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domingo, 25 de janeiro de 2015

Brasil: séculos de atraso. E a culpa, sinto dizer, não é do PT

Primeiramente é preciso deixar claro que eu não sou filiado a partido algum. Eu tenho uma ideologia humanista, o que me coloca numa posição política mais à esquerda – e só isso já bastaria para não ser classificado como petista (ou petralha, como queiram), afinal, ao contrário do que muitos querem crer, há anos o PT abandonou as históricas bandeiras de esquerda. Mas nem mesmo dentre os partidos verdadeiramente de esquerda eu não me filio, pois não sinto segurança para tal. Dito isso, prosseguimos.

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Fiz questão de deixar isso claro para que este não seja interpretado como um texto de apologia ou defesa ao PT, Lula ou Dilma. É apenas uma reflexão sobre o Brasil, nossa história e as contradições no discurso daqueles que acreditam que o atraso que o nosso país sofre com relação a outras nações é culpa desse governo que está aí.

A história do Brasil já começou mal. A cultura indígena que existia aqui foi esmagada pelo imperialismo português que, não contente apenas em “catequisar” os índios e tomar as terras destes, carregaram para a Europa muitas das nossas riquezas, como as madeiras do pau-brasil, riquíssimas para colorir tecidos, e os minérios. 

Quando a coisa apertou por lá, a família Real veio todinha para cá, não sem provocar mais estragos. O Brasil nunca foi uma terra palco de projetos de desenvolvimento em prol das pessoas que aqui moravam. Éramos apenas curral de enriquecimento alheio, morada de índios renegados, escravos importados e, mais tarde, de imigrantes desafortunados, praticamente expulsos de uma Europa falida e em crise, que tiveram que enfrentar as jornadas desumanas nas grandes lavouras de café ou as terras atoladas dos mangues do sul.

Hoje vivemos o mais longo período democrático da história. Antes disso, em mais de cinco séculos de existência, sofremos com exploração atrás de exploração, golpe atrás de golpe, falcatrua atrás de falcatrua. E, convenhamos, nada disso é culpa do PT.

Hoje, claro, pagamos caro – literalmente – pelo país que construíram para nós. Pagamos caro por causa de uma corrupção enraizada no poder que é tão histórica quanto o descaso que o Brasil sofreu por aqueles responsáveis por torná-lo uma nação. Sempre sofremos com corrupção, sempre tivemos que pagar mais caro pelas coisas, sempre as tecnologias chegaram aqui com defasagem de tempo. Sempre estivemos à mercê de grupos religiosos ditando nosso modo de vida.

Isso é ruim? Sim, é péssimo. Mas por outro lado faz parte da construção de uma nação rica e próspera. O que precisamos é investir, acima de tudo, em educação e mudar essa cultura de reclamantes do Facebook e porta vozes do achismo para compreendermos mais a nossa história e a nossa sociedade. Porque se não for assim, nunca evoluiremos.

A educação é necessária, primeiramente, para desmistificarmos mitos enraizados no nosso cotidiano. Um deles é que os Estados Unidos são modelo. Não são. Os norte-americanos só conseguem ser modelo de um capitalismo selvagem, excludente e, diferentemente do que costumamos ver na mídia e no cinema, sofrem com a pobreza, com a violência e com o descaso na saúde, por exemplo. Afinal, lá não existe tratamento de saúde de graça.

Outro mito é o exemplo Europeu. Ok, talvez isso não seja exatamente um mito porque, realmente, em muitos países da Europa a qualidade de vida é ótima, as cidades são humanizadas e a educação é invejável. Mas a que custo eles chegaram nesse patamar? O continente europeu é milenar. Eles também tiveram de passar por ditaduras, guerras, doenças, crises, fome, escravidão, revoluções, mortes – e tudo isso mais de uma vez – para então chegarem ao nível de civilidade que muitos têm. E na civilidade e na educação que nascem as cidades mais bonitas, as pessoas mais saudáveis e a vida mais tranquila, embora isso não seja regra.

Do oriente, então, nem se fala. Pelo que consta eles são alguns dos povos até mais antigos que os próprios Europeus.

Mas, voltando à Europa, é importante lembrar que a riqueza deles não foi/é consequência apenas do sangue, suor e lágrimas dos seus conterrâneos, não. Até hoje a África, o Oriente Médio e a América Latina – incluindo nós brasileiros – pagamos pela ganância e pela exploração europeia. 

A questão não é culpar o Velho Continente pelas nossas mazelas. Nós poderíamos muito bem dar a volta por cima, como fizeram os coreanos. O objetivo de trazer essas questões à tona é encararmos a realidade: somos frutos da exploração, carregamos na nossa veia o sangue de corruptos e exploradores e não queremos – ao menos não deveríamos querer – explorar outros povos para garantir nossas riquezas.

Se não quisermos pagar caro pela nossa evolução, como a Europa teve de fazer, teremos que aprender. E novamente menciono a importância da educação. E a partir daí, dando a devida atenção a este item, poderemos evoluir. Mas isso leva tempo e temos exemplos no mundo todo disso, dessa demora pelos resultados.

Portanto, não é correto, justo, nem honesto culpar o PT pelo atraso do Brasil. O atraso que vivemos é fruto da história. E muitos dos que estarão lendo esse texto podem não saber, mas cultivam em si um pensamento retrógrado que em nada contribui para a nossa evolução.

Exemplo disso é a nossa ainda predileção pelos veículos individuais, pela construção de estradas cada vez maiores roubando o espaço que deveria ser dado a transportes alternativos, como a bicicleta o os coletivos. É a nossa preguiça em ler e adquirir conhecimento, e preferir formar opiniões com base no achismo e nas mídias tradicionais. É o nosso apego a pensamentos ultrapassados e retrógrados, especialmente os que defendem o núcleo familiar tradicional que inexiste, já foi realidade há anos e hoje não representa o nosso modo de vida.

O machismo não nos deixa evoluir, a implicância com movimentos sociais, a adoração à meritocracia, o desejo pela vingança e pela pena de morte, a mercantilização da educação e da saúde, o desrespeito com a natureza, enfim. Enquanto não formos mais humanos, enquanto não pararmos de achar que o dinheiro é o centro de tudo e enquanto não atualizarmos nosso pensamento e não colocarmos as nossas necessidades dentro de uma visão atenta à nossa realidade contemporânea, não evoluiremos.

E a culpa disso não é do PT. É, sim, de cada um de nós.

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domingo, 25 de novembro de 2012

Belo Monte: o grande lixeiro de dinheiro público

Projeto gráfico de Belo Monte
Por muito tempo ouvi falar da construção da usina de Belo Monte e não expus minha opinião, nem tirei nenhuma conclusão a respeito do assunto porque tudo era muito complexo e exigia um conhecimento mais profundo do que simples manifestações no Facebook.

Aliás, muitas coisas que se opinam hoje não devem ser concluídas somente a partir de comentários em redes sociais. O debate fica raso e prejudicial, mas isso é assunto para outro post.

A questão em Belo Monte era muito mais complexa: por um lado, a necessidade do Brasil de aumentar as reservas de energia, com uma solução ambientalmente correta como as hidrelétricas, que oferecem pouco impacto ambiental por não serem poluentes. Esse aumento da reserva energética é importante para estimular a indústria, tão importante num mundo abalado pela crise econômica e especialmente no Brasil que, apesar de menos afetado que os países Europeus, por exemplo, precisa lidar com importantes contrastes sociais e, por isso, não se pode dar ao luxo de andar para trás nas questões econômicas, evitando, assim, que isso afete o social.

Por outro lado havia as questões ecológicas e sociais. Diz-se que Belo Monte não vai prejudicar nenhum habitante de áreas ribeirinhas, nem índios. Ora, se não vai prejudicar, por que, então, estas pessoas não querem a obra? Por que estão protestando contra ela? E como dizer que a população ribeirinha não será afetada se a região ficará debaixo d’água, e estas pessoas vivem à beira do rio?
Ora, essas questões já seriam suficientes para que qualquer um tivesse dúvidas quanto a validade do projeto. E por mais que as hidrelétricas, do ponto de vista da produção de energia, sejam mais limpas e não poluentes, é impossível dizer que uma obra capaz de alagar uma extensa área da floresta Amazônica não vá causar impactos ambientais.
No site do projeto, noticia-se que biólogos estão fazendo a catalogação e o transporte dos animais daquela região para as localidades que não serão alagadas. Mas será, realmente, que todos os animais serão transportados? E será que eles irão se adaptar aos novos locais para onde forem levados? Sem contar as inúmeras espécies de plantas e árvores que ficarão debaixo d’água.

Mas a questão não para por aí. A matéria mais completa que li sobre o assunto foi uma entrevista da jornalista Eliane Brum com Célio Bermann, um dos mais respeitados especialistas no país na área energética, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), com doutorado em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Unicamp. Autor dos livros “Energia no Brasil: Para quê? Para quem? – Crise e Alternativas para um País Sustentável” (Livraria da Física) e “As Novas Energias no Brasil: Dilemas da Inclusão Social e Programas de Governo” (Fase), entre outros. Participou dos debates da área energética e ambiental para a elaboração do programa de Lula na campanha de 2002 e foi assessor de Dilma Rousseff entre 2003 e 2004, no Ministério de Minas e Energia. Ex-petista, Bermann foi um dos 40 cientistas que participaram de uma extensa pesquisa a fim de elaborar um painel sobre a obra de Belo Monte que, segundo a reportagem, foi ignorado pelo governo federal.

Como eu disse, este é um assunto que não dá para você tomar uma decisão somente com os microtextos do twitter, ou vídeos fáceis de atores globais engajados na causa, ou com aquelas imagens vazias compartilhadas no Facebook. A reportagem que eu linco aqui é extensa, mas vale a leitura, porque muito além de se ter opinião sobre o assunto, é importante que nós, brasileiros, tenhamos conhecimento a respeito dessas decisões que afetam duramente a nossa sociedade – mesmo aqueles que moram a quilômetros de nós, em uma realidade extremamente diferente – e que impactam nas questões econômicas e ambientais do nosso país.

Em suma, o que o professor Célio Bermann revela é que a obra interessa somente às construtoras envolvidas no projeto, aos políticos que se beneficiarão dela, às empresas que fabricarão os componentes necessários para a usina e, o mais preocupante, “o que estamos testemunhando é um esquema de engenharia financeira para satisfazer um jogo de interesses que envolve empreiteiras que vão ganhar muito dinheiro no curto prazo. Um esquema de relações de poder que se estabelece nos níveis local, estadual e nacional – e isso numa obra cujos 11.200 megawatts de potência instalada só vão funcionar quatro meses por ano por causa do funcionamento hidrológico do Xingu”, diz Bermann. É isso mesmo: dos 12 meses do ano, somente em quatro a usina produzirá energia, porque no restante dos meses o nível do rio não atende às condições mínimas possíveis para que haja produção.
E preciso dizer que precisamos de informação. Esta é a primeira arma que temos para que o dinheiro público não seja usado como convém às oligarquias e aos coronéis eternos do governo. Outra consequência da informação é o nosso conhecimento, que nos dá argumentos para poder questionar e cobrar das autoridades, da forma como for possível (voto, e-mails aos parlamentares, petições), o bom uso dos recursos públicos.
A solução, segundo o professor (e eu concordo), é mudar a cultura industrial do país. Gasta-se muita energia para produzir bens primários que são exportados e lá fora transformam-se em produtos de valor agregado que nos faz pagar mais caro quando voltam para cá. Precisamos produzir tecnologia aqui – e a Petrobras, por exemplo, está aí para provar que temos essa capacidade – e parar de depender de coisas que são produzidas lá fora.
Matéria prima custa mais caro para produzir, gasta mais energia, a gente vende barato e compra o bem manufaturado a um valor mais alto. Isso é prejudicial pra todo mundo. Menos para os empresários, que ganham dinheiro sem sair do comodismo.
Eike Batista, por exemplo,  na ocasião do lançamento do pacote de concessões para obras logísticas no Brasil, disse que aquilo era um “kit felicidade”. Sempre assim: como em Belo Monte, a maior parte do dinheiro vem do nosso bolso governo e quem explora é a iniciativa privada, cobrando por aquilo que já pagamos às custas de impressionantes impactos sociais e ambientais.

Por fim, divulgarmos, para o maior número de pessoas possível. Com uma população insatisfeita com as coisas realizadas do modo como as autoridades bem entendem, eles vão precisar rever os conceitos. Precisamos de uma sociedade consciente e informada. Isto é o primeiro passo para uma revolução, pelo menos no nosso modo de pensar e no nosso senso crítico. Mas é aí que começam as grandes transformações.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Hipocrisia nas religiões: o motivo do atraso social brasileiro

Novo templo IURD: réplica da construção de Salomão
"Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai que vê num lugar oculto, recompensar-te-á" (Mateus 5, 5-6).

Parece que muitos religiosos esqueceram-se deste ensinamento de Jesus. Sim, ele também disse "Ide ao mundo e levai o evangelho à toda criatura", mas... além das palavras, Jesus ensinou aos cristãos a forma de levar este evangelho.

Jesus nunca empurrava nada "goela abaixo". Jesus nunca julgou, nunca condenou, nunca apontou o dedo, nunca excluiu, nunca cobrou. E Jesus também não invadia o espaço, a intimidade das pessoas; as suas vidas, o seu dia-a-dia, a sua rotina para falar de Deus.

Jesus não ficava toda hora falando "Glória a Deus", nem diminuía alguém por sua religião, profissão ou ideologias. Jesus, com atitudes, mostrava a melhor forma de viver e de se tratar o próximo.

Pois bem. Mesmo os não-cristãos precisam reconhecer que a figura de Jesus era inspiradora. Judeu, não se deixava levar pelos pensamentos pequenos dos iguais daquela época. Num tempo em que aquele povo não se dava com os samaritanos, julgando-os menores diante de Deus, Jesus contou uma parábola em que o homem-bom, que ajudou alguém que estava precisando de auxílio, era, justamente, um samaritano. Da mesma forma, protagonizou uma longa conversa com uma samaritana, que chegou a estranhar o fato de um judeu estar conversando com ela. Jesus não tinha preconceitos.

Valdomiro Santiago e o slogan: "A mão de Deus está aqui"
E sempre que Jesus fazia algo de bom, alimentando os famintos, realizando curas ou discursando com palavras de conforto, orientava as pessoas a não falarem de onde haviam conseguido ajuda. Ele não queria créditos para si. Queria apenas fazer o bem, pensar o bem e instigar as pessoas a agirem de modo igual.

Diante disso tudo é curioso que os líderes religiosos cristãos da atualidade estejam tão na contra-mão do que Jesus, de fato, fazia. É comum ver tais sujeitos unindo forças para fazer o mal e propagar o preconceito, a intolerância, a ditadura, o desrespeito e o ódio.

Odeiam os espíritas, os ateus, os maçônicos, os praticantes de religiões afrodescendentes, os muçulmanos, os gays, os socialistas e comunistas, os movimentos sociais e estudantis, entre tantos outros grupos sociais. Fazem campanhas para boicotar cantores, grupos musicais, filmes, programas de televisão e acham o demônio e mensagens subliminares em tudo que lhes apraz.
E pior: usam o povo, cobrando por suas "bem-feitorias" e afirmando que a graça só será obtida com a compra de travesseiros milagrosos, martelos da cura, óleos da unção e tantas outras bugingangas crentes.

Como se não bastasse, vinculam suas igrejas a programas de televisão, dominam os espaços vagos nas emissoras de TV, criam até slogans para seus empreendimentos/igrejas (um recurso exclusivamente comercial e nada bíblico) e estapam suas imagens nas placas das faixadas dos templos, auto intitulando-se "mensageiros de Deus".

Com toda essa triste realidade, a sociedade brasileira, e as leis de um país que deveria ser laico, acabam prejudicadas. Não se decide mais pelo bem da população, mas para o agrado dessas pessoas que não estão nem aí para Jesus. O Cristo é apenas o garoto-propaganda de suas empresas/igrejas que, beneficiadas pelo não-pagamento de impostos, lucram às custas da fé de gente humilde.

Daí forma-se a bancada evangélica na Câmara Federal para defender a moral, os bons costumes e a família. Mas esquecem de lembrar que o conceito de moral, bons costumes e família é diferente nas diferentes culturas. E que o Brasil não é um país de uma cultura só.

R.R.Soares viu que Edir Macedo se deu bem
e seguiu carreira solo
Ainda dizem que Sodoma e Gomorra foi queimada por causa dos gays. Tenho minhas desconfianças. Pra mim, ambas as cidades estavam cheias de pastores... digo... hipócritas!

"Eles devoram os bens das viúvas e dão aparência de longas orações. Estes terão um juízo mais rigoroso." (Marcos 12,40).

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Tarifa aumenta e qualidade cai: a realidade do transporte público de Joinville

Mais uma vez, na calada do fim do ano (que é mais desabitado que a madrugada em Joinville), a tarifa de ônibus da maior cidade de Santa Catarina vai sofrer reajuste.

Eu poderia, aqui, falar de um monte de coisas que são lugar-comum nos discursos sobre o aumento da tarifa: do direito ao passe livre, que é a consumação do nosso direito de ir e vir; do aumento de gastos que estudantes e trabalhadores terão com mais esse reajuste; que as empresas estão faturando alto e não abrem mão do lucro que têm, mas querem aumentá-lo cada vez mais às custas de uma prestação de serviço que deveria ser público.


Claro que inevitavelmente eu vou entrar nestas questões. Mas os motivos que me levam a este texto, a à minha crítica contra o aumento do preço da passagem de ônibus em Joinville vão muito além disso.

Neste ano eu tive a oportunidade de conhecer o transporte coletivo de algumas cidades brasileiras. E pude constatar realidades diferentes. Estive no Rio de Janeiro, Taubaté e São Paulo. Já conheço os modelos de Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis. Nas diferentes situações vi preços e qualidade na pretação do serviço distintas. E Joinville se destaca, principalmente, pela qualidade dos ônibus: eles, em geral (não todos) são bem conservados e pertencem à frotas recentes. O modelo de transporte integrado, em que se pode andar por toda a cidade com apenas uma passagem também é uma vantagem de Joinville. Mas para por aí.
Nós temos corredores de ônibus mal projetados e os motoristas não trafegam neles. Dirigem, na verdade, no meio da faixa que delimita o corredor. Isso por causa dos buracos existentes nas vias.

Os motoristas, aliás, merecem um parágrafo à parte. São o exemplo do mau-humor, da anti-cordialidade e da falta de atenção no volante. Os diretores das empresas de ônibus podem até dizer que eles passam por constantes treinamentos, e eu não duvido. E também não culpo estes profissionais pelo constante mau-humor. São as condições de trabalho que afetam tanto na cordialidade deles: é complicado t
er que dirigir, cumprir horários, ficar responsável por mais de uma linha, cuidar dos equipamentos de bilhetagem que hora ou outra estragam - e eles precisam dar um jeito no problema para poderem seguir viagem -, vender passagens no ônibus, acomodar passageiros cadeirantes e ainda ter paciência de aturar o trânsito caótico e cada vez mais mal planejado de Joinville.
Ou seja, os motoristas fazem o papel de cobrador, de manutenção, de relações públicas, de motorista e de administrador do seu carro. É muita pressão!
Como consequência - e não adianta dizer que não porque quem anda de ônibus somos nós, não o senhor Moacir Bogo, presidente da Gidion - constantemente vemos situações de impaciência com ciclistas que trafegam na margem da pista (só falta o motorista passar por cima deles), desrespeito à sinalização de trânsito (não param na faixa de pedestres e furam o sinal vermelho) e desrespeito com os passageiros (a falta de cordialidade ao esperar pessoas que estão chegando de uma linha e querem acessar outra).
Diante disso, a solução seria a volta dos cobradores. Mas a passagem aumenta e nem ouvimos falar da possibilidade de retorno desta função nos coletivos de Joinville.

É verdade que o problema das lotações é comum no mundo inteiro. Aqui não se reclama da lotação por reclamar. O problema é que se o preço aumenta, o serviço tem que melhorar! Se estamos pagando mais caro, é porque, teoricamente, a quantidade de linhas e a frequência de horários de ônibus iria aumentar. Mas isso não acontece. Pelo contrário: vemos, com frequência, a extinção de algumas linhas, a fusão de outras, a redução nos horários. Além dos atrasos e da falta de sincronia entre uma linha ou outra.


Por exemplo: aqui na região do Costa e Silva onde eu moro passam três linhas de ônibus. As três passam com uma diferença de tempo inferior a três minutos cada um. Isso não dá nem o tempo que eu levo para caminhar de um ponto ao outro, no caso de eu ter perdido o ônibus. Numa visão otimista, a minha próxima oportunidade viria 30 minutos depois. Isso se não houver atrasos.

E as câmeras instaladas nos ônibus?

Alguém disse que elas servem para garantir a segurança dos passageiros. Mentira! Pude perceber que elas estão estrategicamente posicionadas para zelar pelos interesses das empresas de transporte coletivo: uma à frente do volante do motorista, focando a rua. Em caso de acidentes, pode ser usada como prova a favor da empresa ou para ferrar com o motorista. Outra é posicionada em direção à catraca, para fiscalizar se o motorista está atento às pessoas que passam em dois na roleta, às crianças grandes que passam por baixo, ou a qualquer tipo de sujeito que tente dar uma de esperto e passar sem pagar. Obviamente que Transtusa e Gidion não podem fazer nada contra o passageiro. Mas contra o motorista podem!
Daí tem mais duas. E adivinha para onde elas estão direcionadas? Sim, para as portas de saída. A intenção, novamente, é apenas zelar pelos interesses das empresas, e evitar que pessoas entrem pela porta traseira, sem pagar.

Aí alguém vai dizer. "Ah! Mas isso ajuda também na segurança. A inibir os ladrões e bandidos!". Se fosse assim, não haveria assalto à banco. E tem mais: se fosse pra garantir a segurança de alguém - que não a das empresas - as câmeras estariam dispostas de outra forma.
Ou seja. O nosso dinheiro da passagem não está sendo investido para nossa segurança. Mas para alimentar a ambição dos empresários. E a qualidade no serviço que se dane!

Teria muitas outras coisas a falar. Milhões de razões pelas quais a tarifa não deveria aumentar. Mas encerro listando a mais grave de todas: as empresas de transporte coletivo de Joinville não estão preparadas para enfrentar situações fora da rotina.

Passei por isso há poucos dias, na última grande chuva que ocorreu na cidade. Com o alagamento das ruas que dão acesso ao Centro, os terminais ficaram fechados e as linhas de ônibus permaneceram paradas. Observei os fiscais trabalhando para conseguir, o quanto antes, liberar os ônibus para cumprirem suas rotas. Mas não havia ninguém para dar informação. Se fôssemos perguntar, tínhamos respostas óbvias: "o terminal do Centro está alagado!". Isso eu já sabia! Eu queria saber como vou pra casa!
Daí aconteceu que eu fiquei exatamente duas horas parado no terminal Sul. E eu moro na zona Norte. Ninguém pensou em uma linha alternativa, que pudesse passar por ruas não alagadas e levar as pessoas para suas casas. Nestas horas, por mais anti-social e anti-ecológico que seja, o nosso pensamento é de que seria muito melhor se eu estivesse sozinho no meu carro. Eu pegaria um atalho tentando desviar da cheia e chegaria em casa. Um tanto mais tarde do que o comum, mas, pelo menos, não ficaria parado sem informação.

Então não adianta a prefeitura fazer planos para que as pessoas substituam o seu meio de transporte se o ônibus não funciona e a tarifa é cara.

Também não adianta dizer que está preparando uma licitação e tudo vai melhorar em 2013 ou 2014. Ou o serviço melhora, ou a passagem não aumenta.
É muito fácil para as empresas simplesmente pedirem aumento. Em qualquer outro segmento, para não perder o cliente, as coisas teriam de ser resolvidas com criatividade.

Porque eu tô relacionando criatividade com Transtusa e Gidion? Diante do exposto, ficou claro que isso é uma coisa que eles não têm.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Moradia: um direito para poucos

Se existem câncers nesta nossa sociedade capitalista, diria que um deles é o mercado imobiliário. Daí vocês me perguntam porquê dessa minha revolta com as imobiliárias.

É simples.

É um direito de todo ser humano ter um lugar para morar. Como pode alguém querer controlar esse direito? Mas, muito mais que controlar, que não seria algo lá tão demoníaco: como pode alguém ter o poder de limitar esse direito?

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A começar pela especulação imobiliária. Imóveis ficam meses, anos parados para "valorizarem". Enquanto isso, milhares de pessoas continuam sem ter uma moradia, simplesmente porque existem pessoas que, a fim de ficarem mais ricas do que já são, resolveram deixar os imóveis parados para, no futuro, resgatassem um valor mais alto do que custam no momento.


Quando, enfim, decidem vender ou alugar, cobram um valor exorbitante, capaz de fazer o cidadão ficar até décadas preso às condições da imobiliária, além de exigir uma documentação tão complexa que faz qualquer um trabalhador com menos tempo desistir do seu novo imóvel. Para agravar, não raro, a imobiliária exige um fiador. Ou seja, se a pessoa não tem um conhecido com uma boa situação financeira, capaz de emprestar o seu nome para a transação, o negócio não é fechado.


Para aumentar o exagero e a mesquinhez desse tipo de gente dada à administração imobiliária, o fiador exigido, quase sempre, precisa ter dois ou mais imóveis em seu nome. No fim das contas, só consegue comprar uma casa própria - e até alugar um imóvel - aquela pessoa financeiramente resolvida. É a mesma história dos bancos, que só fazem empréstimo se você provar que não precisa de um empréstimo.


Daí vem o governo com programas habitacionais como o "Minha Casa, Minha Vida". Mas a burocracia é a mesma, e, ainda assim, os interessados precisam de uma intermediação com as imobiliárias.


É lamentável essa situação, de ter alguém que diga se você pode ou não ter um lugar para morar. Seria desumano, mas menos ruim, se a pessoa fosse expulsa da sua morada por não pagar o que deve. Mas o problema é que as imobiliárias não dão chance e preferem deixar a pessoa sem teto a diminuir as exigências e sua mesquinharia.


Isso, muito além de causar, como já dito, uma limitação a milhares de pessoas e famílias do seu direito de ter um lugar para morar, desencadeia um problema social grave, na medida em que se torna mais fácil montar acampamento em uma área de ocupação, ou construir uma morada nas favelas, muitas vezes ilegais, prejudicando o meio-ambiente e o plano diretor das cidades.


Engana-se quem acha que as áreas mais carentes das cidades são fruto - somente - da migração desenfreada: para além disso, está a questão imobiliária que, em lugar algum, oferece facilidades a quem quer um lugar para morar.

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