriso. Não há cores.

A chuva provoca doenças: as janelas estão fechadas, os guardas-chuvas não protegem os pés das poças de água das calçadas destruídas e mal acabadas. Nem dos carros que, violentos, passam em alta velocidade sob a faixa de pedestre. Os motoristas protegidos em seus veículos bem vedados, som ligado e ar-condicionado não se dão conta que há pessoas fazendo contorcionismo para tentar fugir da chuva desagradável debaixo de um ineficiente guarda-chuva.

E que dizer dos mal-educados que não respeitam quem se descuidou e deixou o companheiro básico do joinvilense em casa? Pedestres protegidos que usam a marquise deixando os desprevenidos à mercê da chuva constante.

Nem o concreto é mais impermeável. Minha casa já tem goteiras. Está alangando, móveis estragando e a agonia de ter o chão molhado e as roupas penduradas dentro de casa aumentam a sensação de mau humor. É como se a chuva fosse administrada por uma instituição que não soubesse mais regulá-la direito, e tivesse perdido o jeito de fazer as coisas.

E com tudo isso surge o resfriado.

Os resfriados tranformam-se em gripes.

E as gripes atingem os mais azarados com sinusites, pneumonias e, no meu caso, amigdalite.

E tudo isso dá febre.

No negro novembro tive duas amigdalites seguidas. Passei dias sem dormir, sem engolir. Estava praticamente sem viver. E foi neste mesmo negro novembro que, depois de curado das amigdalites, me surgiram duas ínguas na nuca, do lado direito. Logo elas se multiplicaram, e já são 7 ínguas espalhadas pelo meu pescoço e nuca.

Ir no médico? Como? Se não têm mais horários disponíveis para clínico geral na rede de saúde pública básica de Joinville para este ano?

Ir no PA (Pronto Atendimento 24 horas)? Lá, com o Protocolo de Manchester, que usa as pulseirinhas para identificar a gravidade do problema, o meu será tido como sem nenhuma gravidade, e vou ficar infinitas horas esperando pra me consultar, conseguir um exame, mas sem retorno previsto. Ou seja, ficarei sem saber o que tenho até janeiro.

Bom... minha mãe tinha consulta hoje e aproveitou para explicar à médica o que eu tinha. Ela se limitou a dizer que "ínguas são causadas por infecções graves, e é preciso fazer um exame de sangue detalhado para saber do que se trata exatamente". Ajudou muito.

E para o novembro ficar ainda mais negro, meus dias estão curtos demais para minhas necessidades. E, apesar de a carência e o desânimo, às vezes - mesmo que eu procure afugentá-los - existirem, não posso dizer de maneira nenhuma, sendo joinvilense, que estou na seca.


Foto: Laercio Beckhauser

domingo, 29 de agosto de 2010

Conflito de tribos

Olá povo que resolveu passar/voltar ao Andarilho! Eu estava realmente sumido, mas em nenhum momento pensei em abandonar isso aqui. Pelo contrário: toda semana eu pensava em posts novos, mas acabava adiando e não postava nada. Sempre via a necessidade de escrever.

Daí essa semana eu tava programando outra coisa bem diferente pra postar, mas eis que ontem houve uma sucessão de acontecimentos que me fizeram pensar: eu não posso ficar indiferente a essas coisas.

Só para vocês entenderem: ontem teve show da banda Hori (aquela cujo vocalista é o filho do Fábio Jr.). Paralelamente, tinha uma festinha aqui do lado da minha casa com música eletrônica advinda de carros rebaixados, com neon e aquelas firulas automotivas todas que eu não sei o nome de 20% dos atributos. E, também ontem, vi uma colega minha entrar numa comunidade do Orkut que xingava esses rapers que ficam escutando música no celular sem fone.

Colocando tudo isso num caldeirão o que eu percebo? Há uma intolerância de todos com todos. Não há mais respeito de uma "tribo" com outra. O que faz um metaleiro pensar que ele é mais suportável que um pagodeiro? Acho que o problema não está nas atitudes de certo grupo de pessoas com "ideologias musicais" próprias, se assim eu puder chamar.
Não tô dizendo que eu gosto, mas o que te incomoda em alguém usar calça colorida? Isso vai te atingir, mudar tua vida? É simplesmente uma preferência do sujeito, ou daquele grupo de sujeitos. Da mesma forma como os metaleiros gostam de preto, pagodeiros de boné e sertanejos de calças apertadas.

Quando uma dessas tribos invade o espaço da outra aí há falta de respeito. E quando isso acontece? Quando rapers abrem as portas de seus carros turbinados de sons potentes na frente de um barzinho de pagode, quando sertanejos ficam ouvindo música no ônibus, com o celular, sem fone de ouvido, enfim. Essas coisas.

Eu não gosto do Fiuk, nem da banda dele, nem de Cine, nem de Restart. Mas o fato de eles estarem no Treding Topics no Twitter não me incomoda porque eu não sigo nenhum emo colorido. Da mesma forma, não é essa "adolescentização" do Orkut que me incomoda nesta rede social, mas as mudanças ridículas que de vez em quando o Google faz lá.
E quantas vezes eu vejo as pessoas reclamarem do Twitter ou do Orkut porque esse tipo de gente está presente? Quem te disse que os pagodeiros são obrigados a escutar a sua Lady Gaga? Quem disse que o seu estilo é melhor que o do outro?

Tá certo que existem movimentos musicais questionáveis. Mas, como dizia minha amiga Camila Prochnow, que defendeu nessa semana sua monografia, "a música é muito sensorial". Você sente coisas boas escutando Gilberto Gil que eu não sinto. Por isso, pra mim, a Wanessa, a Celine Dion, diz mais, é mais música. Logo, ninguém tem o direito de exigir extinção de nada. O que seria do verde se todo mundo gostasse do amarelo?

terça-feira, 27 de abril de 2010

O caso crítico da Busscar

É só você prestar bastante atenção. Em algum momento da sua vida você já embarcou, ou ao menos já viu um ônibus Busscar, empresa com sede em Joinville, SC. Essa marca já foi uma das maiores exportadoras de carrocerias de ônibus da América Latina, só ficava atrás da gaúcha Marcopollo. O motivo nem era a falta de clientes: é que na Busscar o processo sempre foi artesanal: monta-se o ônibus conforme o desejo do cliente, inclusive alongando o chassi. Na Marcopollo, o processo segue as restrições das máquinas e da linha de produção massivamente mecânica.

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Não à toa, vários artistas nacionais encomendaram seus ônibus de viagens na Busscar. Até a Rede Globo tem um para o quadro Garota Fantástica, da revista eletrônica dominical da emissora.
São mais de 60 anos de história, produtos exclusivos rodando no mundo inteiro e uma marca de fazer tremer qualquer concorrente. A rodoviária de Joinville leva o nome daquele que foi o presidente da empresa por anos: Harold Nielson.
Estou eu contando uma história de alegrias e sucesso? Não. Infelizmente, não. Pelo menos no que se refere à ultima década.

Há menos de dois anos a Busscar tinha mais de 6 mil funcionários. E há menos de dois meses quase 2 mil participaram de um programa de demissão voluntária devido à situação econômica da empresa. Naquela época, a fabricante de carrocerias já não tinha seus 6 mil colaboradores.
Ninguém mais empresta dinheiro para a empresa joinvilense. O governo também não ajuda mais. Os funcionários estão desacreditados. As famílias que dependem da fábrica estão desesperadas. E o município teme uma situação de descontrole econômico na cidade. Ou seja, a história é mais triste e grave do que se pode imaginar.
O problema não vem de hoje. Em 2001 o negócio da família Nielson já não ia bem das pernas. Na ocasião, todas as esferas do governo: municipal, estadual e federal fizeram o possível para liberar ajudas e empréstimos milhonários para resgatar a empresa do vermelho.
Pouco tempo depois, tomou fôlego, mas já não era a mesma, apesar de querer se fazer "a empresa forte": contratou dezenas de funcionários, liberou horas extras descontroladas, não adotou nenhum forte procedimento de economia e houve até registros de chefias boicotando a empresa. Além da falta de organização na linha de produção e o visível descompromisso de muitos colaboradores com o trabalho. Isso que eu falo é fato. Apesar da falta de registros, foi justamente a época que, por 6 meses, eu trabalhei lá.
Não estou vomitando no prato que comi, até porque alguns de meus familiares ainda dependem da Busscar e desejo muito que ela volte a ser o que era em sua era de ouro. Mas minha crítica vai à administração desta fábrica.
É do conhecimento da maioria dos joinvilenses as fortes ligações evangélicas dos proprietários da Busscar com a igreja que frequentam. Tem um pastor que vive fazendo orações e dando conselhos para os funcionários. Isso não seria nada prejudicial se não fosse em demasia. Soube, há pouco, que o presidente Cláudio Nielson doou cerca de R$ 50 mil nesses últimos dias para o tal pastor. Além disso, a Busscar sempre patrocinou programas da tal igreja na África. A causa até é louvável se não houvesse tantas outras famílias precisando do bom senso da empresa aqui mesmo, na sua cidade-sede.
Como se não bastasse, há um lugar para orações no coração do parque fabril. Nada mau, se a pessoa não fosse liberada para, a qualquer momento, fazer a tal oração. Ao passar por lá, tenham certeza, ouvia-se mais roncos do que louvores.

Não foi somente a igreja, porém, que afundou a Busscar. Aí ainda tem alguma história mal contada. O mercado está aquecido (vide os índices das concorrentes, como Marcopollo e Comil), pedidos haviam aos montes, e o motivo da paralização da fabricação foi, nada mais, nada menos que... a falta de matéria prima. Isso mesmo! Não faltavam pedidos, não faltavam chassis. Na verdade havia até mais pedidos do que a capacidade de atendimento, e sempre tinha sido assim desde a retomada no início dos anos 2000. Mas a Busscar não pagava mais os fornecedores, e não tinha mais créditos com eles. Nem com os bancos. E nem com o governo, que já tinha dado todos os tipos de auxílio na última crise.
Venderam a recreativa pela metade do que valia (o Grenil, um belo espaço para funcionários e familiares) para quitar dívidas e está à espera de um repasse federal referente ao IPI, que continuava sendo cobrado da Busscar, mesmo com a insenção.
Ainda assim, a soma da dívida é maior que este valor, e maior que o valor do próprio patrimônio. Muitas soluções já foram apresentadas, mas parece que o Sr. Cláudio Nilson prefere achar que vai ganhar o céu doando R$ 50 mil para seu pastor, do que ajudando as milhares de famílias que dependem daquele emprego. É lamentável.

O Sindicato dos Mecânicos sugeriu abrir o capital (a empresa é Sociedade Anônima de Capital Fechado), vender a marca (segundo boatos, a Marcopollo tinha interesse), enfim... era só ter vontade de agir. Já disse Carlito Merss, prefeito de Joinville: "O problema da Busscar não é do mercado, é administrativo". E é fato: não há uma organização de comunicação institucional, o próprio alto escalão da empresa está sem informações, a comunidade não tem satisfação de nada, a imprensa está às cegas (e sempre teve, mesmo nos bons momentos o atendimento aos veículos de comunicação era péssimo) e isso demonstra tudo aquilo que a empresa é e aquele lugar para onde, sem mudanças de atitude, eles nunca vão chegar: o sucesso.

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Os Filhos de Húrin

Não foram muitos os livros que J. R. R. Tolkien deixou concluídos e revisados, com uma história completa e longa, assemelhada a um romance. Entre as mais conhecidas estão O Senhor dos Anéis e O Hobbit. Livros como O Silmarillion ou Contos Inacabados são compilações de diversos escritos que Tolkien havia feito ao longo da vida e deixara inacabados, desconexos e separados uns dos outros, incoerentes e contraditórios. Numa tentativa de organizar tudo isso, Cristopher Tolkien, filho do autor, editou esses dois últimos, reunindo os textos mais coerentes e procurando mater vivo o legendarium do Professor.
Com esse Os Filhos de Húrin (The Children of Húrin, Martins Fontes, 2009, 335 páginas, R$ 69,90), a lógica é a mesma: uma reunião de escritos que Tolkien havia feito mesmo antes de começar a escrever O Senhor dos Anéis, em 1937, até os anos posteriores ao lançamento do seu mais famoso romance. Mas a diferença deste lançamento em relação aos outros livros que Cristopher Tolkien tem editado, é que Os Filhos de Húrin não se trata de vários contos complexos e desconexos como em O Silmarillion, por exemplo. É uma história corrente, completa e coerente, que já era conhecida brevemente pelos escritos em O Silmarillion e Contos Incabados: ambos contam, cada qual da sua forma, mas sem mudar o rumo dos fatos, claro, o destino dos filhos de Húrin.

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Se já conhecemos a história, o que tem de tão interessante neste lançamento? Eu respondo: muitas coisas. Talvez não seja relevante para quem, como dizia o próprio Tolkien, "aprecia o livro apenas como 'romance heróico'"; estes nem leram os Contos, nem O Silmarillion, portanto, não sabem do que a história fala e fariam bem em conhecer Os Filhos de Húrin. Mas aqueles que já conhecem a história, provavelmente gostam de Tolkien e também não farão mal em ter mais este livro na estante.

A obra relata o sofrimento que a família de Húrin vive após a maldição imposta por Morgoth, o primeiro Senhor do Escuro, de quem Sauron era apenas um servo. Tal praga acaba por separar a família e impor um destino horrível para Túrin e Niënor, sua irmã.

À caça dos dois está Glaurung, o Senhor dos Dragões, terrível e poderoso. Uma história sombria, fria e triste, mas que revela toda a maestria que Tolkien tinha em criar personagens e dá-lhes personalidades fortes e determinadas, com orgulho e, aparentemente, inteligência própria.

Não vemos, ali, o autor tomando as decisões, mas o próprio personagem, no seu orgulho, decidindo o que fazer.

Grande destaque nesta edição são as ilustrações de Alan Lee, o mesmo que ajudou na criação dos sets de filmagem da Trilogia do Anel. A iluminação e textura que o desenhista dá às paisagens de Tolkien são fascinantes e misturam-se o gótico e o medieval, colaborando ricamente com a linguagem do romance.

Outro ponto interessante é a nova tradução para "anões". Tolkien não usava, em inglês, o plural correto para esta palava; propositalmente. Em inglês, o único plural correto de "dwarf" [anão] é "dwarfs", e o adjetivo é dwarfish. Em seus livros, ele usa "dwarves" e "dwarvish". Por esta razão, os tradutores acharam por bem trocar "anão" por "anano".

Ao final do livro, o editor e organizador, Cristopher Tolkien, oferece um apêndice, contando toda a tragetória de seu pai no que se refere à criação da história dos filhos de Húrin. E, de longe, esta é a parte mais interessante do livro. Pelo menos no contexto atual.

Fica-nos claro o repúdio que Cristopher tem (herança do pai) de todo o legendarium ter se tornado apenas fruto do capitalismo. O herdeiro de Tolkien critica a todo momento a pressão que seu pai sofria das editoras, para que continuasse a contar "alguma outra história de hobbit", depois do lançamento do livro com as aventuras de Bilbo, e que fizera muito estardalhaço na época.

Cristopher culpa a todo momento O Senhor dos Anéis pela perda da linha de raciocínio que Tolkien sofrera, e responsabiliza a aventura de Frodo pelo atraso na criação das histórias dos Dias Antigos da Terra-média. Ele chama O Senhor dos Anéis de "grande intrusão" e diz que Tolkien voltou com outras ideias, muito mais grandiosas e contraditórias da Primeira Era, em relação ao que ele tivera antes dos hobbits.

Mas além das críticas, Cristopher também esclarece as diferenças na versão da história de Túrin contada em O Silmarillion, Contos Inacabados e Os Filhos de Húrin, e lista os nomes que aparecem na história com seus significados. Fechando o livro, um mapa baseado no de O Silmarillion, mas adaptado pelo próprio Cristopher à realidade de Os Filhos de Húrin, omitindo alguns acidentes geográficos e uma ou outra localidade para tornar a compreensão mais facilitada.

Acima de qualquer coisa, é perceptível neste livro o verdadeiro espírito de Tolkien: a maestria das suas palavras, a grandiosidade da sua criação e até mesmo seu pensamento a respeito das coisas envolvendo a sua criação, claramente demonstrado pelo seu filho e herdeiro. Sem dúvida um livro muito interessante e indispensável para qualquer um que realmente goste de boa literatura, complexidade e tenha mente aberta para conhecer cada vez mais da maior mitologia moderna, digamos assim, existente no nosso mundo.

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domingo, 17 de janeiro de 2010

O Andarilho: 2 anos

Há exatos dois anos eu escrevi o seguinte post aqui neste blog:

E eu aqui, em novo endereço... mais um?
Pois é... resolvi priorizar o meu outro blog e focar ele somente para o meu trabalho literário. Minhas indignações, experiências e afins deixarei aqui. Aqui tem link pro outro também e ficarei tão feliz que vocês comentem nesse, quanto naquele. Ambos são importantes para mim.
Em muitos momentos, os assuntos dos dois vão convergir, afinal, meu trabalho (hobbie ou perca de tempo como quiserem) faz mais parte da minha vida que qualquer outra coisa e sinto-me feliz por isso. Tanto é que o título desse blog se refere à TL - Tedawer Lorcb, lugar onde se passa a principal e central das minhas histórias. Se é mitologia, besteira, plágio (isso não, eu juro!), vocês que vão dizer. Moro aqui na Terra, mas sou um inegável andarilho de Tedawer Lorcb. Espero que você também... enquanto estiver na Terra, me faça companhia por aqui, mas não deixe de ir lá em TL pra ser um andarilho também...

O primeiro aniversário do Andarilho eu nem dei muita importância, mas é inegável que qualquer um dos meus três blogs guardam muita coisa de mim. A função do Andarilho é fazer tudo aquilo que eu não conseguiria fazer em algum veículo de comunicação que porventura eu venha a trabalhar. Seja por não vontade do editor, seja por falta de espaço, ou seja pelas limitações publicitárias ou de políticas da empresa que não nos permitem falar algumas coisas. Por mais que eu não tenha noção se alguém lê isso aqui, ou quantas pessoas leem, o Andarilho é muito importante pra mim. Mesmo que eu passe meses sem postar. Eu adoro escrever, adoro que as pessoas leiam o que eu escrevo, e aqui ninguém está me enchendo, dizendo o que eu posso ou não dizer.

Claro que já houve situações que tive de tirar o post, excluí-lo, pois me chamaram de machista, pedófilo, entre outros absurdos. Com isso já perdi alguns leitores, aqueles que certa vez, aqui mesmo, eu chamei de pseudo intelectuais (vide este post).
E fico feliz que aqui no Andarilho, em 53 posts (esse é o 54º), eu tenha tratado de coisas que me inquietam no dia a dia, sendo, de fato, um retrato fiel das minhas andanças em qualquer lugar que eu passe. É como se fosse mesmo a visão de um andarilho, alguém que por fora observa a hipocrisia e gênio das pessoas que fazem o nosso mundo.

Se vocês estiverem com paciência, sugiro a leitura daqueles que são meus posts prediletos. E quando eu for rico, prometo: vou fazer daquelas promoçõezinhas clichê de "o aniversário é nosso, mas quem ganha é você", haha.
Obrigado pela companhia galera, fiquem com Deus e até o próximo post!

Segue o link dos meus posts prediletos:
O maior tesouro... a água
Carta de um ateu
Deus com qualidade, variedade e preço baixo

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O Hobbit depois de Avatar

Pra todo canto que a gente vá, e que lemos coisas sobre Avatar, inevitavelmente aparece em algum trecho do texto alguma citação a O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson. Isso por vários motivos: a tecnologia que desenvolveu os Na'vi é um aprimoramento da ultilizada na criatura Gollum, porque a empresa que trabalhou com os efeitos do filme de Cameron foi a Weta, a mesma da Trilogia do Anel, porque o terceiro filme da trilogia de Jackson era a segunda maior bilheteria da história do cinema, mas já perdeu o posto, enfim... tantos outros motivos.
Aos que ainda não sabem, Peter Jackson está produzindo O Hobbit, mais uma adaptação da obra do escritor J.R.R. Tolkien que será lançado em dois filmes nos anos de 2011 e 2012. O diretor será o mexicano Guilermo Del Toro (de O Labirinto do Fauno).

Mas o mais interessante disso tudo é que a Weta - que é uma empresa de Jackson - vai trabalhar em O Hobbit, e isso é motivo mais que de sobra pra esperarmos outra mega produção do cinema, que promete, da mesma forma que Titanic, O Senhor dos Anéis e agora Avatar, marcar a história da sétima arte.

Isso porque Gollum deve voltar. E quem vai viver ele deve ser, mais uma vez, Andy Serkys. Certamente toda a parefernália que criou os Na'vi vão ser usadas em Sméagol. A Terra-média deverá mais uma vez ganhar as locações da Nova Zelândia, mas assim como Mordor era uma terra inexistente naquele país, outros lugares imaginados, como a Floresta das Trevas, onde acontece cenas importantes do longa, devem usar alguns recursos que Cameron usou nas florestas de Pandora. Além, é claro, das crituras: as águias gigantes, as horrendas aranhas, os três trolls que vão lutar com Bilbo e - o mais impressionante, fantástico e aguardado - o dragão Smaug deve ser tudo aquilo que ainda não vimos na face da Terra.

Eu não duvido que estamos prestes a vivenciar outro grande fenômeno da história do cinema mundial, e vendo Avatar, os maiores medos que eu tinha com os novos filmes baseados em Tolkien se escafederam.

Sob a bênção de Peter Jackson e a Weta, O Hobbit tem potencial para fazer acontecer mais uma vez nas telonas do planeta todo. E não será dessa vez que as pessoas vão deixar de ir no cinema. Graças a Deus e seus fiéis servos da sétima arte aqui na Terra.


Obs. 1: Não deixe de ler sobre Avatar no Set Sétima.
Obs. 2: Leia minhas desventuras em série nos dias que passei em Curitiba, em busca de Avatar em IMAX.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Desventuras em série

Primeiros dias de janeiro. Eu e um certo amigo, os dois cinéfilos, resolvem sair de Joinville rumo a Curitiba para assistir aquele novo filme de James Cameron, Avatar, em IMAX. Se acaso você não sabe nem quem é James Cameron nem o que é IMAX, o Google pode te ajudar.
O objetivo da nossa empreitada era ir, assistir o filme e voltar no mesmo dia. Tudo muito rápido e simples, mas um pequeno incidente ainda na rodóviária de Joinville já provou que nossa viagem não iria ser tão simples assim: o ônibus que cumpria a linha Rio do Sul - Curitiba quebrou, fomos obrigados a esperar a troca de ônibus e saímos com meia hora de atraso.

Chegando na capital paranaense, nossos planos de procurar de ônibus o shopping que tem a tal sala de cinema miou, já que não tínhamos mais tempo hábil de arriscar uma perdição por Curitiba. Pegamos um táxi até o shopping debaixo de muita chuva, e debaixo de muita chuva atravessamos a rua (o taxista não nos deixou na porta do shopping) até entrar no centro comercial.

Chegando ao terceiro piso do lugar, onde fica a sala IMAX, nos deparamos com uma fila quilométrica. Logo nos ocorreu a possibilidade de não haver mais lugares para aquela sessão. Encontrei um amigo de Joinville por lá, tiramos algumas fotos da entrada da sala e fizemos piadinhas sobre nossa situação. Logo veio a informação de que estávamos errados. Sessões legendadas só daqui a dois dias!

E agora, o que fazer? Voltar pra casa e desperdiçar o dinheiro da passagem? Ou ficar e encarar uma despesa além da planejada?

Corremos pra procurar alguma posada ou hotel mais barato. Guia Hagah, Google Earth, Fórum Valinor, usamos de tudo, e por fim nossas consultas na lan house não nos ajudaram em nada. Mas a informação da companhia de ônibus que nós poderíamos trocar as passagens sem multa nenhuma nos atiçou a vontade de buscar uma solução de estadia. Se trocássemos os bilhetes três horas antes da marcada não teríamos problema nenhum.

O meu amigo joinvilense que encontrei na fila do cinema era uma solução. Liguei pra ele, mas ele já estava voltando de viagem. Eram dois problemas pra resolver, mas primeiro tínhamos que garantir o ingesso, se não de nada adiantava ficar.

Voltamos à fila. E ela estava ainda maior. Meu amigo olhou pra mim e exclamou: "Não vai dar tempo de enfrentarmos essa fila e chegarmos a tempo na rodoviária pra trocar as passagens!". De fato, tínhamos somente meia hora para comprar os ingressos e voltar à rodoviária.

Eu, como bom super-heroi, fui falar com uma das funcionárias do cinema e expliquei nossa jornada para assistir o tal filme na tal sala. Cordialmente ela levou ao gerente dela nossas súplicas que - embora eu não pudesse contar aqui - nos arrumou o ingresso para uma sessão do dia seguinte. Sessão dublada, ok, não era o que esperávamos, mas ao menos iríamos ver Avatar em IMAX.

Voltei com o troco e os ingressos na mão, tão expressivo quanto Robert Pattison, a pedido da funcionária que pediu pelo amor de Deus que não mostrássemos o ingresso para ninguém. Fiz um gesto com a sobrancelha para que o meu amigo saísse da fila e fomos correndo em busca de um táxi para chegarmos a tempo de trocar as passagens.

Até tentamos fazer o taxista ter dó da gente e ceder um sofá na casa dele para não precisarmos pagar hospedagem. Mas só conseguimos umas dicas de hotéis na frente da rodoviária a preços populares.

Trocamos a passagem com sucesso e escolhemos o hotel menos ruim. E de fato nem era tão ruim. Apesar do elevador quebrado, ele tinha toalhas para o banho, o que era uma preocupação minha, pois só tinha ido com a roupa do corpo.

Saímos pela noite curitibana em busca de um supermercado, onde pudéssemos comprar janta e café da manhã. Ali nada demais aconteceu, a não ser o fato que não havia pão francês e precisamos comprar quatro deles numa padaria que nos cobrou R$ 2 por isso. Absurdo!

Na volta ao hotel, além dos nossos vizinhos de quarto (do andar de cima) que ficavam cuspindo nas nossas cabeças pela janela (uma pista do que vai acontecer no final dessa história), e das conversas sinistras envolvendo demônios e a Dori do Procurando Nemo, nada de estressante aconteceu. Só que meu amigo, diz ele, não dormiu a noite toda, certa hora da madrugada alguém queria entrar no quarto e eu não vi nada. Relatos contam que eu não durmo, eu morro. Bom... isso não é relevante.

Dia seguinte, tomamos o nosso café da manhã com bolo formigueiro e o achocolatado pronto da Frimesa (gente, é muito ruim, nunca comprem nem tomem isso!), tomamos nosso caminho rumo ao cinema. Meu amigo estava mal, até entrarmos na sala e viajarmos a Pandora numa experiência indescritível. Santo remédio esse IMAX!

Nós ainda tínhamos uma hora e meia em Curitiba desde que retornamos à rodoviária. Resolvemos ver algum lugar bacana por perto, pois seria entediante ficar na rodoviária esse tempo todo. No balcão de informações turísticas descobrimos que o Jardim Botânico ficava próximo e caminhamos até lá.

Tinha acabado de chover em Curitiba. As poças de água se formavam pelos cantos das ruas e calçadas. No caminho, uma dessa calçadas estava intransitável, pois a chuva havia formado uma verdadeira lagoa. Meu amigo me disse: "Vamos ter que invadir a rua e correr se não quisermos nem nos molhar, nem morrer atropelados". Feito. Mas só foi invadirmos a pista, dezenas de carros já vinham em nossa direção. Gritei: "Atravessa a rua, atravessa a rua!". E seguimos para a calçada do outro lado da rua, que margeava a pista de ônibus, também alagada.

Respirávamos aliviados, por termos escapado de um terrível atropelamento até ouvirmos uma buzina insistente. Juntos pensamos: "Mas porquê a buzina se não estamos no meio da rua?". A resposta não tardou. Um ônibus biarticulado invadiu a pista alagada e secou-a nas nossas roupas. E nunca vi um ônibus com tantas rodas! Era água que não acabava mais!

Com cheiro de asfalto, visitamos o ponto turístico de Curitiba e voltamos a Joinville sem mais nenhuma desventura pra contar. E era só o que faltava ter mais alguma, né?
obs. 1: Adorei o transporte coletivo de Curitiba. Aquelas conexões entre os tubos são incríveis e a moça falando nas caixas de som a próxima parada são muito interessantes. Andar de ônibus em Joinville se tornou broxante agora (mais do que já era);
obs. 2: Em breve eu comento Avatar no Set Sétima.