terça-feira, 27 de abril de 2010

O caso crítico da Busscar

É só você prestar bastante atenção. Em algum momento da sua vida você já embarcou, ou ao menos já viu um ônibus Busscar, empresa com sede em Joinville, SC. Essa marca já foi uma das maiores exportadoras de carrocerias de ônibus da América Latina, só ficava atrás da gaúcha Marcopollo. O motivo nem era a falta de clientes: é que na Busscar o processo sempre foi artesanal: monta-se o ônibus conforme o desejo do cliente, inclusive alongando o chassi. Na Marcopollo, o processo segue as restrições das máquinas e da linha de produção massivamente mecânica.

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Não à toa, vários artistas nacionais encomendaram seus ônibus de viagens na Busscar. Até a Rede Globo tem um para o quadro Garota Fantástica, da revista eletrônica dominical da emissora.
São mais de 60 anos de história, produtos exclusivos rodando no mundo inteiro e uma marca de fazer tremer qualquer concorrente. A rodoviária de Joinville leva o nome daquele que foi o presidente da empresa por anos: Harold Nielson.
Estou eu contando uma história de alegrias e sucesso? Não. Infelizmente, não. Pelo menos no que se refere à ultima década.

Há menos de dois anos a Busscar tinha mais de 6 mil funcionários. E há menos de dois meses quase 2 mil participaram de um programa de demissão voluntária devido à situação econômica da empresa. Naquela época, a fabricante de carrocerias já não tinha seus 6 mil colaboradores.
Ninguém mais empresta dinheiro para a empresa joinvilense. O governo também não ajuda mais. Os funcionários estão desacreditados. As famílias que dependem da fábrica estão desesperadas. E o município teme uma situação de descontrole econômico na cidade. Ou seja, a história é mais triste e grave do que se pode imaginar.
O problema não vem de hoje. Em 2001 o negócio da família Nielson já não ia bem das pernas. Na ocasião, todas as esferas do governo: municipal, estadual e federal fizeram o possível para liberar ajudas e empréstimos milhonários para resgatar a empresa do vermelho.
Pouco tempo depois, tomou fôlego, mas já não era a mesma, apesar de querer se fazer "a empresa forte": contratou dezenas de funcionários, liberou horas extras descontroladas, não adotou nenhum forte procedimento de economia e houve até registros de chefias boicotando a empresa. Além da falta de organização na linha de produção e o visível descompromisso de muitos colaboradores com o trabalho. Isso que eu falo é fato. Apesar da falta de registros, foi justamente a época que, por 6 meses, eu trabalhei lá.
Não estou vomitando no prato que comi, até porque alguns de meus familiares ainda dependem da Busscar e desejo muito que ela volte a ser o que era em sua era de ouro. Mas minha crítica vai à administração desta fábrica.
É do conhecimento da maioria dos joinvilenses as fortes ligações evangélicas dos proprietários da Busscar com a igreja que frequentam. Tem um pastor que vive fazendo orações e dando conselhos para os funcionários. Isso não seria nada prejudicial se não fosse em demasia. Soube, há pouco, que o presidente Cláudio Nielson doou cerca de R$ 50 mil nesses últimos dias para o tal pastor. Além disso, a Busscar sempre patrocinou programas da tal igreja na África. A causa até é louvável se não houvesse tantas outras famílias precisando do bom senso da empresa aqui mesmo, na sua cidade-sede.
Como se não bastasse, há um lugar para orações no coração do parque fabril. Nada mau, se a pessoa não fosse liberada para, a qualquer momento, fazer a tal oração. Ao passar por lá, tenham certeza, ouvia-se mais roncos do que louvores.

Não foi somente a igreja, porém, que afundou a Busscar. Aí ainda tem alguma história mal contada. O mercado está aquecido (vide os índices das concorrentes, como Marcopollo e Comil), pedidos haviam aos montes, e o motivo da paralização da fabricação foi, nada mais, nada menos que... a falta de matéria prima. Isso mesmo! Não faltavam pedidos, não faltavam chassis. Na verdade havia até mais pedidos do que a capacidade de atendimento, e sempre tinha sido assim desde a retomada no início dos anos 2000. Mas a Busscar não pagava mais os fornecedores, e não tinha mais créditos com eles. Nem com os bancos. E nem com o governo, que já tinha dado todos os tipos de auxílio na última crise.
Venderam a recreativa pela metade do que valia (o Grenil, um belo espaço para funcionários e familiares) para quitar dívidas e está à espera de um repasse federal referente ao IPI, que continuava sendo cobrado da Busscar, mesmo com a insenção.
Ainda assim, a soma da dívida é maior que este valor, e maior que o valor do próprio patrimônio. Muitas soluções já foram apresentadas, mas parece que o Sr. Cláudio Nilson prefere achar que vai ganhar o céu doando R$ 50 mil para seu pastor, do que ajudando as milhares de famílias que dependem daquele emprego. É lamentável.

O Sindicato dos Mecânicos sugeriu abrir o capital (a empresa é Sociedade Anônima de Capital Fechado), vender a marca (segundo boatos, a Marcopollo tinha interesse), enfim... era só ter vontade de agir. Já disse Carlito Merss, prefeito de Joinville: "O problema da Busscar não é do mercado, é administrativo". E é fato: não há uma organização de comunicação institucional, o próprio alto escalão da empresa está sem informações, a comunidade não tem satisfação de nada, a imprensa está às cegas (e sempre teve, mesmo nos bons momentos o atendimento aos veículos de comunicação era péssimo) e isso demonstra tudo aquilo que a empresa é e aquele lugar para onde, sem mudanças de atitude, eles nunca vão chegar: o sucesso.

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