Por causa dessa vida
corrida e cruel só soube da morte de Roberto Bolaños, o eterno
Chaves, no sábado, dia 29. Fiquei sentido, afinal, o ator foi o
responsável por alguns dos grandes momentos da minha infância e me
acompanha até hoje, diariamente, na minha vida.
Mas foi somente neste
domingo, 30, que a ficha caiu. Ao ver um vídeo produzido pelo SBT
homenageando o ator e contando um pouco da trajetória dele, chorei.
Mas chorei muito. Copiosamente. Solucei, abracei a minha mãe e
chorei mais. Nunca, em toda a minha vida (graças a Deus), eu fiquei
tão triste com a morte de alguém.
Cheguei a questionar à
minha mãe: “Por que a gente chora por alguém que nem conhece?”.
E ela respondeu: “Porque somos humanos. Somos sensíveis.”
Mas não era só por
isso.
(Devo confessar para
vocês que comecei, neste momento, a chorar de novo. Vai ser difícil
escrever esse texto, mas vamos lá).
Chaves representa tudo
o que há de mais importante na minha infância. Já contei em outras ocasiões aqui que eu nunca fui menino da rua. Minha diversão era
ficar em frente à TV. Nem podia fazer algo diferente. E nessa
realidade, Bolaños sempre foi uma das minhas companhias prediletas.
Cada situação, cada
“pegação no pé” entre as crianças da Vila retratavam
exatamente aquilo que acontecia na escola. Um coleguinha querendo
tirar sarro do outro, alguém sempre tentando levar vantagem, outra
pessoa que era a encarnação de alguma crença/lenda – tal qual a
Bruxa do 71 – enfim... O que acontecia na Vila era mais ou menos o
que eu vivia diariamente. No fim das contas, tudo terminava em
brincadeira. Tudo era uma brincadeira. Com muita inocência,
muitos sorrisos, muita diversão, muita inocência.
Ao chegar em casa,
embora muitos dos meus colegas de classe já preferissem “Malhação”,
eu ainda fugia da série da Globo. Junto ao meu café da tarde,
normalmente pão fatiado com doce de leite, ainda vestindo uniforme
da escola, estava Chaves. Depois Chapolin. Só fui conhecer
“Malhação” depois que o SBT mudou o horário do seriado
mexicano.
Cresci rindo das
idiotices do Quico, das trapalhadas do Chaves e com a bondade
maliciosa do Sr. Madruga. Me afino até hoje com os episódios do
choque (Curto Circuito), em Acapulco e com um outro em que o Quico
questiona a insistência do Professor Girafales de só presentear
Dona Florinda com flores, enquanto essa sempre oferece apenas café
ao namorado: tudo fruto da criatividade e do humor simples e familiar
criado por Bolaños.
Por favor, poupem-me de
acusações de machismo ou homofobia dos textos dele. Apenas parem de
dar um tom político a uma série que nunca teve tal pretensão
(embora nos fizesse ter nós na garganta com questões sobre a
pobreza e a fome). Também não me façam crer ainda mais na chatice
do mundo dizendo que temos que valorizar mais as coisas daqui. Sabem
por quê? Porque o que eu mais valorizo de verdade, e o que mais
importa para mim, é aquilo que está no meu coração.
O Chespirito, o Chaves,
o Chapolin me fizeram dar sorrisos sinceros. Me trouxeram a companhia
em momentos de solidão, foram meus amigos de brincadeira e
sentaram-se comigo à mesa do café (na verdade, sentam até hoje).
Esses são sentimentos tão sinceros quanto as lágrimas que derramei
neste domingo.
Lembram do meu texto sobre a Hebe Camargo em que eu falava que um pouco da televisão
brasileira havia morrido com ela? Então... a morte de Bolaños me
fez ver uma dura realidade: aos poucos a minha infância – que
existe em mim até hoje – também está morrendo. Pelo menos eu
tenho as memórias felizes e esperançosas que me fazem, dia após
dia, ser um adulto melhor.
Vá em paz, Roberto
Bolaños. Porque desde que nasceu, você sempre trouxe mais paz e
alegria para a nossa alma. E isso nunca poderá ser mudado.