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quinta-feira, 13 de junho de 2013

Os protestos em São Paulo e os tipos de pessoas

Foto: Bruno Passos, do blog Papo de Homem, que
participou de um dos dias do protesto. Pacificamente.

Tenho acompanhado os protestos em São Paulo contra o aumento da tarifa do transporte coletivo e venho sentindo uma inveja (das boas) da galera de lá. Meu sonho é que a população joinvilense fosse politizada e mobilizada dessa forma.
Porém, a grande imprensa tem divulgado notícias sobre as manifestações com aquele jeitinho joinvilense de pensar: todos baderneiros, jovens sem causa, arruaceiros, vândalos. Como eu disse esse dias, estão fazendo um recorte bem tendecioso de tudo o que está acontecendo na capital paulista.
Eu torço de verdade para que o movimento consiga alcançar o objetivo que almeja, que a tarifa seja revogada e que São Paulo seja referência de mobilização para o restante do país. Mas também torço para que, um dia, essa imprensa suja e escrota que existe e mina a cabeça de pessoas menos críticas mude sua forma de pensar, ou sucumba de vez, dando espaço a um jornalismo independente e comprometido com a prestação de serviço.
Enquanto meus sonhos não são realizados, pipocam na rede textos que retratam o avesso daquilo que a grande imprensa mostra. Mas o mais completo, profundo e reflexivo que eu li nestes últimos dias é este que apresento para vocês aqui. Ele é de autoria do Rafael Fontenelle e eu tomei conhecimento desse texto primoroso a partir de um compartilhamento de um dos meus contatos no Facebook. Eu não conheço o Rafael, mas ele me autorizou, com bastante gentileza, que eu transcrevesse as palavras dele aqui no Andarilho.
Espero que vocês gostem e que essa discussão fique ainda mais calorosa. Nós precisamos disso para, aos poucos, mudarmos o Brasil. É meu sonho!

Fico aqui vendo as fotos e os comentários sobre o protesto sobre o preço do transporte público em São Paulo, e pensando que o Brasil dá errado porque a maioria das pessoas não sabe ser.
Primeiro você tem as pessoas que são ignorantes. Não num sentido pejorativo, digo das pessoas que receberam nenhuma ou pouca educação ou tiveram nenhum ou pouco acesso à nossa chamada cultura, ou aos trâmites internos da sociedade. Essas pessoas representam uma grande maioria, e infelizmente ficam facilmente sugestionadas à malícia de outras, mais esclarecidas de como o "sistema" funciona, que usam isso em favor delas.

Daí você tem as pessoas burras. A pessoa burra é aquela que vai numa manifestação sobre o preço do transporte público em São Paulo, ou numa manifestação contra o policiamento na USP, porque acha que manifestação significa baderna. E vai com o único intuito de quebrar tudo. Ou então tem algum ideal vazio, e aproveita dele para ir lá e: quebrar tudo. Ele não quer saber pra que é aquilo, se tem uma causa política, se tem um contexto, ou se vai machucar alguém, tanto do movimento, quanto da polícia. A pessoa burra quer quebrar tudo. Essa pessoa, além de burra, é perigosa, porque descredita qualquer possibilidade de bom uso das causas, e dá armas pra determinados veículos de imprensa fazerem uma série de generalizações. A pessoa burra dá tiro no pé. Ela depreda o bem que ela pagou pra ser feito, que vai pagar pra consertar. Ela queima o ônibus onde ela mesma anda e reclama da lotação.

Daí vem as pessoas muito burras. A pessoa muito burra é aquela pessoa que é esclarecida o suficiente, e
Foto: Agência Brasil.
ainda assim assiste a televisão ou vê na internet sobre o caos e a baderna na Paulista, ou na USP, e acredita piamente que aquelas pessoas TODAS realmente saíram de suas casas apenas para ir lá e quebrar tudo. Apenas para isso. A pessoa muito burra acha MESMO que dezenas, centenas, ou milhares de pessoas são baderneiros, ou maconheiros, e que ainda bem que existe a santa polícia pra salvar o dia, e acha que bala e gás lacrimogênio é pouco. Acham 20 centavos uma mixaria, e o protesto um absurdo, pois aumentos são naturais. Não passa pela cabeça delas as pessoas que dependem desses 20 centavos diários, ou a péssima qualidade do transporte, ou quantos meios de transporte a pessoa é obrigada a pegar por dia, ou sequer se esse aumento simplesmente é ou não justo frente às concessões e ilegalidades que faz parte do governo deste país, desde sempre, independente de partido. E a pessoa muito burra, apesar de esclarecida, parece que não sabe que o voto, os direitos trabalhistas, as férias, dentre tantas coisas, foram conquistadas por meio de "badernas".

Daí tem outras duas classes de pessoas, menos perigosas, cada uma para o seu lado. Os alienados, que veem tudo e optam por achar que o mundo é assim mesmo e é uma bosta e deixam pra lá, e os internéticos, que veem tudo na internet, assinam petições, e ficam putos, cada um pro seu lado, mas se movem o máximo que a tela do computador permite (eu certamente, infelizmente, me enquadro nesse último).
Mas o problema maior do país são duas classes muitíssimo infelizes e perigosas de pessoas, que são o tomador de conta e o oposicionista.

O tomador de conta não liga muito pra em que época ou século ele está, nem pro que está acontecendo no mundo. Ele liga pra vida dos outros. O tomador de conta quer decidir por si mesmo quem tem direito a que, quem deve ir aonde, quem deve casar, quem deve sair na rua, quem deve ser preso, e quem deve morrer. Ele se sente desrespeitado pela mera existência de uma pessoa que não pensa igual ele. Mesmo que nunca a tenha visto na vida. Ele toma conta da vida dos outros, porque a dele é completamente vazia. E, nessa vida vazia e sem contexto, ele quer impor o seu pensamento ao pensamento dos outros. Nos tomadores de conta está a temível subcategoria dos xiitas, que não apenas tomam conta e apontam dedos, mas usam de suas armas para fazer sua vontade. Mas não fazem sua vontade na própria vida, nem fazem dela melhor. Toda a energia vai é pra vida do outro. Já que a dele tá mesmo uma grande bosta.

O oposicionista é o cara cuja única função no mundo é: opor. Ele não tem nenhuma ideia plausível de como mudar o país, ou a política, ou talvez nem o próprio armário. Se tiver, a ideia é de alguém que não é do partido que ele gosta, mas do partido contrário àquele que ele odeia. O que ele faz é: culpar uma coisa, em detrimento de outra. O oposicionista é aquele cara que ficou preso lá atrás, na época em que direita e esquerda faziam sentido, e que o PT e o PSDB representavam antípodas políticas no Brasil. Se mantendo nesse viés, tudo que o oposicionista faz é pegar todo e qualquer tipo de situação e culpar no governo de [insira aqui um partido ou um político conhecido]. O oposicionista da esquerda acha que é tudo culpa da direita, deste governo maléfico e aproveitador, que engole tudo e todos. Reaças. Tudo que TODOS os tucanos querem é denegrir a sociedade em proveito próprio e só isso. O oposicionista da direita, na contra mão, acha que é tudo culpa da esquerda, claro; este governo assistencialista ignorante, com suas falsas políticas de valorização de massas. Tudo culpa deles. Petralhas. Esse acha que a ditadura dos pobres está sendo maleficamente arquitetada a cada minuto. E tudo, TUDO, é culpa do Lula.

Daí, no fim de tudo, todo mundo se pergunta: é esse o país que vai sediar a Copa? Sendo que na verdade esse “país” que vai sediar a Copa tão precariamente (tanto pros que acham que vai faltar verba quanto pros que acham que isso nem deveria existir aqui, por não ser prioridade) só é essa belíssima bosta por nossa culpa. O cara que tá lá na Paulista protestando contra o aumento da passagem tá pelo menos exercendo o direito DELE, de protestar contra o governo que o representa. Em voz alta, em plena visibilidade, sem apontar dedo pra ninguém além dele mesmo. Tudo que ele quer é o direito dele, ou pelo menos ser convencido do porque esse direito foi mais limitado. Daqui até a Copa, qual tipo de brasileiro a gente vai ser?


*Este texto é de autoria de Rafael Fontenelle e foi publicado originalmente no perfil dele no Facebook.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Leonel e o ninho de cobras


Leonel Camasão é filiado a um partido recente, pequeno e com ideias e propostas desconhecidas da grande maioria. O problema é que, ao apresentar as ideias e a forma de trabalhar do PSOL, o povo joinvilense tenha ficado um tanto espantado.

Isso porque não é natural em Joinville que se discuta temas como igualdade, respeito, limites entre público e privado e defesa das minorias em prol do todo. Joinville é a cidade do individualismo e, infelizmente, usar o espaço político para mudar essa mentalidade, embora necessário e ideal, não é vista com simpatia e acaba afugentando votos.
Assim, quando Leonel propõe reduzir o salário do prefeito e acabar com as secretarias regionais, o povo se assusta. Ora, apesar de eu achar interessante a justificativa para a permanência e criação das secretarias regionais, nada do que foi proposto acontece. Elas têm pouca autonomia e servem basicamente para trampolim político dos secretários num futuro cargo de vereador e cabide de empregos, inchando a folha de pagamento da prefeitura.

Mas as secretarias foram criadas por Luiz Henrique e o nome dele parece ser imaculado na Cidade dos Príncipes. Não sei por quais motivos, afinal, foi este sujeito que deu autonomia para as empresas de ônibus agirem do modo como agem hoje em dia, por exemplo, reclamando o preço da passagem que bem entendem e tratando os usuários como se fossem sardinhas.

Leonel é contra tudo isso. E pode até existir gente que concorde com as ideias dele, mas teme duas coisas: a primeira de todas é a “perda de voto”. Já que Leonel não está bem colocado nas pesquisas, pensam que vão jogar o voto fora. Malditas pessoas que votam tendo a pesquisa eleitoral como condicionante! Se todo mundo que pensasse assim efetivamente votasse em Leonel, se não o levasse à prefeitura, pelo menos o colocaria numa boa posição.
O outro motivo é o comodismo. É muito mais fácil viver numa Cidade dos Príncipes. E por que eu repito esse título? Porque somos súditos. Meros súditos do empresariado dessa cidade, dos donos das terras, dos imóveis, das igrejas e das empresas. Aprendemos e nos acostumamos e obedecer. Votar diferente significa sair da realidade de formigas: acostumadas a andar enfileiradas, se perdem quando aparece qualquer obstáculo no caminho. Assim é o joinvilense: prefere ser comandado a tomar frente da situação e decidir que as coisas devem ser diferentes.

Estamos inseridos em uma realidade de preconceito, fundamentalismo e autoritarismo. Por anos fomos comandados por oligarquias no Estado. E continuam os mesmos nomes, ainda que corruptos e com atuações questionáveis – tal como Tebaldi e Luiz Henrique – a governar o povo joinvilense e catarinense. Nesta realidade, Leonel pode ter dificuldades em governar. Não duvido que o governador do Estado, Raimundo Colombo, que é do mesmo partido do candidato Kennedy Nunes, esqueça ainda mais Joinville. Os investimentos do Estado para nós já são ínfimos; temo que Leonel na prefeitura possa causar ainda mais desagrado aos poderosos.
Será um grande desafio para ele lidar com isso: a Acij influente, que vai querer abatimento de impostos dos ricos, enquanto os pequenos empresários terão que pagar a conta não paga pelas multinacionais que porventura queiram se instalar aqui. Leonel terá escolhas difíceis e pode ter que conviver quatro anos em um ninho de cobras. Cobras que maioria dos joinvilenses alimenta a cada dois anos com as eleições em todas as esferas do poder.

Aqui nos cabe apenas refletir. Leonel tem boas propostas, boas ideias e traz um modelo de governo necessário para que Joinville seja mais educada, mais humana e justa. Mas sobreviverá ele a uma realidade de individualismo e autoritarismo predominantes no âmbito político estadual e federal no qual a cidade está inserida?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

"O Andarilho" é abertamente CONTRA a candidatura de Tebaldi

Ainda falta falar de mais três candidatos ao cargo de prefeito de Joinville, mas antes que chegue a vez dele, é preciso deixar claro que este blog fará de tudo para contribuir com A NÃO ELEIÇÃO DO DEPUTADO MARCO TEBALDI.

Além dessa imagem referente ao Código Florestal, que ele votou a favor, tem os processos judiciais movidos contra ele, e o candidato insiste em dizer que isso é normal. Não sei de onde.
Além disso, enquanto prefeito, Joinville esteve constantemente envolvida em escândalos, seja por conta da corrupção ou por compra de vaga do time de Joinville em campeonato de futebol.
Tebaldi fez asfalto casca de ovo, começou e esqueceu a obra no São José (e agora diz que vai terminar), ergueu o prédio do PA do Aventureiro, não equipou e diz que o pronto atendimento é realização dele (sendo que sem médicos e equipamentos, de nada valem as paredes).

Tebaldi construiu a Arena, uma jogada (com perdão do trocadilho) extremamente eleitoreira. A obra está cheia de sérios problemas estruturais, cuja reforma completa custaria o o que foi gasto até o momento com a construção.
E as escolas que começaram a ser interditadas no início de 2009? Como seria culpa do governo atual com poucos meses de casa? Claro que foi Tebaldi que permitiu que as coisas atingissem tais níveis alarmantes. Além das enchentes, que ele nunca sequer tentou resolver.

Tebaldi foi um dos prefeitos que mais aumentou a passagem de ônibus e o serviço prestado nunca melhorou. Tebaldi deixou uma dívida milionária para a prefeitura e amargava índices de rejeição na eleição de 2008 por conta de sua péssima atuação.


O ANDARILHO NÃO QUER TEBALDI NOVAMENTE! PELO BEM DE JOINVILLE, VAMOS TIRAR TEBALDI DO SEGUNDO TURNO!

domingo, 30 de setembro de 2012

Udo: a menina dos olhos de Luiz Henrique


Está tudo lá: um gesto marcante (antes as mãos juntas “por toda Santa Catarina”, agora, a batidinha na palma da mão “com mãos limpas”), a cartilha do Plano 15 e a ideia de passar a imagem de um político “gente como a gente”. Tudo bem, isso pode ser somente coincidências de marketing. Mas é inegável que Udo Döhler é um bonequinho de Luiz Henrique que, estando no senado, precisa de um discípulo fiel aqui na maior cidade de Santa Catarina para garantir seu reduto eleitoral.

Ao contrário do que aparece na propaganda eleitoral, Udo não é um cara que sai andando pela sua indústria ou por seu hospital cumprimentando e conversando com todo mundo. Sequer é visto com frequência. E eu conheço mais gente que trabalha/trabalhava nessas duas empresas do que a quantidade que já foi mostrada na propaganda do candidato.

Não concordo com a estratégia dos adversários de ficar apelando para suposições, tal como o possível racismo de Udo, ou do fato de o Dona Helena não atender pobres. Mais: apesar de ser fato o episódio das funcionárias da Döhler amarradas, não penso que isso contribua com o debate político, até porque tenho certeza que, se eleito, Udo não vai ficar amarrando ninguém em nenhum lugar.

Mas o que põe em discussão a qualidade da administração de Udo é o jeito Luiz Henrique de governar. LHS fez grandes obras para Joinville. E apenas grandes, porque úteis nem todas eram. Basta ver o Centreventos, cuja adaptação para shows, por exemplo, pode custar até R$ 25 mil. O Juarez Machado é mais um auditório de luxo do que teatro. Pra piorar, o prédio foi erguido em cima do que era pra ser o Teatro Municipal. E até hoje não temos o Teatro Municipal.
Luiz Henrique jogou a cavalaria da Polícia Militar junto com máquinas retroescavadeiras em cima dos comerciantes de rua do calçadão da Rua do Príncipe, para abrir uma rua que complicou ainda mais o trânsito do Centro. E sobre o álibi de estar melhorando o sistema de transporte coletivo da cidade, autorizou – anticonstitucionalmente, sem licitação – a exploração do serviço por 14 anos para a Transtusa e Gidion, que até hoje praticam preços abusivos, garantidos pelo acordo entre as empresas e a prefeitura, além de exercer um atendimento à população aquém do necessário, de péssima qualidade.
O asfalto, feito a torto e a direita, foi realizado sem drenagem e sem saneamento básico. Com os anos, os bairros começaram a sofrer com os alagamentos e os rios ficavam ainda piores com o esgoto não tratado despejado neles.
Enquanto isso, LHS continuava com suas obras megalomaníacas, que o fez ser a maior personalidade política da cidade, imbatível por aqui.
Hoje, ele está lá em Brasília defendendo o novo Código Florestal que beneficia os ruralistas, legaliza a destruição do que resta da Mata Atlântica e aprova o desmatamento da floresta Amazônica.
Não tenho dúvida que Udo vai governar sob a sombra de LHS. Até porque a atitude de se candidatar não partiu de Udo, mas de um “namoro” longo que o ex-prefeito manteve com o empresário para que o PMDB retomasse a administração municipal.

Diante disso tudo nos resta saber: como ficará o transporte coletivo na cidade? Será que Udo fará alguma coisa para destituir do poder os seus amiguinhos da Transtusa e da Gidion? Será que Udo vai continuar a atender a cidade com uma nova rede de tratamento de esgoto? Será que Udo vai fazer alguma coisa para despoluir o Rio Cachoeira que sua empresa tanto ajudou a poluir com as toxinas despejadas nele? Será que Udo vai realmente pensar nas pessoas diante do seu histórico à frente da Acij e da defesa dos interesses do empresariado da cidade? Quem terá mais peso nas decisões de Udo? Seus amigos da Acij afoitos pela especulação imobiliária, pelo enchimento da cidade com veículos por parte das concessionárias, ou o povo com a necessidade de moradia e de transporte coletivo de qualidade?

Deixemos as possibilidades de racismo, mulheres amarradas, xenofobia e toxinas no Cachoeira de lado: será que Udo quer governar Joinville por vontade própria? Será que ele vai ser prefeito para os joinvilenses ou para os empresários da cidade? Será que ele quer defender os interesses da população ou do Luiz Henrique? Udo seria o melhor prefeito para Joinville?

domingo, 2 de setembro de 2012

Kennedy: aquele que diz só o que o povo quer ouvir


O primeiro problema do senhor Kennedy Nunes para prefeito é o fato de ele ser evangélico. E não é apenas um achismo meu. Na própria Bíblia, livro-referência de qualquer cristão, Jesus é claro ao dizer “daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Se você é um missionário cristão e tem compromissos eclesiásticos, você não deve estar a serviço de César. Mais do que dar dinheiro, é trabalhar para ele. E aqui entendamos César como todo o contexto político atual, que envolve jogo de interesses e alianças multipartidárias que atendam aos interesses dos partidos em todas as esferas geográficas: locais, regionais, estaduais e federais.

O segundo problema, que está além do religioso, é as questões políticas e culturais. Não sejamos hipócritas. É óbvio que estaremos sujeitos aos princípios do prefeito para qualquer manifestação que a população queira fazer: grandes eventos que não sejam evangélicos (missas campais, eventos espíritas, passeastas feministas, passeatas levantando discussões como a legalização de certos tipos de drogas e lutas por direitos LGBT).
Aqui não falo concordando ou não com essas causas porque não vem ao caso. Também não estou me posicionando diretamente ao que eu creio que seja o pensamento do candidato Kennedy. A questão é: uma cidade não pode ser governada pelo pensamento de uma pessoa. A população de um município deve ter a liberdade de expressar suas diferentes formas de pensar e de crer. E um candidato evangélico põe em sérios riscos este direito conquistado desde o fim da ditadura militar: o direito à democracia, ao respeito multicultural e à expressão de ideias e opiniões diversas. Enfim, o respeito à diversidade.

Para além dessas questões ideológicas, temos o próprio histórico do Kennedy. Como parlamentar na Assembléia Legislativa de Santa Catarina, sua principal missão era se projetar como prefeito e não atuar como deputado. Fez poucas coisas que trouxessem melhorias significativas para Joinville. Pelo contrário, mesmo sendo do mesmo partido do governador, jamais cobrou melhorias na educação estadual e vemos diversos colégios administrados pelo estado freqüentemente sendo interditados pela vigilância sanitária e com falta de professores e infraestrutura, além de não fazer nada para impedir que fossem fechados dez leitos no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, afogando ainda mais o São José, que mesmo sendo municipal precisa atender a demanda da região.
Uma prova simples do que eu falo: em algum programa da candidatura do Kennedy é mencionado algo relevante que ele fez em sua carreira como deputado estadual?
Fica a reflexão.

Por último, vem as propostas. Para o transporte coletivo, a única proposta é a redução do valor da passagem em R$ 0,35. Logo a passagem volta ao preço que está e a qualidade do serviço não vai ser melhorada, afinal, isso o Kennedy parece ignorar. É a prova que ele pouco conhece das verdadeiras melhorias que precisamos no transporte coletivo de Joinville.
E o maior e grande discurso do Kennedy é o alargamento de ruas e a chuva de elevados que ele quer trazer à cidade. Eu gosto e concordo com a ideia de elevados, mas em alguns pontos altamente críticos e perigosos da cidade, criteriosamente selecionados e que, pelo que me ocorre, não mais que dois (aquele cruzamento da Marquês de Olinda com a Ottokar Doerffel e na Santos Dumont com a Tuiuti, pra agilizar o acesso ao Jardim Paraíso e melhorar o tráfego para o aeroporto).
Ainda assim, elevados não são soluções inteligentes para a mobilidade urbana. É preciso investir mais em transporte coletivo (e não só reduzir R$ 0,35 a passagem), melhorar as ciclovias e ciclofaixas da cidade e as calçadas, dando alternativas para além do transporte individual aos joinvilenses. Isso é um convenção no mundo todo: as soluções para a mobilidade urbana estão em substituir o transporte individual pelo coletivo. E o Kennedy ainda não compreendeu isso.

Além disso, muitas das propostas que ele vem citando são projetos que já estão contemplados com um dinheiro trazido do BNDES pelo governo do estado e estão em fase de licitação (como as melhorias na Santos Dumont).
Precisamos ter cuidado com pessoas de boa lábia e comunicabilidade. Estas sabem se fazer passar por solucionadores de problemas. Mas basta pensarmos um pouco mais pra identificarmos que as soluções não são exatamente aquelas. Pode até ser o que o povo quer ouvir e ver. Mas não é o que ele precisa.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Tarifa aumenta e qualidade cai: a realidade do transporte público de Joinville

Mais uma vez, na calada do fim do ano (que é mais desabitado que a madrugada em Joinville), a tarifa de ônibus da maior cidade de Santa Catarina vai sofrer reajuste.

Eu poderia, aqui, falar de um monte de coisas que são lugar-comum nos discursos sobre o aumento da tarifa: do direito ao passe livre, que é a consumação do nosso direito de ir e vir; do aumento de gastos que estudantes e trabalhadores terão com mais esse reajuste; que as empresas estão faturando alto e não abrem mão do lucro que têm, mas querem aumentá-lo cada vez mais às custas de uma prestação de serviço que deveria ser público.


Claro que inevitavelmente eu vou entrar nestas questões. Mas os motivos que me levam a este texto, a à minha crítica contra o aumento do preço da passagem de ônibus em Joinville vão muito além disso.

Neste ano eu tive a oportunidade de conhecer o transporte coletivo de algumas cidades brasileiras. E pude constatar realidades diferentes. Estive no Rio de Janeiro, Taubaté e São Paulo. Já conheço os modelos de Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis. Nas diferentes situações vi preços e qualidade na pretação do serviço distintas. E Joinville se destaca, principalmente, pela qualidade dos ônibus: eles, em geral (não todos) são bem conservados e pertencem à frotas recentes. O modelo de transporte integrado, em que se pode andar por toda a cidade com apenas uma passagem também é uma vantagem de Joinville. Mas para por aí.
Nós temos corredores de ônibus mal projetados e os motoristas não trafegam neles. Dirigem, na verdade, no meio da faixa que delimita o corredor. Isso por causa dos buracos existentes nas vias.

Os motoristas, aliás, merecem um parágrafo à parte. São o exemplo do mau-humor, da anti-cordialidade e da falta de atenção no volante. Os diretores das empresas de ônibus podem até dizer que eles passam por constantes treinamentos, e eu não duvido. E também não culpo estes profissionais pelo constante mau-humor. São as condições de trabalho que afetam tanto na cordialidade deles: é complicado t
er que dirigir, cumprir horários, ficar responsável por mais de uma linha, cuidar dos equipamentos de bilhetagem que hora ou outra estragam - e eles precisam dar um jeito no problema para poderem seguir viagem -, vender passagens no ônibus, acomodar passageiros cadeirantes e ainda ter paciência de aturar o trânsito caótico e cada vez mais mal planejado de Joinville.
Ou seja, os motoristas fazem o papel de cobrador, de manutenção, de relações públicas, de motorista e de administrador do seu carro. É muita pressão!
Como consequência - e não adianta dizer que não porque quem anda de ônibus somos nós, não o senhor Moacir Bogo, presidente da Gidion - constantemente vemos situações de impaciência com ciclistas que trafegam na margem da pista (só falta o motorista passar por cima deles), desrespeito à sinalização de trânsito (não param na faixa de pedestres e furam o sinal vermelho) e desrespeito com os passageiros (a falta de cordialidade ao esperar pessoas que estão chegando de uma linha e querem acessar outra).
Diante disso, a solução seria a volta dos cobradores. Mas a passagem aumenta e nem ouvimos falar da possibilidade de retorno desta função nos coletivos de Joinville.

É verdade que o problema das lotações é comum no mundo inteiro. Aqui não se reclama da lotação por reclamar. O problema é que se o preço aumenta, o serviço tem que melhorar! Se estamos pagando mais caro, é porque, teoricamente, a quantidade de linhas e a frequência de horários de ônibus iria aumentar. Mas isso não acontece. Pelo contrário: vemos, com frequência, a extinção de algumas linhas, a fusão de outras, a redução nos horários. Além dos atrasos e da falta de sincronia entre uma linha ou outra.


Por exemplo: aqui na região do Costa e Silva onde eu moro passam três linhas de ônibus. As três passam com uma diferença de tempo inferior a três minutos cada um. Isso não dá nem o tempo que eu levo para caminhar de um ponto ao outro, no caso de eu ter perdido o ônibus. Numa visão otimista, a minha próxima oportunidade viria 30 minutos depois. Isso se não houver atrasos.

E as câmeras instaladas nos ônibus?

Alguém disse que elas servem para garantir a segurança dos passageiros. Mentira! Pude perceber que elas estão estrategicamente posicionadas para zelar pelos interesses das empresas de transporte coletivo: uma à frente do volante do motorista, focando a rua. Em caso de acidentes, pode ser usada como prova a favor da empresa ou para ferrar com o motorista. Outra é posicionada em direção à catraca, para fiscalizar se o motorista está atento às pessoas que passam em dois na roleta, às crianças grandes que passam por baixo, ou a qualquer tipo de sujeito que tente dar uma de esperto e passar sem pagar. Obviamente que Transtusa e Gidion não podem fazer nada contra o passageiro. Mas contra o motorista podem!
Daí tem mais duas. E adivinha para onde elas estão direcionadas? Sim, para as portas de saída. A intenção, novamente, é apenas zelar pelos interesses das empresas, e evitar que pessoas entrem pela porta traseira, sem pagar.

Aí alguém vai dizer. "Ah! Mas isso ajuda também na segurança. A inibir os ladrões e bandidos!". Se fosse assim, não haveria assalto à banco. E tem mais: se fosse pra garantir a segurança de alguém - que não a das empresas - as câmeras estariam dispostas de outra forma.
Ou seja. O nosso dinheiro da passagem não está sendo investido para nossa segurança. Mas para alimentar a ambição dos empresários. E a qualidade no serviço que se dane!

Teria muitas outras coisas a falar. Milhões de razões pelas quais a tarifa não deveria aumentar. Mas encerro listando a mais grave de todas: as empresas de transporte coletivo de Joinville não estão preparadas para enfrentar situações fora da rotina.

Passei por isso há poucos dias, na última grande chuva que ocorreu na cidade. Com o alagamento das ruas que dão acesso ao Centro, os terminais ficaram fechados e as linhas de ônibus permaneceram paradas. Observei os fiscais trabalhando para conseguir, o quanto antes, liberar os ônibus para cumprirem suas rotas. Mas não havia ninguém para dar informação. Se fôssemos perguntar, tínhamos respostas óbvias: "o terminal do Centro está alagado!". Isso eu já sabia! Eu queria saber como vou pra casa!
Daí aconteceu que eu fiquei exatamente duas horas parado no terminal Sul. E eu moro na zona Norte. Ninguém pensou em uma linha alternativa, que pudesse passar por ruas não alagadas e levar as pessoas para suas casas. Nestas horas, por mais anti-social e anti-ecológico que seja, o nosso pensamento é de que seria muito melhor se eu estivesse sozinho no meu carro. Eu pegaria um atalho tentando desviar da cheia e chegaria em casa. Um tanto mais tarde do que o comum, mas, pelo menos, não ficaria parado sem informação.

Então não adianta a prefeitura fazer planos para que as pessoas substituam o seu meio de transporte se o ônibus não funciona e a tarifa é cara.

Também não adianta dizer que está preparando uma licitação e tudo vai melhorar em 2013 ou 2014. Ou o serviço melhora, ou a passagem não aumenta.
É muito fácil para as empresas simplesmente pedirem aumento. Em qualquer outro segmento, para não perder o cliente, as coisas teriam de ser resolvidas com criatividade.

Porque eu tô relacionando criatividade com Transtusa e Gidion? Diante do exposto, ficou claro que isso é uma coisa que eles não têm.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ainda o imbróglio da Busscar

O Andarilho já andou falando neste assunto há muito tempo. Faz mais de um ano que este post apareceu por aqui, e ainda figura entre os mais lidos deste canal. Por mais que seja um problema exclusivamente joinvilense, o fato de o assunto ser bem acessado por aqui prova que há interesse.

Diante disso, me senti na obrigação de falar novamente, já que, de lá pra cá, muitas reviravoltas aconteceram.

A situação da Busscar, atualmente, é delicada. Pouco menos de mil funcionários estão trabalhando na fábrica que antes comportava mais de seis mil empregos. Ainda assim, quem trabalha lá está recebendo por demanda. Ou seja, vão trabalhar e recebem seus salários quando tem serviço, afinal, a fabricação de carrocerias de ônibus segue a passos de formiga. A empresa continua devendo para muitos bancos e fornecedores e, por isso, não tem mais crédito. Quem saiu da empresa ainda não recebeu salários, nem o Fundo de Garantia dos meses que não foram depositados; e outros tiveram que colocar o caso na justiça para receber a remuneração referente ao desligamento.

Em suma: há produção, quem está trabalhando está sendo pago e quem está fornecendo, também. Claudio Nielson, presidente da empresa, sem nenhuma sombra de dúvidas, sabe que por mais que ele tenha recursos para continuar se mantendo por um certo tempo, o dinheiro acaba, e ele, tão facilmente, não terá outra fonte de renda igual ao grupo Busscar. Obviamente que, neste momento, essa fonte de renda não está gerando muitos lucros. Até porque as contas bancárias dos administradores da empresa e da própria empresa continuam bloqueadas.

Mas ele está ganhando algo, sim. E pretende ganhar mais, quando a fábrica voltar a funcionar a pleno vapor. Sem dúvida alguma isso seria muito bom para os joinvilenses, porque proporcionaria geração de empregos e ajudaria até com o preço das tarifas do transporte coletivo, já que o ônibus fabricado aqui continuaria circulando aqui.
Porém, antes que a fábrica chegue a este ponto, milhares de funcionários e ex-funcionários continuam sem receber muitos direitos: salários atrasados, meses de FGTS não depositados, 13º salários que não foram pagos, além dos valores referentes à saída de muitos destes. Além dos funcionários, tem os bancos e fornecedores. Estes últimos, na maioria microempresas, também passaram por duras penas por conta da falta de pagamento da gigante de carrocerias.
Um terreno em Florianópolis, que servia de garagem para os ônibus fabricados pela Busscar, já foi leiloado, mas não chegou nenhum dinheiro aos ex-funcionários. Provavelmente serviu para pagar antigos credores. Outro leilão, marcado para breve, que serviria para vender todos os bens do grupo e pagar os passivos trabalhistas, foi anulado na tarde de terça-feira (01/11), e a empresa vai voltar a funcionar em regime de recuperação fiscal.
Segundo o colunista Luiz Veríssimo, do jornal Notícias do Dia, de Joinville, se o leilão fosse efetivado para saldar os dividendos trabalhistas, restaria pouco para os demais credores, e eles não teriam mais de quem cobrar a dívida.
Resta-nos, neste momento, torcer para que os funcionários e ex-funcionários não sejam, mais uma vez, prejudicados com a decisão. Por mais que seja bom para quem continua trabalhando lá e para a sociedade joinvilense, as decisões tomadas até agora pela justiça vêm beneficiando unicamente os empresários da Busscar, que pouco ou nada fizeram até agora para cumprir com suas obrigações enquanto empregadores. Milhares de famílias penaram para sobreviver por meses pelo fato de a empresa não agir com responsabilidade. E, até agora, os responsáveis por essa situação de desespero e descaso financeiro com tanta gente que sofreu ao ver suas contas vencendo e sua casa sem comida, ainda não foram punidos. Continuam sem saber o que é passar dificuldade.