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domingo, 10 de janeiro de 2016

Os Dez Mandamentos e o papelão na dramaturgia da Record e da Globo em 2015

O ano de 2015 marcou algumas das situações mais bizarras da televisão brasileira. O conservadorismo cada vez mais doentio da sociedade, que torna incapaz de aceitar o diferente, o novo, associado a um clima de hostilidade entre as pessoas, acabou atingindo o comportamento do brasileiro diante da telinha.

É que no dia 16 de março a Rede Globo estreou sua nova novela das nove: Babilônia. Escrito a seis mãos, entre elas o experiente Gilberto Braga (de Escrava Isaura, Vale Tudo, Celebridade), junto com João Ximenes Braga e Ricardo Linhares, apoiados por um elenco estelar, com grifes como Fernanda Montenegro, Glória Pires, Adriana Esteves, o folhetim causou espanto do público já no primeiro episódio, ao exibir a cena de um beijo lésbico entre as personagens de Montenegro e Nathalia Timberg.

No dia seguinte, campanhas de boicote, inclusive vindas do Congresso Nacional, e mensagens raivosas à Natura, patrocinadora do programa, pedindo para que fosse retirada a publicidade na novela, se espalharam pelas redes sociais e, principalmente entre as igrejas.

É gente, as igrejas estão cada vez mais querendo dizer até mesmo o que deve e o que não deve passar na televisão.

Não à toa que, na semana seguinte, no dia 23 de março, a Rede Record levou ao ar aquilo que ela chamou como “a primeira novela bíblica da história da televisão”, Os Dez Mandamentos: um prato cheio para todos aqueles que estavam fazendo campanha contra a Rede Globo. E prato cheio para as igrejas também, claro. Não que a história de Vivian de Oliveira tivesse sido fiel e correta em relação aos escritos bíblicos, mas isso é detalhe diante de tudo o que a novela mostrou.

Um pouco mais adiante, caros leitores, eu devo mencionar o papelão da Record em relação à sua falta de planejamento no tocante a este projeto. Mas antes de chegar lá, quero registrar que até mesmo a gigante Globo se comportou de maneira vergonhosa diante do fracasso da sua novela e do avanço da concorrência no horário.

É que, para agradar aqueles que estavam apedrejando Babilônia, a Globo recomendou que a novela fosse totalmente alterada. Com isso, personagens ficaram descaracterizados, outros desapareceram, alguns núcleos tornaram-se inúteis, tramas que prometiam um desenrolar interessante foram descontinuadas e, aqueles que ainda se interessaram minimamente por todas aquelas coisas novas que haviam sido propostas, foram desanimando ao ver o que a narrativa estava se tornando: aos poucos, uma colcha de retalhos sem sentido.

Como as alterações não causaram nenhum efeito positivo, a Globo começou a promover um tal de estica-e-puxa na grade que ficou feio de se ver. Jornal Nacional ficava mais longo, novela mais curta, outros dias um atrasava, ou adiantava, enfim... Uma bagunça que só.

Com tudo isso, a Record se beneficiou. Em primeiro lugar, como eu disse, a onda conservadora que está inundando o país se sentiu prestigiada ao ver a adaptação de uma conhecidíssima e milenar história religiosa. Depois, com o comportamento primário da Globo, mais pessoas resolveram conferir o que havia no canal ao lado, ao perceber que a gigante da teledramaturgia estava perdida na condução do seu principal produto. E, por último, e — na minha visão — menos importante, a necessidade das pessoas de buscarem uma trama escapista, diante de tantas notícias ruins e indignantes que reinaram na imprensa nacional em 2015. Neste sentido, Os Dez Mandamentos era como uma massagem para o anseio de entretenimento longe da realidade, algo que Babilônia não estava propondo.

Mas muito do que eu disse aqui já é bem conhecido de quem acompanha notícias sobre os bastidores da TV. O ponto que eu queria chegar era especificamente sobre a trama de Os Dez Mandamentos. A novela fez história ao bater, em audiência, o principal produto da televisão brasileira (a novela das nove da Rede Globo) e ao dar índices de duas casas decimais à Record, nada acostumada a essa realidade.

O burburinho que a novela causou nas redes sociais também foi uma coisa digna de registro. Foi uma trama comentada, que incomodou a Globo, mexeu também com as outras concorrentes, alterou o comportamento do brasileiro diante da TV e pegou até mesmo a própria Record desprevenida.

Mas tudo isso, devo dizer, não tem nada a ver com a qualidade da novela. Muito pelo contrário. Como também já ressaltei, a Record foi feliz por colocar na sua grade um produto certo na hora certa. Nem mesmo os efeitos digitais importados da mesma empresa responsável pelo seriado The Walking Dead são dignos de elogio, ao se considerar as questões técnicas e artísticas.

A novela parecia mais um teatro de igreja: os figurinos extremamente coloridos, a direção de arte e os cenários completamente artificiais, as atuações exageradas (quando não mecânicas), as falas impostadas demais (isso quando não se tentava fugir da formalidade e acabava caindo no extremo oposto: a coloquialidade exagerada), sem contar com o tom de pregação que a novela cultivou ao longo dos seus mais de 170 capítulos. Um martírio. Teve até extintor de incêndio que apareceu em um dos capítulos (em pleno Egito Antigo), revelando a falta de precisão da equipe técnica a certa altura, já que o ritmo de gravações estava extenuante.

A cena da travessia do Mar Vermelho, ponto alto da trama, conseguiu ser mais chata do que piada de tio velho na ceia de Natal. Blocos inteiros com closes sem diálogos, cheios de caras e bocas, com efeitos digitais vergonhosos (ok que é extremamente caro executar coisas desse tipo. Mas se viram que a coisa ia ficar tão artificial, poderiam diminuir um pouco a escala). Mas não. Na visão do elenco e da produção, a Record estava colocando no ar a sétima maravilha do mundo. Não havia nenhuma autocrítica. Iludidos pelos números, tomaram para si a crença de que o produto era inquestionável, primoroso, de fazer inveja de Hollywood. Quanto engano!

Não deu outra: após este ápice da história, a audiência caiu, segundo o Ibope. Curiosamente, essa é uma característica totalmente contrária a qualquer telenovela. Normalmente os últimos capítulos é que batem recordes, que chamam um público que não costumava acompanhar a trama, e o desfecho de qualquer novela acaba trazendo números superiores ao dia a dia de qualquer folhetim.

Em Os Dez Mandamentos, no entanto, houve uma situação brochante. Um anticlímax horroroso, imperdoável para qualquer pessoa que entenda minimamente de um roteiro. O clímax da novela era justamente a travessia do Mar Vermelho, a fuga do Egito. Ainda assim, a novela se estendeu por mais algumas semanas e, no fim das contas, não terminou. Acabou com um “continua”.

O momento-título da novela nem chegou a acontecer, porque o protagonista, Moisés, sequer chegou a entregar as tábuas da Lei para o povo hebreu. Flagrando a traição de seu povo a Deus, o profeta quebrou as pedras e, em mais uma cena cheia de closes, caras e bocas, trilha exagerada e embarrigada (que é como se diz nas situações em que uma novela se enrola demais, quando não acontece nada relevante à trama), o folhetim acabou.

Isso é consequência do papelão — dessa vez — da Record. Impressionada com os números que nem mesmo ela esperava, perdida diante da falta de domínio sobre o que fazer com a trama de sucesso que tinham em mãos, tomaram decisões diferentes em dias seguidos a respeito do que viria depois de Os Dez Mandamentos. Com uma novela inteiramente gravada (Escrava Mãe) e temendo perder aquilo que havia conquistado, a emissora da Igreja Universal primeiro disse que levaria adiante seus planos de substituir a trama bíblica pela história de escravos (chegou até a exibir chamadas da nova novela). Em seguida, afirmou que colocaria no ar A Terra Prometida, sequência direta da saga de Moisés, mas ao ver que não conseguiria produzir a tempo o novo folhetim, cortou a trajetória do povo hebreu pela metade, anunciou uma segunda temporada, terminou a novela sem terminar, colocou no ar, pela terceira vez, a reprise de séries bíblicas, e está prometendo a sequência de Os Dez Mandamentos para o primeiro semestre deste ano, em, no mínimo, 60 capítulos. Depois deve estrear a história de Josué, sucessor de Moisés, na tomada da terra prometida, que dará título à novela.

Fato é que, com tudo isso, muito embora conquiste audiência e, de alguma maneira, um espaço de mais prestígio na produção de telenovelas, a Record demonstra amadorismo e falta de confiança em sua própria capacidade de fazer dar certo uma história anteriormente planejada (A Escrava Mãe) e revela estar perdida na administração da sua programação.

Embora a Rede Globo tenha perdido, em audiência, algumas batalhas, ela segue como vencedora da guerra. Ainda que a qualidade das histórias apresentadas tenha decaído muito nos últimos anos, os aspectos técnicos da emissora carioca são imbatíveis. E é sintomático perceber que, mesmo com resultados aquém dos habituais e perdendo público para a internet, para a TV sob demanda e os canais fechados, a Globo mantém-se como líder absoluta na teledramaturgia nacional. Tanto em qualidade técnica quanto em alcance.

Enquanto a Record não acreditar na própria capacidade e tratar a sua programação como uma brincadeira de criança, que desiste, retoma e volta atrás quando quer, ela nunca será uma Rede Globo. Esteja o Mar Vermelho aberto ou completamente fechado.

APOIE A CAMPANHA NO CATARSE PARA PUBLICAÇÃO DE EM BUSCA DO REINADO!

terça-feira, 25 de junho de 2013

A ingenuidade de quem defende o Feliciano

Deputado-pastor-charlatão Marco Feliciano, presidente
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
A pessoa precisa ser muito ingênua ou muito desonesta para defender o pastor-deputado Marco Feliciano, achar que ele não tinha opção, que não quis votar e não é culpa dele o projeto que – para não dar argumentos aos que defendem o parlamentar, não vou chamar de “cura gay” –, mas de proposta de alteração de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe esses profissionais de tratarem a homossexualidade como se fosse doença e de declarar, em público, que é possível reverter um “quadro de homossexualismo”. 

O argumento: não foi o Feliciano que apresentou o projeto. E daí? O autor da proposta é tão desprezível quanto ele, líder da bancada evangélica da Câmara dos Deputados, deputado João Campos (PSDB-GO). Chega a ser nojento que alguma pessoa acredite em boas intenções de gente como esses senhores. Eles até podem ter boas intenções, mas desde que tudo ocorra conforme os interesses deles. 
Deputado "bom mocinho" João Campos, claro, do PSDB

Mas seguimos com os argumentos: o presidente da Comissão, Feliciano, sequer pode votar. Por isso não teve responsabilidade na aprovação do referido projeto. E daí? Ele não pode votar, mas foi ele que colocou o projeto na pauta para votação! Insistiu nisso, declarou que fará “rebelião” na Câmara se o governo travar o projeto. Vocês ainda vão continuar dizendo que ele não tem responsabilidade sobre a proposta? 

A justificativa que motivou essa alteração na regulamentação em um Conselho Profissional – que não deveria se submeter à vontade e achismos de pessoas despreparadas e não formadas na psicologia – é que “se um heterossexual em dúvida com sua sexualidade pode procurar ajuda profissional, por que um homossexual não pode?”. Mas claro que pode! Quem está dizendo que não pode? O que não pode é o tratamento tentar conduzir a pessoa a acreditar que sentir desejo por pessoas do mesmo sexo é aberração! 

Primeiro é preciso ter a consciência – que estes deputados-charlatões não têm – que, se um heterossexual está em dúvida com sua sexualidade, ele, possivelmente, não é um heterossexual. No mínimo, bissexual. Se ocorrer apenas uma aventura, uma experiência, isso não torna a pessoa gay ou bi e também não vejo porque ela precise de ajuda. Pode se arrepender, não gostar do que fez, mas não vai entrar em um conflito interno tão grande que a faça procurar um psicólogo. 

Agora se essa aventura lhe trouxe dúvidas quanto aos seus desejos, despertou algo que ela não conhecia e o relacionamento com pessoas do mesmo sexo tornou-se mais frequente, aí sim, a pessoa pode estar confusa e precisando de orientação. Neste caso, é bem provável que ela esteja com a sexualidade reprimida. Não sou psicólogo, mas é algo lógico! Você não procura um profissional por um deslize, mas só se aquilo se torna recorrente e está te trazendo desconforto!

Neste caso, não é possível que o psicólogo tente tratar, curar a pessoa. Desde 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) não define homossexualidade como doença. Também não é uma prática. É uma condição, uma natureza, encontrada, inclusive no reino animal de tão instintiva que é! Logo, não se pode curar o que não é doença. O papel do psicólogo, neste caso, é levar a pessoa à aceitação, para que ela possa conviver com mais harmonia diante desse desejo existente dentro de si.

Reprimir, condenar, tratar, modificar o que a pessoa é só traz infelicidades. Eu conheço, pessoalmente mesmo, uma dezena de casos de pessoas que abandonaram casamentos de longos anos para viver uma relação homossexual. Perversão? Não! Na verdade, a pessoa só não aguentou mais fingir ser o que não é. Porém, nessa altura da vida, a situação já fica muito mais complicada de se resolver. Filhos, família, tudo fica mais próximo, mais íntimo, maior. O impacto negativo na vida de ambos é extremamente alto. Pra que deixar chegar a esse ponto? Uns até nem assumem uma relação: simplesmente se divorciam e vão viver sozinhos porque não aguentam mais aquela vida. Não é o que elas, no fundo, desejam. E passam o resto da vida amargurados, pois não aceitam aquilo que a natureza lhes impôs.

E na pior das alternativas, a pessoa se suicida. É muita pressão interna, é muita negação, é muita mentira para si mesmo. E isso não decorre apenas de pessoas não tratadas, mas também – e principalmente – àqueles que são tratados (principalmente por igrejas) e amargam infelicidade para o resto da vida. Não se enganem: lembram-se daquele pastor que se diz ex-gay, acredita na cura da homossexualidade, é casado, mas confessa “não poder chegar perto de homem”? E aquela instituição americana, ligada à religião, que depois de mais de duas décadas “tratando” homossexuais pediu desculpas públicas, fechou as portas e o presidente assumiu-se gay? 

E essa especialmente aos católicos: quantos meninos visivelmente afeminados abraçam o sacerdócio para “fugir” da sua condição? A fama da Igreja de pedófila não poderia ser muito evitada se isso não fosse tratado como aberração? Afinal, em algum momento, por erro, fraqueza, e, aí sim, um distúrbio causado pela negação, a pessoa externa naquilo que tem por perto: crianças.

Não são todos os casos. Não é regra. E se formos analisar casos de pedofilia a minoria é homossexual e a maioria causada por familiares, não padres. Mas se acontece é por existir um motivo que não foi tratado lá no início (aceitação), ou foi tratado errado (negação).

Portanto, não é competência dos nobres (?) deputados tocar neste assunto. A resolução do Conselho Federal de Psicologia é profissional, pautada em dados científicos. Achismos e crendices não ajudam em nada às pessoas que se sentem realmente transtornadas com a sua sexualidade.

Cada macaco no seu galho.

E pessoas: PAREM de defender o Feliciano. Como eu disse lá no início: é muita ingenuidade, pra não dizer desonestidade, irresponsabilidade. A mídia manipula, sim. Mas a informação correta é muito fácil de achar. Você pode procurar na ciência que vai lhe orientar corretamente, ou procurar outra rede de manipulação: a igreja, que vai lhe dizer que profissionais estão errados.

Manipulação por manipulação, eu fico com a mídia. Pelo menos ela é minha profissão e eu, com as competências que tenho, posso fazer dela um lugar melhor. Coisa que nenhum deputado (pastor) pode fazer.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Hipocrisia nas religiões: o motivo do atraso social brasileiro

Novo templo IURD: réplica da construção de Salomão
"Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai que vê num lugar oculto, recompensar-te-á" (Mateus 5, 5-6).

Parece que muitos religiosos esqueceram-se deste ensinamento de Jesus. Sim, ele também disse "Ide ao mundo e levai o evangelho à toda criatura", mas... além das palavras, Jesus ensinou aos cristãos a forma de levar este evangelho.

Jesus nunca empurrava nada "goela abaixo". Jesus nunca julgou, nunca condenou, nunca apontou o dedo, nunca excluiu, nunca cobrou. E Jesus também não invadia o espaço, a intimidade das pessoas; as suas vidas, o seu dia-a-dia, a sua rotina para falar de Deus.

Jesus não ficava toda hora falando "Glória a Deus", nem diminuía alguém por sua religião, profissão ou ideologias. Jesus, com atitudes, mostrava a melhor forma de viver e de se tratar o próximo.

Pois bem. Mesmo os não-cristãos precisam reconhecer que a figura de Jesus era inspiradora. Judeu, não se deixava levar pelos pensamentos pequenos dos iguais daquela época. Num tempo em que aquele povo não se dava com os samaritanos, julgando-os menores diante de Deus, Jesus contou uma parábola em que o homem-bom, que ajudou alguém que estava precisando de auxílio, era, justamente, um samaritano. Da mesma forma, protagonizou uma longa conversa com uma samaritana, que chegou a estranhar o fato de um judeu estar conversando com ela. Jesus não tinha preconceitos.

Valdomiro Santiago e o slogan: "A mão de Deus está aqui"
E sempre que Jesus fazia algo de bom, alimentando os famintos, realizando curas ou discursando com palavras de conforto, orientava as pessoas a não falarem de onde haviam conseguido ajuda. Ele não queria créditos para si. Queria apenas fazer o bem, pensar o bem e instigar as pessoas a agirem de modo igual.

Diante disso tudo é curioso que os líderes religiosos cristãos da atualidade estejam tão na contra-mão do que Jesus, de fato, fazia. É comum ver tais sujeitos unindo forças para fazer o mal e propagar o preconceito, a intolerância, a ditadura, o desrespeito e o ódio.

Odeiam os espíritas, os ateus, os maçônicos, os praticantes de religiões afrodescendentes, os muçulmanos, os gays, os socialistas e comunistas, os movimentos sociais e estudantis, entre tantos outros grupos sociais. Fazem campanhas para boicotar cantores, grupos musicais, filmes, programas de televisão e acham o demônio e mensagens subliminares em tudo que lhes apraz.
E pior: usam o povo, cobrando por suas "bem-feitorias" e afirmando que a graça só será obtida com a compra de travesseiros milagrosos, martelos da cura, óleos da unção e tantas outras bugingangas crentes.

Como se não bastasse, vinculam suas igrejas a programas de televisão, dominam os espaços vagos nas emissoras de TV, criam até slogans para seus empreendimentos/igrejas (um recurso exclusivamente comercial e nada bíblico) e estapam suas imagens nas placas das faixadas dos templos, auto intitulando-se "mensageiros de Deus".

Com toda essa triste realidade, a sociedade brasileira, e as leis de um país que deveria ser laico, acabam prejudicadas. Não se decide mais pelo bem da população, mas para o agrado dessas pessoas que não estão nem aí para Jesus. O Cristo é apenas o garoto-propaganda de suas empresas/igrejas que, beneficiadas pelo não-pagamento de impostos, lucram às custas da fé de gente humilde.

Daí forma-se a bancada evangélica na Câmara Federal para defender a moral, os bons costumes e a família. Mas esquecem de lembrar que o conceito de moral, bons costumes e família é diferente nas diferentes culturas. E que o Brasil não é um país de uma cultura só.

R.R.Soares viu que Edir Macedo se deu bem
e seguiu carreira solo
Ainda dizem que Sodoma e Gomorra foi queimada por causa dos gays. Tenho minhas desconfianças. Pra mim, ambas as cidades estavam cheias de pastores... digo... hipócritas!

"Eles devoram os bens das viúvas e dão aparência de longas orações. Estes terão um juízo mais rigoroso." (Marcos 12,40).

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O homossexualidade e a sociedade brasileira


Infelizmente, no mundo em que vivemos, impera a lei do mais forte. Nos primórdios dos tempos, o ser mais forte, respeitado e poderoso era a mulher: era ela quem gerava a vida. Dela vinha a posteridade. Assim como as plantas brotavam do chão e embelezavam a terra, os homens acreditavam que a mulher era o ser sagrado e único capaz de dar origem à outra vida humana. Quando os homens descobriram que sozinha a mulher nada podia, mas precisava do macho para procriar, iniciou o império masculino-machista: a mulher foi obrigada a obedecer o homem e, por muito tempo, não passou de mero objeto de pertence. Não era um ser humano: para o pai de uma menina recém-nascida, era a vergonha da família. Para o noivo, um pertence a ser conquistado no casamento. Para o marido, um objeto sexual e servil.

Algumas mulheres aprenderam que o seu lugar não era servir e sabiam da sua capacidade de realizar as mesmas tarefas que os homens, com a mesma qualidade, e lutaram por seus direitos no decorrer das épocas. Essas tornaram-se as mulheres que até hoje são a favor da justiça e contra o preconceito.
Não é para estas que vou falar neste texto.

Outras se acomodaram e aprenderam que o macho é quem manda, e passaram a achar natural essa soberania masculina; com o passar dos tempos, isso se tornou até inconsciente. E no decorrer da história da humanidade, muitas mulheres continuaram com a imagem do homem superior, dono do lar, partícipe da procriação, senhor da família e, a mulher, apenas sua companheira, ajudante do lar e, mais tarde, ajudante -também - das contas a pagar. A sociedade acatou isso. E prega isso até hoje.

Porém, desde os tempos mais remotos da história humana, existiram os homossexuais. Inicialmente, eles não eram a escória da socieadade. Muito pelo contrário. Na condição de escravas, as mulheres serviam apenas para procriar. Quando os homens estavam em busca de prazer, procuravam seus iguais.

Daí pode-se explicar porque tantas religiões condenam a prática homossexual: nos tempos remotos, ela estava ligada somente à promiscuidade, sem nenhuma carga de sentimento presente. Mas, da mesma forma como ficou provado - ao contrário do que a Igreja dizia - que negros, índios e mulheres têm sentimentos, sabemos, hoje, que os homossexuais também têm sentimentos. Dizer que gays e lésbicas não amam é o mesmo que concordar com islâmicos que cortam o clítoris das adolescentes assim que menstruam pela primeira vez, por acreditar que mulher não pode sentir prazer. Que elas não têm sentimentos. É retrógrado.

Mas se antigamente a homossexualidade era ligada à promiscuidade, hoje isso não se configura uma regra. Na verdade, sabemos, inclusive, que não se trata de uma doença, por exemplo. A Organização Mundial da Saúde já recomendou, há muitos anos, que não se usasse o termo "homossexualismo" porque o sufixo "ismo" indica doença, e não é o caso. A homossexualidade está ligada a fatores genéticos. Nada de "mãe que criou o filho brincando de boneca", ou "pai ausente". É no gene que isso está definido. Isso é ciência, não achismo. Portanto, não se trata de uma opção sexual, mas sim de uma orientação definida pelo próprio organismo da pessoa.

Até é impensado que alguém possa querer escolher envergonhar os pais, ser chacota da sala de aula, correr o risco de não ser aceito em uma proposta de trabalho, se submeter a situações de risco à criminalidade e violência ainda maior, ser ofendido, marginalizado, criminalizado, discriminado, ser motivo de piada, ser condenado, excluído, mal visto, pré-julgado, mandado ao inferno, impedido de doar sangue, ter direitos negados, ficar se escondendo para demonstrar afeto à alguém, entre tantos outros pontos negativos na sociedade dirigidos aos gays.

Partindo dessa breve contextualização histórico-científica, vamos abordar os principais pontos condenados por aqueles que insistem em julgar e reprimir os homossexuais:


Homossexualidade e promiscuidade
A promiscuidade NÃO É uma característica exclusiva, muito menos predominante dos homossexuais. Listemos apenas algumas ocasiões onde a promiscuidade está incutida e não se enquadra no "meio gay": o carnaval, propaganda de cerveja, letra de música sertaneja, letra de funk, bailarinas de programa de auditório, programas humorísticos da TV aberta, filmes (especialmente as comédias jovens americanas), as cantadas ridículas disparadas por homens para as mulheres em qualquer local público, as buzinadas que as mulheres recebem ao caminhar na rua, o comportamento jovem em qualquer concentração de rapazes e garotas com o álcool como ingrediente, festas em geral (as mulheres, geralmente, pagam menos pra haver muitas opções para os homens) e letras de rap americano.

Quando as pessoas associam homossexualidade à promiscuidade, estão pensando no homossexual como um ser que só pensa em sexo. E não é nada disso. O que ocorre, apenas, é que a pessoa homossexual não se sente atraída pelo sexo oposto. Portanto, ela não consegue desenvolver um sentimento de relacionamento amoroso, afetivo e sexual a dois, com uma pessoa do sexo oposto. O sexo é só mais um elemento, não o centro de tudo.

Há heterossexuais que são promíscuos e há os que não são. Com os homossexuais, funciona exatamente da mesma forma.

Homossexualidade e pedofilia Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Aliás, eu não me recordo de notícias onde o agressor sexual de um menor era gay. Muito pelo contrário: a grande parte das notícias envolvendo casos de abuso sexual contra crianças relatam que os crimes foram cometidos por familiares próximos. Ou seja: pais, padrastos, avôs e tios. Padres e pastores também se enquadram nesta lista. Ou seja, teoricamente, todas estas figuras são heterossexuais.

E mais: pedofilia não está ligada ao abuso sexual de crianças com o mesmo sexo do agressor. Em muitos casos, meninas são agredidas. Por homens, obviamente. É muito raro encontrar mulheres agressoras, embora exista e, quando ocorre, elas não são lésbicas.


Homossexualidade e Deus
Como cristão católico, tenho ciência da condenação imposta por Deus aos homossexuais descrita em Levítico e em I Coríntios. Mas paremos para analisar a Bíblia dentro do seu contexto histórico e teológico, e não apenas a tomemos como um livro cuja verdade deve ser seguida ao pé da letra.

Inicialmente, temos aquele ponto que citei lá no início do texto: nos anos A.C, a homossexualidade era, majoritariamente, tratada como algo promíscuo: os homens abandonavam suas mulheres para buscar prazer com outros homens. Não havia o que falei acima, sobre o sentimento. Era prazer. Eles tinham uma mulher, mas a trocavam. Semelhante a isso, o adultério também é condenado. Não deixa de ser um adultério.

Mas esta não era a realidade nos anos D.C, quando São Paulo escreveu sua epístola aos habitantes da cidade de Corinto. Apesar disso, a população desta cidade vivia no mundo do crime, do desrespeito e da prostituição. Além do pensamento de Paulo ter sido extremamente influenciado pelas questões machistas-históricas que também já listei.

Mas agora passemos para a questão teológica da análise: Jesus, sendo Deus, segundo o cristianismo, em nenhum momento condenou a prática homossexual. Diriam os fanáticos que é porque não houve um fato que o levaria a isso. Eu discordo. Vejam o que Jesus disse a respeito da antiga lei:

"Sabendo os fariseus que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à prova: 'Mestre, qual é o maior mandamento da lei?'. Respondeu Jesus: 'Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito'. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas'". (Mateus 22, 34-40).

Se ainda assim nossos amigos conservadores não acreditarem que Deus não é tão radical contra algo que ele mesmo criou (segundo a ciência, um fator genético, natural, encontrado, inclusive, no reino animal), podemos analisar outros fatos que a antiga lei condenava e que Jesus, o Cristo, Senhor máximo do cristianismo e regente de todos os dogmas das milhares de placas de igrejas de todos os pastores brasileiros e internacionais, deu nova luz:

O que dizer da parábola do bom samaritano? Os samaritanos eram tidos pelos judeus (Jesus era judeu) como um povo indigno do olhar divino, e Jesus se referiu ao samaritano como sendo o homem-bom da sua mais conhecida parábola. (Lucas 10, 25-37). Não obstante a isso, Jesus se dirigiu à samaritana, igualmente impura para os judeus, o que causou espanto a ela mesma. (João 4, 1-26).

E mais: a mulher adúltera, prostituta, que iria ser morta a pedras pelos fariseus e doutores da lei, a quem Jesus salvou com uma de suas falas mais emblemáticas: "Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra." (João, 8, 7).

E o ladrão ao lado da cruz? Mal pela vida toda, mostrou fé e confiança em Jesus no último momento, sendo que em nenhum momento ele havia respeitado sequer o maior mandamento que já citamos aqui! (Lucas, 23, 40-43).

Acho que temos indícios suficientes que o que mais importa para Deus, e para o próprio Cristo, é o amor. Independente de sexo. Respeito mútuo e amor ao próximo e a Deus sobre todas as coisas: isto é a lei. O que salva é a fé (Conforme Lucas 18, 42; Lucas 17, 6; Marcos 10, 52; Mateus 15, 28; entre outras). Quando ao resto, discutirei no próximo post (as igrejas e suas hipocrisias).


Homossexualidade e violência
Recentemente, em Jaraguá do Sul, norte de Santa Catarina, um rapaz morreu agredido a golpes de chutes e faca por outros três garotos. Eles brigavam por uma menina.

Da mesma forma, todos os fins de semana, por festas em todo o Brasil e o mundo, quantas brigas são motivadas pelos machões enciumados e esquentadinhos nas baladas e bailes heteros? Em balada gay, isso raramente acontece.

Da mesma forma, não existem registros, nem fatos, nem inquéritos criminais, de pessoas que foram assassinadas ou violentadas por serem heterossexuais. Mas por serem gays, sim. Muita gente é violentada todos os dias e existem absurdos índices de homicídios.

Como se não bastasse, pela pressão psicológica imposta pelas igrejas e pela própria sociedade, muitos jovens tiram a própria vida por acreditarem estar pecando. Porque acham que são problemáticos ou anormais e porque creem que vão pro inferno se viverem numa vida homossexual. É sabido que isso acontece, mas, infelizmente, não há estatísticas, porque dados envolvendo suicídios não são divulgados.

Além disso, existe a violência em casa. Pais e mães que agridem verbal e fisicamente seus filhos quando descobrem sua condição sexual. E pra piorar, os expulsam de casa. E por quê?


Homossexualidade e os direitos humanos e civis
É muito complicado, ainda, embora sem motivos, tratar com naturalidade dois homens ou duas mulheres se beijando na rua. Mas matar esse tabu é mais do que urgente.

Casais homossexuais se obrigam a demonstrar afeto na surdina, no escuro, nos cantos. Não estão cometendo crime algum, mas são obrigados a se misturar a traficantes, drogados e ao risco em geral se quiserem dar um abraço mais afetuoso ou um beijo. Isso é a porta de entrada para o assassinato. Afinal, há quem se aproveite dessa situação para matar um homossexual, porque está num lugar deserto e não há testemunhas. Absurdo? Mas acontece!

Além disso, existem casais que passam anos construindo uma vida juntos e não podem assumir todas as conquistas como um bem conjunto, unicamente porque a legislação brasileira não permite o casamento gay, embora a união civil já seja uma realidade - contestada por alguns juízes, é verdade - mas atestada pelo Supremo Tribunal Federal.


Homossexualidade e a perpetuação da espécie humana
Milhares de crianças no mundo todo estão órfãs, esperando adoção. Foram largadas ao mundo porque alguém as pôs no mundo sem planejamento. Nem sempre são fruto de relações conflituosas. Muitas vezes nasceram no seio de uma família, mas são indesejadas.

Do lado de quem quer adotar, há preferência: bebês brancos. De olhos claros, se possível. Assim, aquelas crianças mais crescidas crescem órfãs e às vezes chegam à juventude sem terem tido uma família.

Na China (país mais populoso do mundo), a quantidade de filhos por casal é limitada a um. Com medo de aumentar a população contra a vontade do governo, muitas vezes, ao nascer uma menina, os pais matam a criança, ou a abandonam em qualquer lugar (como na foto ao lado). Quem tem mais de um filho, paga multa.

E se o mundo não fosse cheio de miseráveis e todo mundo conseguisse levar uma vida razoável e digna, os recursos naturais do planeta seriam insuficientes para dar conta da população mundial.

A água é um recurso renovável, porém, finito. Sabem por quê? Simplesmente porque ela não consegue se renovar com a mesma velocidade do crescimento populacional. Exatamente por isso, dentro de menos de 25 anos, centenas de novos países vão sofrer com a falta d'água (alguns já sofrem com isso).

Querem encher ainda mais o mundo?

Ah! E só um "p.s.": os homossexuais ainda são minoria. E sempre foram. Logo, não são eles que serão responsáveis pelo extermínio da espécie humana. E apesar de não terem atração pelo sexo oposto, não lhes foi tirada a condição natural de procriação.
Considerações Finais
Diante de tudo isso é preciso PARARMOS com esse discurso de ódio. Se o seu ódio por gays é pelas questões religiosas, lembre-se do que Jesus disse: "Não julgueis e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. Porque olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu?" (Mateus, 7, 1-4).

Se o seu ódio é por perder os seus direitos civis para ceder a outrem, fique tranquilo: brancos não perderam seus direitos para ceder aos negros, homens não perderam direitos para ceder às mulheres, pessoas fisicamente perfeitas não perderam direitos para ceder à quem tem necessidades especiais. Não é agora que isso vai mudar. Muito pelo contrário: homens brancos e fisicamente perfeitos continuam sendo os que têm mais direitos e oportunidades no mundo.

Agora se o seu ódio é porque o conceito de família está sendo deteriorado, fique tranquilo: se amarmos uns aos outros, não é preciso a família do modo tradicional. Com respeito e carinho, todos viverão bem. Mas enquanto lutarmos cegamente, unicamente por convenção, que a família tem de ser pai, mãe e filhos (o cachorro e o papagaio, quando possível), haverão mulheres sendo violentadas sem poder se separar (para manter a família), problemas financeiros familiares porque o pai é dependente químico (para manter a família), filhos infelizes porque os pais querem que eles sigam uma carreira pré-determinada (para manter a família) e tantos outros problemas que só o amor e uma família construída com sentimentos verdadeiros e duradouros, cheios de carinho e respeito - e não a família padrão - é que vão impedir.

Enfim, se seu ódio não tiver explicação, nem motivos, nem argumentos, se interne. Você é infeliz, mal-amado e o problema não está na homossexualidade. Está em você.



Créditos das fotos:

3ª foto: Elza Fiuza/ABr
4ª foto: Thiago Bernardes/UOL
Demais: DIVULGAÇÃO

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