sábado, 20 de outubro de 2012

A “Avenida Brasil”, o futebol e as coisas supervalorizadas pela TV


Nesta sexta-feira, 19 de outubro de 2012, a Rede Globo apresentou o último capítulo de “Avenida Brasil”, novela do horário das 21h, escrita por João Emanuel Carneiro, mesmo autor de “A Favorita”. A repercussão da novela nas redes sociais foi um fenômeno. Durante a sexta em que seria exibido o capítulo final do folhetim, entre os assuntos mais comentados do dia, dois ou três eram relacionados à novela.
A imprensa nacional e internacional noticiou a popularidade e o alcance do programa. Portais de economia alertavam para o risco de apagão por conta da sobrecarga de energia no instante seguinte ao término da atração, quando as pessoas iriam começar a acender as luzes, tomar banho, passar a roupa do dia seguinte. Programas jornalísticos e de variedades falavam dos mistérios do desfecho da história.
Isso motivou uma onda de protestos vindos de pessoas que, ao meu ver, não teriam muita moral para ficar reclamando do fato de a novela tomar tanto espaço nas redes sociais, na internet, no jornal e na TV.

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Ora, no que difere a alienação provocada por um final de novela e um final de campeonato brasileiro, ou um clássico local ou nacional de futebol, ou até mesmo a Copa do Mundo? Por que para estes espetáculos esportivos o jornalismo pode ceder espaço e para a novela não?
Aliás, a novela entra na pauta dos jornais televisivos e nas páginas principais dos importantes impressos uma vez ou outra. Já o futebol está permanentemente, diariamente, ocupando um espaço de prestígio em todas as formas jornalísticas. E não é só nos programas esportivos.
Em Joinville, por exemplo, o Jornal do Almoço, da RBS TV, dedica um bloco inteiro, de aproximadamente 10 minutos, para falar do esporte local, sendo que instantes depois a mesma emissora vai exibir um programa com quase 20 minutos de duração para falar só de esporte.
Enquanto isso, a política, a cultura, a economia da cidade só entram em pauta em situações específicas, como na época eleitoral.

Isso não é uma crítica à RBS TV. Não me incomoda que as coisas sejam assim. Só acho incoerente que as pessoas vejam isso diariamente e não se incomodem, enquanto uma vez a cada ano, durante um único dia, o jornalismo dê espaço para o final de uma novela e todo mundo fique contrariado porque estão falando disso em detrimento a outros assuntos importantes.
Também não penso que seja desperdício da parte da Globo investir nos folhetins. Alguns “críticos de redes sociais” estão divulgando imagens “denunciando” que a emissora gasta muito dinheiro com novela enquanto tem gente passando fome. Tenha a santa paciência! O que a Globo tem a ver com as pessoas passando fome? Ela pode denunciar, mostrar (nem sempre faz, é verdade), mas não é papel dela alimentar os que passam fome. Se for pensar assim, não devemos mais fazer música, cinema, nem jornalismo, porque isso gasta um dinheiro que não é pra dar comida a quem tem fome.
Da mesma forma, não quero entrar no mérito de que esse espaço todo à “Avenida Brasil” tenha sido dado unicamente por conta de interesses publicitários, ou o quanto isso mostra que a Rede Globo está mais preocupada com as novelas do que com o jornalismo e as incoerências dos seus projetos sociais. A questão aqui não é a Globo, nem qualquer emissora, site, ou rede social que tenha dado espaço ao desfecho da história de João Carneiro. A questão são as pessoas. Na sua hipocrisia, criticam uma novela enquanto o jornalismo, diariamente, está cheio de coisas inúteis.

O jornalismo precisa de reformas. Mas não é por causa das novelas.

Dito isso, é preciso esclarecer que não me incomodei com o auê que fizeram por causa da novela. Afinal, no dia seguinte tudo voltou ao normal (com a Copa ou a final do Campeonato Brasileiro isso não aconteceria). Também não acompanhei a novela e não sabia o nome de mais do que três personagens. Isso, no entanto, não quer dizer que eu não goste ou não acompanhe novelas. Tenho, sim, minhas prediletas.

A minha indignação com as formas de se fazer jornalismo que eu vejo em muitos veículos é diária. E acreditem: a novela é a que menos contribui pra isso.

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4 comentários:

Anônimo disse...

Achei muito boa a matéria... #digno
Paulo Balestre.

Anônimo disse...

"Alguns 'críticos de redes sociais' estão divulgando imagens 'denunciando' que a emissora gasta muito dinheiro com novela enquanto tem gente passando fome. [...] mas não é papel dela alimentar os que passam fome. Se for pensar assim, não devemos mais fazer música, cinema, nem jornalismo[...]."
E devemos fechar as portas da Fiat, da Wolks, da IBM e até da Sadia, Perdigão, MacDonalds. Todas estas são indústrias, assim como as redes de comunicação, e se diferem apenas pelo serviço prestado. Globo, SBT, Fiat e Sadia possuem o mesmo propósito industrial, mas ninguém reclama se a industria automobilística gasta muitos recursos da criação de carros superfaturados, ou na qualidade da comida processada da Sadia. E ninguém diz nada sobre os lucros exorbitantes dessas empresas ou como tem gente passando fome enquanto elas lucram!
Existe sobre a comunicação uma nuvem de pré-conceitos sustentada por pseudo-intelectuais que ainda teimam em seguir teorias ultrapassadas de recepção, como a Teoria Crítica de Frankfurt, que falava sobre alienação das massas e dominação pela mídia.
É óbvio que a mídia tem poder, mas o cidadão tem ainda mais. Com um único dedo, ele pode enfrentar e facilmente vencer qualquer produto televisivo.
O senso comum das pessoas, no entanto, aprendeu a culpar a mídia pelos erros que elas mesmas cometem.
Meu modo de pensar é simples e direto: a mídia não aliena ninguém. Ela apenas se aproveita do público alienado.
Mas aí me resta a pergunta: o que é alienação? Porque eu, na última sexta-feira, diante de todo o burburinho sobre o final da novela, me senti alienado por estar de fora de toda esta discussão, pois nada havia eu acompanhado e também só sabia o nome de uns 3 personagens.

Falei demais, como sempre! hehe

Juliano Reinert disse...

Falou demais, mas falou bonito. Acho muito válidas as tuas contribuições! Ótimo!

Unknown disse...

Eu concordo com o comentário supra citado, vemos hoje muitas pessoas indicarem a tv com o motivo de alienação única e exclusiva,porém a sociedade se dispersa com qualquer coisa que lhes proporcione prazer fácil e sem trabalho.O fato é que a maioria deixou de ser pensante, para ser apenas errante e ou ¨reclamante¨, tendo em vista que nenhum cidadão está satisfeito com os serviços básicos oferecidos pelo governo, como: Saúde, educação e e outros.
Porém vemos a mídia se aproveitando deste momento de nossa história, onde é mais fácil ficar em casa e "aceitar" o que o governo impõe, e não sair de seu conforto e ir para as ruas e reinvidicar uma melhora, tendo em vista que o povo infelizmnte, mal instruido não tem noção do poder que tem.