Eu havia dito que não falaria mais sobre a Wanessa Camargo aqui no blog. Não se tratava de boicote ou qualquer coisa do tipo. Apenas foi uma decisão levando em consideração o fato de que ela parou de tocar nas minhas playlists. Da mesma forma que eu não falo, sei lá, de Aerosmith, também não havia mais sentido eu falar de alguém que não faz mais parte da minha vida musical.
Mas é impossível acompanhar um artista por 15 anos ininterruptos e ficar alheio ao que ele faz ou diz, não é mesmo? Se você consegue, lamento, mas eu não.
Contudo, o que tenho a dizer da Wanessa Camargo e da sua Mulher Gato, nova música de trabalho da cantora, não é nada que eu já não tenha dito.
No último post que tratei dessa artista, discorri sobre o fato de que é perceptível que ela transita por gêneros diferentes conforme o movimento do público. Então, se o pop romântico está em alta (época do Sandy & Junior, quando ela foi lançada), é lá que ela fica. Quando o pop internacional caiu nas graças dos brasileiros (gays, especialmente), lá foi Wanessa cantar em inglês para este público! Porém, até então, eu estava achando tudo muito orgânico, e até explico isso neste post.
O problema foi quando o feminejo ganhou espaço nas rádios brasileiras e ela decidiu jogar no lixo o público, o carinho, o respeito, o lugar que ela tinha conquistado como diva pop para lançar um álbum de qualidade, no mínimo, duvidosa (que me recusei a comentar aqui no blog, apesar de ter ouvido). O trabalho de divulgação, felizmente (para ela), funcionou e Wanessa acabou acumulando alguns bons números. Entretanto, apesar de positivos, nada que se assemelhasse à Noite de Patroa ou aos 50 Reais.
Daí que Anitta começou a despontar fora do país, o grupo Rouge voltou com força, lotando shows em turnê por todo o Brasil, Pabllo Vittar conquistou reconhecimento além-fronteiras, novos nomes começaram a surgir e dominar rádios e charts e Wanessa, o que fez? Resolveu voltar ao pop. Confesso a vocês que eu já previa isso, portanto, não foi surpresa nenhuma.
Claro, não foi uma decisão impensada: a crise econômica por qual o Brasil passou pegou em cheio os sertanejos, conforme ilustra bem claramente esta matéria do G1.
Então, se não havia muito sinal de oportunidades entre gaitas e violas, melhor voltar às boates, não é mesmo?
A Mulher Gato
Wanessa Camargo volta ao pop com a música Mulher Gato. Num primeiro olhar, podemos dizer que a música não é de total mau gosto. Ela é um símbolo da independência sexual feminina. É uma letra forte, que mostra que a mulher tem o direito de sentir prazer e desejo, de fantasiar e sair do feijão-com-arroz de todo dia. Mas se observarmos através de uma lente mais ampla, vamos ver que isso pode não ser tão orgânico assim, e representar mais o chamado “ativismo de telão” do que um discurso vindo de uma necessidade de dar voz às mulheres.
Vamos ligar os pontos: na época em que estava tentando se firmar como cantora pop dos gays, Wanessa chegou a participar de conferências junto a Jean Wyllys no Congresso Nacional e afirmava que estava interessada em conversar com a então presidente Dilma Rousseff para tratar de temas caros aos direitos dos gays e das mulheres.
Wanessa, orgulhosa de ter votado no Aécio, aquele que queria matar o primo, conforme áudios da PF. |
Daí querer voltar ao pop depois de dar as costas a um público que a acolheu e cantar uma letra dita feminista depois de dar voz a pessoas que não estão nem aí para o direito das mulheres é no mínimo vergonhoso. E aqueles versos que deveriam representar liberdade sexual passam a ser nada mais do que vulgaridade.
A diferença entre empoderamento e vulgaridade está no quão natural e verdadeiro é o discurso. Se observarmos os últimos movimentos de Wanessa Camargo, pode até ser que exista alguma verdade no que ela diz (a influência de Madonna acaba fazendo um mea culpa), mas o que aparenta é apenas oportunismo.
E, desse jeito, vai ser difícil conquistar novos públicos.
Qual vai ser o próximo gênero: depois do retorno triunfal de Ivete Sangalo, o axé?