domingo, 30 de novembro de 2014

Um adeus sob lágrimas ao eterno Chaves

Por causa dessa vida corrida e cruel só soube da morte de Roberto Bolaños, o eterno Chaves, no sábado, dia 29. Fiquei sentido, afinal, o ator foi o responsável por alguns dos grandes momentos da minha infância e me acompanha até hoje, diariamente, na minha vida.

Mas foi somente neste domingo, 30, que a ficha caiu. Ao ver um vídeo produzido pelo SBT homenageando o ator e contando um pouco da trajetória dele, chorei. Mas chorei muito. Copiosamente. Solucei, abracei a minha mãe e chorei mais. Nunca, em toda a minha vida (graças a Deus), eu fiquei tão triste com a morte de alguém.

Cheguei a questionar à minha mãe: “Por que a gente chora por alguém que nem conhece?”. E ela respondeu: “Porque somos humanos. Somos sensíveis.”

Mas não era só por isso.

(Devo confessar para vocês que comecei, neste momento, a chorar de novo. Vai ser difícil escrever esse texto, mas vamos lá).

Chaves representa tudo o que há de mais importante na minha infância. Já contei em outras ocasiões aqui que eu nunca fui menino da rua. Minha diversão era ficar em frente à TV. Nem podia fazer algo diferente. E nessa realidade, Bolaños sempre foi uma das minhas companhias prediletas.

Cada situação, cada “pegação no pé” entre as crianças da Vila retratavam exatamente aquilo que acontecia na escola. Um coleguinha querendo tirar sarro do outro, alguém sempre tentando levar vantagem, outra pessoa que era a encarnação de alguma crença/lenda – tal qual a Bruxa do 71 – enfim... O que acontecia na Vila era mais ou menos o que eu vivia diariamente. No fim das contas, tudo terminava em brincadeira. Tudo era uma brincadeira. Com muita inocência, muitos sorrisos, muita diversão, muita inocência.

Ao chegar em casa, embora muitos dos meus colegas de classe já preferissem “Malhação”, eu ainda fugia da série da Globo. Junto ao meu café da tarde, normalmente pão fatiado com doce de leite, ainda vestindo uniforme da escola, estava Chaves. Depois Chapolin. Só fui conhecer “Malhação” depois que o SBT mudou o horário do seriado mexicano.

Cresci rindo das idiotices do Quico, das trapalhadas do Chaves e com a bondade maliciosa do Sr. Madruga. Me afino até hoje com os episódios do choque (Curto Circuito), em Acapulco e com um outro em que o Quico questiona a insistência do Professor Girafales de só presentear Dona Florinda com flores, enquanto essa sempre oferece apenas café ao namorado: tudo fruto da criatividade e do humor simples e familiar criado por Bolaños.

Por favor, poupem-me de acusações de machismo ou homofobia dos textos dele. Apenas parem de dar um tom político a uma série que nunca teve tal pretensão (embora nos fizesse ter nós na garganta com questões sobre a pobreza e a fome). Também não me façam crer ainda mais na chatice do mundo dizendo que temos que valorizar mais as coisas daqui. Sabem por quê? Porque o que eu mais valorizo de verdade, e o que mais importa para mim, é aquilo que está no meu coração.

O Chespirito, o Chaves, o Chapolin me fizeram dar sorrisos sinceros. Me trouxeram a companhia em momentos de solidão, foram meus amigos de brincadeira e sentaram-se comigo à mesa do café (na verdade, sentam até hoje). Esses são sentimentos tão sinceros quanto as lágrimas que derramei neste domingo.

Lembram do meu texto sobre a Hebe Camargo em que eu falava que um pouco da televisão brasileira havia morrido com ela? Então... a morte de Bolaños me fez ver uma dura realidade: aos poucos a minha infância – que existe em mim até hoje – também está morrendo. Pelo menos eu tenho as memórias felizes e esperançosas que me fazem, dia após dia, ser um adulto melhor.

Vá em paz, Roberto Bolaños. Porque desde que nasceu, você sempre trouxe mais paz e alegria para a nossa alma. E isso nunca poderá ser mudado.