quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Católico, sim. Acrítico, não


Eu vou escrever sobre a renúncia do Papa. E quando eu escrever sobre o assunto, compartilharei nas minhas redes, compostas por pessoas das mais variadas: amigos dos tempos de escola, de colégio, de faculdade, pessoas que acompanharam em minha trajetória profissional, outras que ainda caminham comigo, familiares, membros da igreja que participo. Essas pessoas são católicas, evangélicas, espíritas. Algumas acreditam em Deus, mas não têm religião. Outro grupo é composto por ateus. Tem gays, lésbicas, heterossexuais, negros, velhos, novos, casados, solteiros, enfim. Amantes de literatura e cinema e outros avessos a isso. Eu conheço muita gente, graças a Deus. E por todos nutro um respeito ímpar.

Sou católico e jornalista. E o que isso tem a ver? Que tenho em mim a formação cristã, que crê em Deus e respeita a Sua Palavra, mas, tão importante quanto isso, sou crítico – natureza de jornalistas (ou deveria ser). Valorizo a sabedoria, um dos dons do Espírito Santo e graça muito valorizada por Deus, tanto que foi o pedido de Salomão que mais agradou a Deus e na Bíblia existe até um livro chamado “Sabedoria”, escrito pelo próprio Salomão.

E a sabedoria vem do questionamento, da leitura, do “ver os dois (ou mais) lados da história”. Ainda assim, como diz Tolkien, nem os mais sábios conseguem ver tudo.
Exatamente por isso que não vou conseguir agradar a todos. E não se espantem, porque na vida as coisas são assim. E não há como eu manter uma amizade e um respeito por todos esses diferentes grupos de pessoas se eu não respeitar a opinião de cada um. Da mesma forma, não há como todos esses grupos de pessoas gostarem de mim se não respeitarem os meus pensamentos, fartamente influenciados pela minha fé católica, mas também pelos meus estudos e convivência.

Como diz o ditado, se nem Cristo agradou a todos, quem sou eu para fazer isso?

Vi um contato meu, no Facebook, compartilhar um texto que dizia que não há como ser católico e “de esquerda” ao mesmo tempo, que isso é uma orientação papal. Ora, então eu não sou católico, afinal, me identifico muito mais com uma visão política de esquerda. E ser taxativo ao afirmar isso é tão incoerente com o conceito de sabedoria – como eu já disse aqui, bem apreciado por Deus – quanto qualquer outra coisa estúpida que possa ser dito. É ignorar contextos históricos e sociais nos quais os Papas de outrora disseram isso. É negar as especificidades da Igreja nas diferentes regiões do mundo. É negar o Concílio Vaticano II que determinou que a Igreja deveria estar mais próxima dos fiéis. É negar a experiência de santos, como Santa Paulina, Madre Tereza, São Francisco de Assis.

Desculpem meus amigos cristãos, mas eu critico a Igreja. Não destrutivamente, claro. Porque quero o melhor para ela e quero que ela seja cada vez melhor para o mundo. Mas também peço desculpas aos meus amigos esquerdistas porque eu sou contra o aborto, por exemplo. Se quiserem, posso falar melhor sobre isso em outra oportunidade, mas apenas sinalizei isso aqui para dizer: a partir desse ponto, vocês podem entender melhor meus pensamentos.

Dito isso, podemos conversar. Amanhã falo sobre o Papa. E, afinal, os comentários estão aqui para – de modo saudável – debatermos.

Deus abençõe a todos.