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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

O que está acontecendo com o SBT?


Não é difícil responder a esta pergunta: o declínio do SBT é falta de investimentos, de renovação, de criatividade. Não tem nada a ver com uma eventual derrocada da TV aberta, não.

A TV aberta deixou de ser hegemônica, isso é indiscutível, mas ela ainda é forte e resistirá por muito tempo ainda, principalmente no Brasil. Não há outro meio de comunicação mais democrático, barato e acessível do que a TV aberta. Quem falar aqui em streaming vai levar um peteleco na orelha, porque isso é pensamento de quem conhece pouco (e mal) a realidade do Brasil e suas desigualdades tecnológicas, econômicas e geográficas.

Mas voltemos ao SBT. Atualmente, a emissora ocupa o terceiro lugar no PNT (Painel Nacional de Televisão, índice medidor da audiência nas principais capitais e regiões metropolitanas do país) e em São Paulo (principal mercado publicitário do Brasil). Perdeu a vice-liderança para a Record que, mesmo vendendo a madrugada para a igreja Universal e dando traço de Ibope (ou seja, quase não pontua nas medições), ainda consegue superar a emissora de Silvio Santos na média-dia.

E eu cito a Record porque, embora seja a vice-líder, ela está longe de ocupar o coração e a preferência dos brasileiros. A Record até faz bons números, mas está longe de ser um fenômeno, de provocar memórias afetivas ou de ser assunto em roda de conversa.

Então, a perda do SBT tem mais a ver com a incompetência e imobilidade dos gestores e criativos do que com um eventual mérito da emissora de Edir Macedo.

O SBT de ontem

Topa Tudo por Dinheiro, um clássico do SBT

Por que falar agora do SBT? Porque me entristece a situação atual da emissora. Embora sempre tenha ocupado a "Liderança absoluta do segundo lugar", como ela própria divulgou décadas atrás em um de seus slogans, ela é parte da história e da memória afetiva da televisão brasileira, algo que a Record jamais alcançou e também não dá indícios de que vá alcançar.

Foi o SBT que trouxe o Bozo para o Brasil, que alavancou a carreira de Angélica, Marília Gabriela, Mara Maravilha (credo!), Eliana, Gugu Liberato, Maísa Silva, Serginho Groisman e Celso Portiolli, que fez o Brasil conhecer e dançar com ET e Rodolfo, que escandalizou (e sexualizou) o país com a banheira do Gugu, que tornou a torta na cara algo divertido... enfim... muito da cultura popular brasileira passou pelo SBT.

Silvio Santos e o elenco da primeira edição da
Casa dos Artistas: reality venceu a Globo.

Foi no SBT que o reality show Ídolos virou uma febre nacional ― e perdeu a graça quando foi para a Record. No SBT, Super Nanny causou alívio a muitos pais e revolta em educadores, psicólogos e pedagogos. O SBT criou a Casa dos Artistas, um dos únicos programas na história a vencer o Fantástico. Do SBT veio Chaves, que virou mania nacional e segue sendo amado até hoje. E também de lá conhecemos clássicos mexicanos como Maria do Bairro ― a telenovela mais assistida do mundo ―, assim como as duas outras Marias da trilogia de Talia: a Marimar e a Mercedes.

No SBT assistimos A Usurpadora e rimos do absurdo título Pícara Sonhadora. Tem o Disney Cruj que permanece na memória afetiva das crianças dos anos 1990, assim como o divertido Fantasia (quem não lembra do “I de escola” da Carla Perez?), o Show do Milhão, o Qual é a Música?, Rebeldes ― que, de novo, perdeu a graça ao ir para a Record ― e, como deixar de fora, o Popstar, que revelou o fenômeno arrasa-quarteirão Rouge e, mais tarde (mas com menos intensidade) o Br'oz.

No SBT o Ratinho deixou de ser um policialesco ridículo como era na Record e se tornou um circo. E se hoje o programa é ridículo tal qual seu apresentador, no seu auge (em que quase derrotava a novela da Globo) era, no mínimo, divertido.

No SBT vimos todos os filmes do Harry Potter e de O Senhor dos Anéis, clássicos modernos incontestáveis. E foi no SBT que tivemos o melhor tratamento para a transmissão da cerimônia do Oscar, que a Globo sempre mostrou incompleto.

Apesar de ter passado por quase todas as emissoras que já existiram no país, Hebe Camargo deixou sua marca no SBT e era a cara da emissora. Assim como Carlos Alberto de Nóbrega, que segue com a sua A Praça é Nossa, programa que nos tempos áureos brigava com Chico Anísio nas noites de sábado da Globo.

E, claro, o SBT é a casa de Silvio Santos. Como esquecer do peão do Baú, do Tentação (sinto saudades, inclusive), das pegadinhas que até hoje são reprisadas de tão divertidas?

 O SBT de hoje

Sem Chaves, Silvio Santos inventou um programa
sobre nada para preencher os buracos na grade.
Reprises sempre foram o forte do SBT. É de se perder as contas a quantidade de vezes que a emissora reprisou as já citadas Maria do Bairro e A Usurpadora. O Chaves e o Chapolin Colorado, então, foram repetidos ao infinito ― e continuariam sendo, não fosse o imbróglio de direitos autorais entre Televisa e o herdeiro de Bolaños. Porém, sempre haviam atrações novas e interessantes, e isso já não existe.

Hoje o SBT é TV de reprises de conteúdos que já perderam o apelo (como das novelas infantis, cujo público já cresceu e um novo público não está sendo alimentado com novas histórias) e programas desinteressantes. A ausência de Silvio Santos, causada pelas limitações da pandemia de Covid-19 empurrou as filhas do apresentador a assumir a posição dele. Era um movimento esperado, claro, considerando a idade do animador. Porém, a perda da graça só prova que as filhas dele não têm o mesmo apelo, nem o mesmo carisma.

Hoje ninguém lembra do SBT. A TV não produz nada que fique na memória das pessoas. Celso Portiolli comanda um Domingo Legal que se divide entre Passa ou Repassa (repassado) e um jogo patrocinado pela loja de um lunático. Eliana, ainda que vença na audiência, tem um programa assistencialista sem animação alguma. O Casos de Família perdeu o apelo, as novelas mexicanas soam cada vez mais desinteressantes com a farta oferta de conteúdos melhores em várias mídias e nem os programas do Baú chamam a atenção.

Vem pra Cá: uma das poucas criações recentes e
originais da emissora. Com apresentadores sem
carisma, atração durou apenas 10 meses.

O jornalismo é pífio e qualquer novidade esbarra na falta de investimento em conteúdo e equipe (caso do terrível Fofocalizando) e na total ausência de carisma dos apresentadores (como visto no extinto e breve matinal Vem Pra Cá). Sobra o esporte, no qual a emissora tá se agarrando como uma boia de salva-vidas. Mas nem nisso o SBT consegue agradar. A maior parte das pessoas que acompanha futebol não gosta das transmissões da emissora. Sobram reclamações e as competições são jogadas no meio da programação com quase nenhum outro espaço ao longo da grade da emissora. É como se o futebol fosse um espaço comprado, não uma atração integrada às demais atrações.

Além do mais, a falta de experiência e cacife para manter os campeonatos coloca a TV em risco. As ligas europeias até podem permanecer na casa, considerando que seus principais concorrentes são TVs pagas, mas a Libertadores, por exemplo, já sofreu uma dura investida da Globo, que a quis de volta para sua programação.

Se, no combo, o SBT perder o Silvio Santos, a emissora corre o risco de morrer. Corre o boato que o homem do Baú já colocou a TV à venda por R$ 1 bilhão. A ver se alguém interessa. Se continuar com os Abravanel, é capaz de virar uma Record 2, mas com menos investimento e com conteúdo religioso e um ou outro reality show para preencher a programação. Se for vendida, corre o risco de virar mais uma Rede TV ou ser porta-voz das sandices da Jovem Pan, que até pouco tempo procurava uma rede aberta para estrear seu canal de notícias — acabou ficando na TV fechada mesmo.

Seja como for, sem uma profunda e urgente mudança, o SBT não sobrevive. Sem investimentos em streaming e com uma programação velha e modorrenta, não sobrarão atrativos aos telespectadores e muito menos ao mercado publicitário. Triste. Esperamos que minhas previsões não se concretizem e que a TV da Anhanguera se profissionalize para lembrar os bons tempos. Fazer isso descolando-se da imagem de Silvio Santos será um desafio, mas indispensável à sobrevivência da empresa.


domingo, 6 de agosto de 2017

A volta da Xuxa que nos encantou

Xuxa Meneghel é um inquestionável fenômeno da história da televisão brasileira. Não é uma figura unânime, é verdade, mas inegavelmente ela foi importante para muita gente (eu inclusive, e é bom que isso fique bem claro desde aqui), seja porque divertia nossas manhãs, seja porque despertou em muitos meninos e meninas muitos sonhos, muita criatividade, muita imaginação.

Xuxa em "Xuxa no Mundo da Imaginação": lento e sem graça
Portanto, era triste observar a decadência que a eterna Rainha dos Baixinhos vinha protagonizando de uns anos para cá. Desde 2002, quando ela decidiu interromper a carreira que vinha construindo com foco no público adolescente para reembarcar em um projeto infantil a bordo do pavoroso Xuxa no Mundo da Imaginação (2002-2004), a senhora Meneghel não acertou a mão em nenhum novo programa.

Seu TV Xuxa (2005-2014) mudou de público, de horário, de formato, de tom, de dia de exibição, enfim, incontáveis vezes. Era uma espécie de tapa-buraco da Rede Globo. Até que a emissora dos Marinho desistiu: Xuxa era aquele tipo de tralha que a gente guarda em casa unicamente pelo valor sentimental, mas sem utilidade alguma. Depois de meses na geladeira, a loira se tocou que não era mais indispensável para a emissora carioca e decidiu se aventurar na TV do bispo Edir Macedo.

O primeiro programa na Record: chato e sem conteúdo.
Quando chegou à TV Record, em 2015, eu, pessoalmente, queria muito que esse projeto desse certo. Xuxa tem carisma, tem história, tem bagagem para assumir um programa de TV. Mais que isso: precisava de uma casa que acreditasse nela, que a desse espaço e que não a encarasse apenas como um tapa-buraco, mas como uma peça-chave, fundamental para os bons números de uma emissora. E a Record, ao que parecia, estava confiando nisso. Faltava à emissora da Universal um programa que saísse daquele melodrama de assistencialismo chato, ou do jornalismo policialesco, ou das novelas bíblicas sem criatividade, e trouxesse algo novo. Xuxa representava isso.

Porém, o Xuxa Meneghel não tinha assunto! Depois de relembrar o passado construído na Globo, a loira não tinha mais o que dizer. Ela levou a Cláudia (do meme), visitava as pessoas que a apreciavam por seu trabalho no Xou da Xuxa, enfim... era um ode ao passado. Ruim para a Record, porque Xuxa não estava construindo uma nova estrada, mas insistindo em olhar para trás, para a Globo, e ruim para a própria Xuxa que, aos poucos, começava a ficar chata e entediante, inclusive para mim.

Nos tempos áureos do Xou da Xuxa, onde ela parou no tempo
No início, resolvi acompanhar todos os Xuxa Meneghel. Conforme as semanas foram passando, essa tarefa começou a se tornar cada vez mais obrigatória e menos prazerosa, até que desisti completamente. A Record também desistiu, porque tirou Xuxa da apresentação ao vivo e passou a gravar o programa. Foi a primeira baixa.

A audiência era a prova de que o desinteresse não era um caso isolado meu. E bastava eu lembrar que existia um programa da Xuxa às segundas-feiras e resolver sintonizá-lo, para sentir aquele embaraço, aquele tédio. Era impossível digerir o programa até o final. Ele simplesmente não tinha conteúdo, resumindo-se a brincadeiras entediantes, convidados desconhecidos de atrações desconhecidas da Record e da Xuxa se engalfinhando com seu namorado.

Dancing Brasil: o renascer de Xuxa


O que nos traz ao Dancing Brasil. Formato original da ABC norte-americana, baseado no Dancing With The Stars, a atração reúne famosos disputando um prêmio em dinheiro. Para chegar a ele, os convidados devem passar por uma série de provas que consistem em dançar diferentes ritmos musicais a cada semana. Aqueles que recebem a pior nota do júri são eliminados pelo público.

Se lá fora o interessante é acompanhar artistas não familiarizados com as pistas de dança aprenderem ritmos diferentes a cada programa, aqui a atração principal é Xuxa. Sim! Finalmente a loira se encontrou, por mais que a rigidez da direção (que acaba estragando todos os realities da Record, por tirar a desenvoltura e a naturalidade dos apresentadores) obrigue a apresentadora a se ater totalmente ao teleprompter.

Os convidados são completamente inexpressivos. É um conjunto de artistas da Record, que se perdem naquelas novelas repetitivas e maçantes. Mesmo que muitos sejam ex-globais, tenham carreira no teatro e até passagem pelo cinema, a Record estraga com todos, por envolvê-los em projetos incapazes de extrair alguma memória afetiva popular (com raras exceções, uma delas, justamente por ser um ponto fora da curva, divide a apresentação com Xuxa: Sérgio Marone). Um leve destaque se dá por aqueles que não têm carreira na Record, como músicos e atletas. Mas nem todos são unanimidade. Então, em geral, não são os artistas fazendo papel de dançarinos que emprestam algum divertimento ao programa. Tudo é Xuxa.
Enfim, Xuxa se encontrou no "Dancing Brasil".

Xuxa dança (ao contrário dos apresentadores desse programa nos diversos países para os quais é licenciado), contraria os jurados (é o escape de personalidade dela que ela consegue imprimir ao show), faz piada com os convidados e se porta como aquela tia que não entende de nada do assunto, mas diverte pelos seus comentários non sense.

Finalmente, portanto, temos a Xuxa que todos gostamos de volta à TV. E eu esperei terminar uma temporada do Dancing Brasil para ver se o ritmo (perdoem o trocadilho) desse programa não iria cair, como aconteceu com o Xuxa Meneghel. E não! Xuxa só melhorou: começou a ficar mais à vontade à frente do programa e levantou a audiência da Record, fato impensável no seu programa anterior. Tal fato demonstra a aceitação do público e o quando a loira, dessa vez, está agradando.

Enfim, Xuxa tem tudo para voltar a divertir a todos verdadeiramente. Precisou ela entender que, para isso, era necessário pavimentar uma nova estrada, e não ficar resgatando as coisas lá de trás, por mais incríveis e memoráveis que elas tenham sido. Confesso que sinto um pouco por ela estar fazendo isso utilizando-se de um formato não original, licenciado. Mas, quem sabe, esse seja o primeiro passo para que ela venha nos brindar com novas atrações, que reacendam o encanto que a eterna Rainha dos Baixinhos (e agora dos bailarinos) sempre nos proporcionou.

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domingo, 10 de janeiro de 2016

Os Dez Mandamentos e o papelão na dramaturgia da Record e da Globo em 2015

O ano de 2015 marcou algumas das situações mais bizarras da televisão brasileira. O conservadorismo cada vez mais doentio da sociedade, que torna incapaz de aceitar o diferente, o novo, associado a um clima de hostilidade entre as pessoas, acabou atingindo o comportamento do brasileiro diante da telinha.

É que no dia 16 de março a Rede Globo estreou sua nova novela das nove: Babilônia. Escrito a seis mãos, entre elas o experiente Gilberto Braga (de Escrava Isaura, Vale Tudo, Celebridade), junto com João Ximenes Braga e Ricardo Linhares, apoiados por um elenco estelar, com grifes como Fernanda Montenegro, Glória Pires, Adriana Esteves, o folhetim causou espanto do público já no primeiro episódio, ao exibir a cena de um beijo lésbico entre as personagens de Montenegro e Nathalia Timberg.

No dia seguinte, campanhas de boicote, inclusive vindas do Congresso Nacional, e mensagens raivosas à Natura, patrocinadora do programa, pedindo para que fosse retirada a publicidade na novela, se espalharam pelas redes sociais e, principalmente entre as igrejas.

É gente, as igrejas estão cada vez mais querendo dizer até mesmo o que deve e o que não deve passar na televisão.

Não à toa que, na semana seguinte, no dia 23 de março, a Rede Record levou ao ar aquilo que ela chamou como “a primeira novela bíblica da história da televisão”, Os Dez Mandamentos: um prato cheio para todos aqueles que estavam fazendo campanha contra a Rede Globo. E prato cheio para as igrejas também, claro. Não que a história de Vivian de Oliveira tivesse sido fiel e correta em relação aos escritos bíblicos, mas isso é detalhe diante de tudo o que a novela mostrou.

Um pouco mais adiante, caros leitores, eu devo mencionar o papelão da Record em relação à sua falta de planejamento no tocante a este projeto. Mas antes de chegar lá, quero registrar que até mesmo a gigante Globo se comportou de maneira vergonhosa diante do fracasso da sua novela e do avanço da concorrência no horário.

É que, para agradar aqueles que estavam apedrejando Babilônia, a Globo recomendou que a novela fosse totalmente alterada. Com isso, personagens ficaram descaracterizados, outros desapareceram, alguns núcleos tornaram-se inúteis, tramas que prometiam um desenrolar interessante foram descontinuadas e, aqueles que ainda se interessaram minimamente por todas aquelas coisas novas que haviam sido propostas, foram desanimando ao ver o que a narrativa estava se tornando: aos poucos, uma colcha de retalhos sem sentido.

Como as alterações não causaram nenhum efeito positivo, a Globo começou a promover um tal de estica-e-puxa na grade que ficou feio de se ver. Jornal Nacional ficava mais longo, novela mais curta, outros dias um atrasava, ou adiantava, enfim... Uma bagunça que só.

Com tudo isso, a Record se beneficiou. Em primeiro lugar, como eu disse, a onda conservadora que está inundando o país se sentiu prestigiada ao ver a adaptação de uma conhecidíssima e milenar história religiosa. Depois, com o comportamento primário da Globo, mais pessoas resolveram conferir o que havia no canal ao lado, ao perceber que a gigante da teledramaturgia estava perdida na condução do seu principal produto. E, por último, e — na minha visão — menos importante, a necessidade das pessoas de buscarem uma trama escapista, diante de tantas notícias ruins e indignantes que reinaram na imprensa nacional em 2015. Neste sentido, Os Dez Mandamentos era como uma massagem para o anseio de entretenimento longe da realidade, algo que Babilônia não estava propondo.

Mas muito do que eu disse aqui já é bem conhecido de quem acompanha notícias sobre os bastidores da TV. O ponto que eu queria chegar era especificamente sobre a trama de Os Dez Mandamentos. A novela fez história ao bater, em audiência, o principal produto da televisão brasileira (a novela das nove da Rede Globo) e ao dar índices de duas casas decimais à Record, nada acostumada a essa realidade.

O burburinho que a novela causou nas redes sociais também foi uma coisa digna de registro. Foi uma trama comentada, que incomodou a Globo, mexeu também com as outras concorrentes, alterou o comportamento do brasileiro diante da TV e pegou até mesmo a própria Record desprevenida.

Mas tudo isso, devo dizer, não tem nada a ver com a qualidade da novela. Muito pelo contrário. Como também já ressaltei, a Record foi feliz por colocar na sua grade um produto certo na hora certa. Nem mesmo os efeitos digitais importados da mesma empresa responsável pelo seriado The Walking Dead são dignos de elogio, ao se considerar as questões técnicas e artísticas.

A novela parecia mais um teatro de igreja: os figurinos extremamente coloridos, a direção de arte e os cenários completamente artificiais, as atuações exageradas (quando não mecânicas), as falas impostadas demais (isso quando não se tentava fugir da formalidade e acabava caindo no extremo oposto: a coloquialidade exagerada), sem contar com o tom de pregação que a novela cultivou ao longo dos seus mais de 170 capítulos. Um martírio. Teve até extintor de incêndio que apareceu em um dos capítulos (em pleno Egito Antigo), revelando a falta de precisão da equipe técnica a certa altura, já que o ritmo de gravações estava extenuante.

A cena da travessia do Mar Vermelho, ponto alto da trama, conseguiu ser mais chata do que piada de tio velho na ceia de Natal. Blocos inteiros com closes sem diálogos, cheios de caras e bocas, com efeitos digitais vergonhosos (ok que é extremamente caro executar coisas desse tipo. Mas se viram que a coisa ia ficar tão artificial, poderiam diminuir um pouco a escala). Mas não. Na visão do elenco e da produção, a Record estava colocando no ar a sétima maravilha do mundo. Não havia nenhuma autocrítica. Iludidos pelos números, tomaram para si a crença de que o produto era inquestionável, primoroso, de fazer inveja de Hollywood. Quanto engano!

Não deu outra: após este ápice da história, a audiência caiu, segundo o Ibope. Curiosamente, essa é uma característica totalmente contrária a qualquer telenovela. Normalmente os últimos capítulos é que batem recordes, que chamam um público que não costumava acompanhar a trama, e o desfecho de qualquer novela acaba trazendo números superiores ao dia a dia de qualquer folhetim.

Em Os Dez Mandamentos, no entanto, houve uma situação brochante. Um anticlímax horroroso, imperdoável para qualquer pessoa que entenda minimamente de um roteiro. O clímax da novela era justamente a travessia do Mar Vermelho, a fuga do Egito. Ainda assim, a novela se estendeu por mais algumas semanas e, no fim das contas, não terminou. Acabou com um “continua”.

O momento-título da novela nem chegou a acontecer, porque o protagonista, Moisés, sequer chegou a entregar as tábuas da Lei para o povo hebreu. Flagrando a traição de seu povo a Deus, o profeta quebrou as pedras e, em mais uma cena cheia de closes, caras e bocas, trilha exagerada e embarrigada (que é como se diz nas situações em que uma novela se enrola demais, quando não acontece nada relevante à trama), o folhetim acabou.

Isso é consequência do papelão — dessa vez — da Record. Impressionada com os números que nem mesmo ela esperava, perdida diante da falta de domínio sobre o que fazer com a trama de sucesso que tinham em mãos, tomaram decisões diferentes em dias seguidos a respeito do que viria depois de Os Dez Mandamentos. Com uma novela inteiramente gravada (Escrava Mãe) e temendo perder aquilo que havia conquistado, a emissora da Igreja Universal primeiro disse que levaria adiante seus planos de substituir a trama bíblica pela história de escravos (chegou até a exibir chamadas da nova novela). Em seguida, afirmou que colocaria no ar A Terra Prometida, sequência direta da saga de Moisés, mas ao ver que não conseguiria produzir a tempo o novo folhetim, cortou a trajetória do povo hebreu pela metade, anunciou uma segunda temporada, terminou a novela sem terminar, colocou no ar, pela terceira vez, a reprise de séries bíblicas, e está prometendo a sequência de Os Dez Mandamentos para o primeiro semestre deste ano, em, no mínimo, 60 capítulos. Depois deve estrear a história de Josué, sucessor de Moisés, na tomada da terra prometida, que dará título à novela.

Fato é que, com tudo isso, muito embora conquiste audiência e, de alguma maneira, um espaço de mais prestígio na produção de telenovelas, a Record demonstra amadorismo e falta de confiança em sua própria capacidade de fazer dar certo uma história anteriormente planejada (A Escrava Mãe) e revela estar perdida na administração da sua programação.

Embora a Rede Globo tenha perdido, em audiência, algumas batalhas, ela segue como vencedora da guerra. Ainda que a qualidade das histórias apresentadas tenha decaído muito nos últimos anos, os aspectos técnicos da emissora carioca são imbatíveis. E é sintomático perceber que, mesmo com resultados aquém dos habituais e perdendo público para a internet, para a TV sob demanda e os canais fechados, a Globo mantém-se como líder absoluta na teledramaturgia nacional. Tanto em qualidade técnica quanto em alcance.

Enquanto a Record não acreditar na própria capacidade e tratar a sua programação como uma brincadeira de criança, que desiste, retoma e volta atrás quando quer, ela nunca será uma Rede Globo. Esteja o Mar Vermelho aberto ou completamente fechado.

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domingo, 3 de janeiro de 2016

O meu preconceito que me envergonha e o processo de desconstrução

Quando resolvi assumir o compromisso pessoal de manter este espaço atualizado, meio que fiz uma revisita às publicações antigas. O objetivo era verificar a periodicidade dos posts, em quais momentos eu havia sido mais dedicado ao blog e como eu me organizava para garantir que ele sempre tivesse conteúdo novo. Mas este exercício acabou resultando em uma outra reflexão, que quero compartilhar com vocês.

A primeira constatação: como o meu texto evoluiu! Não só em questão de estilo, mas na precisão da escrita mesmo. É até vergonhoso verificar como as coisas eram, a maneira como eu organizava as ideias, a forma de colocar os argumentos, enfim... E isso que eu achava que escrevia razoavelmente bem.

Mas o desconforto em ver a minha escrita anos atrás não é nada se comparado à minha evolução como pessoa. Neste item, sim, eu me senti profundamente enojado com certas coisas que eu mesmo colocava.

Machismo disfarçado de  "sou romântico"

 

A primeira coisa que notei foi como eu era machista! Num post vergonhoso intitulado “A mulher perfeita”, por exemplo, ao “analisar” o comportamento feminino em uma sexta à noite, eu escrevo: “Chuva e frio e cambada [olha que construção horrível] de mulher de top e minissaia. Quando não,
um vestidinho fino e curto. É bom ver, não nego [o grifo não é original], mas muito mais bonito seria algo menos ridículo”.

A maior escrotice, além de querer ditar com qual vestimenta as meninas podem ou não se sentir à vontade para se divertir é dizer “é bom ver, não nego”. Gente! Como eu podia pensar assim? Que ridículo! Que vergonhoso! Como se as mulheres fossem alguma mercadoria exposta para que eu diga “estão ridículas, mas é bom ver”. Como se elas estivessem se vestindo para me agradar. Como se devessem obedecer às vontades e desvontades dos machos de plantão. É bom mesmo que eu tenha evoluído nesse aspecto.

Em outro post, “Marcando posições”, destilo meu preconceito ao afirmar, taxativamente, que funk não é música. E no mesmo post, em certo “argumento”, faço mais uma colocação nojenta e machista, que não vem ao caso (tem algo a ver com “pegar” mulher).

Enfim, os exemplos são inúmeros. E a partir daí comecei a notar o quanto eu precisei exercitar a desconstrução para ser uma pessoa mais crítica e com um pouco mais de senso de justiça. Não vou dizer que hoje sou um ser perfeito, que alcancei o nirvana e sou dotado de todo o conhecimento do mundo. Não! Até porque, daqui a alguns anos, vou reler outros posts do blog e ver o quanto eu fui ridículo em novas situações.

Mas o fato é que percebi o quanto eu era preconceituoso, machista e homofóbico. Talvez ainda o seja, mas em outra medida. A diferença é que hoje me policio e sei, na maior parte das vezes, quando estou falando uma bobagem. E ainda que não tenha expressado claramente nenhuma posição homofóbica em algum texto do blog, lembro como eu me comportava na escola, como eu ria e fazia os outros rirem com “piadas” sobre alguns colegas de turma, professores e professoras que, na visão da maioria, tinham algum trejeito homossexual (como se isso significasse alguma coisa ou como se isso fosse motivo de riso).

Uma forma de agir na rede e outra na vida


E aqui vale um adendo bem importante: eu nunca fui popular. Eu nunca fui o fodão da escola. Eu nunca me considerei uma pessoa de direita, mas aqui me comportava como tal. E o mais importante: este ser que escrevia essas coisas não era eu. Não tinha nada a ver com a forma como eu vivia, falava, me comportava. Eu não era pegador, eu não era dado a cantadas, eu não era o padrão de homem macho-alfa. Ao contrário: tive ótimos professores, colegas sensacionais que foram muito importantes para que eu construísse minha visão de mundo. Ainda assim, aqui nos textos, e em alguns pensamentos e atitudes não expressas, eu exercitava todas essas coisas ruins, características tão divergentes daquelas pelas quais eu era conhecido: o garoto estudioso, tímido, artista e religioso da escola e do bairro.

Isso me fez ver o quanto a minha trajetória explica esse momento de tanto ódio e falta de reflexão que vivemos na sociedade. Percebam: eu não me considerava alguém intolerante. No dia a dia não era alguém raivoso ou violento, não tinha nenhuma característica de alguém desrespeitoso ou preconceituoso, mas no meu íntimo e, especialmente, na rede (aqui no blog), externava toda essa prodridão que existia dentro de mim. E isso que sempre fui um rapaz da igreja, católico praticante e fervoroso (outra característica que pode ser notada na história do blog).

Como a igreja e a TV podem influenciar para o mal


Mas, afinal, o que me influenciava a ser desse jeito? Primeiramente, e inegavelmente, a igreja. Não é um achismo! É uma constatação ao observar a minha vida, a minha experiência. Justamente por eu estar tão imerso nessa realidade, tão envolvido no discurso religioso fundamentalista, que eu condenava taxativamente, sem poréns ou cuidados com as palavras, o comportamento feminino.

Lembro que em grupos de jovens e, de forma mais marcante, em um fim de semana na TV Canção Nova, onde participei de um retiro que eles denominam PHN (Por Hoje Não), o cantor Dunga comparava mulheres que se vestem mais à vontade a pedaços de carne velha expostos em um açougue. Eu cultivei comigo esse pensamento por anos. Num DVD da banda Anjos de Resgate, eles
comparavam homossexuais a bandidos e traficantes. “Se você não cuidar do seu filho, um bandido vai enganar ele, um traficante vai levá-lo para ele, um homossexual vai enganar ele”, diziam (ou algo parecido, não são as palavras exatas, mas era esse o sentido).

Lamentavelmente, vejo muitas pessoas agirem como eu agia, pensarem como eu pensava, motivados por esse tipo de influência.

E quem colocava mais lenha na fogueira era a TV. O Luiz Carlos Prates, aquele mesmo que defende administração militar nas escolas públicas, os presidentes da época da ditadura, e que disse que pobres não podem ter carros porque não sabem ler, era meu ídolo. O personagem que ele vivia no Jornal do Almoço, da RBS TV (afiliada da Rede Globo em SC), era uma inspiração para aquele garoto que sonhava em ser jornalista. Para mim, ele falava as mais profundas verdades, era sincero, não tinha meias palavras, enfim, era um exemplo. Por outro lado, pelo fato de a igreja criticar muito a “libertinagem” da TV, eu, no mesmo momento que a tinha como escola, também me considerava o supercrítico, e assim pensava que estava causando ao pensar e expressar certas coisas.

Eu não vou linkar aqui os textos que mencionei porque eles não representam o que eu penso hoje em dia e também não acho que valha a pena perder tempo com eles. São medíocres. Por outro lado, não vou excluí-los do blog, porque eles demonstram a minha evolução enquanto pessoa e cidadão, e pelo menos serviram para eu ser mais crítico comigo mesmo antes de criticar o mundo.

A raiz do ódio nosso de cada dia 

Diante disso tudo, percebo no Brasil atual um comportamento muito parecido com aquele que sempre tive: pessoas que se consideram críticas, mas que os pensamentos são resultado de uma combinação perigosa: o pior das religiões, misturado com a artificialidade do fazer pensar da TV, mais um sentimento de pessoa justa e honesta, que o coloca acima de qualquer questionamento, especialmente o próprio.

Isso não quer dizer que a TV deva ser banida da vida de qualquer pessoa. Só é urgente que ela não seja a única forma de entretenimento e informação. Também não quer dizer que alguém não possa ter uma religião, mas ela não pode ser considerada inquestionável. E sempre vale lembrar que acreditar em Deus e viver os bons ensinamentos bíblicos, por exemplo, como o amor e o respeito, é diferente de viver cegado por qualquer dogma.

Espero que eu possa melhorar cada dia mais, para que eu não seja mais um a perpetuar o machismo, a intolerância e o preconceito. E espero, ainda mais, que mais pessoas possam olhar para o seu passado, seus pensamentos e suas posições e repensem suas atitudes à luz da necessidade de uma sociedade mais humana e justa.

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sábado, 20 de outubro de 2012

A “Avenida Brasil”, o futebol e as coisas supervalorizadas pela TV


Nesta sexta-feira, 19 de outubro de 2012, a Rede Globo apresentou o último capítulo de “Avenida Brasil”, novela do horário das 21h, escrita por João Emanuel Carneiro, mesmo autor de “A Favorita”. A repercussão da novela nas redes sociais foi um fenômeno. Durante a sexta em que seria exibido o capítulo final do folhetim, entre os assuntos mais comentados do dia, dois ou três eram relacionados à novela.
A imprensa nacional e internacional noticiou a popularidade e o alcance do programa. Portais de economia alertavam para o risco de apagão por conta da sobrecarga de energia no instante seguinte ao término da atração, quando as pessoas iriam começar a acender as luzes, tomar banho, passar a roupa do dia seguinte. Programas jornalísticos e de variedades falavam dos mistérios do desfecho da história.
Isso motivou uma onda de protestos vindos de pessoas que, ao meu ver, não teriam muita moral para ficar reclamando do fato de a novela tomar tanto espaço nas redes sociais, na internet, no jornal e na TV.

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Ora, no que difere a alienação provocada por um final de novela e um final de campeonato brasileiro, ou um clássico local ou nacional de futebol, ou até mesmo a Copa do Mundo? Por que para estes espetáculos esportivos o jornalismo pode ceder espaço e para a novela não?
Aliás, a novela entra na pauta dos jornais televisivos e nas páginas principais dos importantes impressos uma vez ou outra. Já o futebol está permanentemente, diariamente, ocupando um espaço de prestígio em todas as formas jornalísticas. E não é só nos programas esportivos.
Em Joinville, por exemplo, o Jornal do Almoço, da RBS TV, dedica um bloco inteiro, de aproximadamente 10 minutos, para falar do esporte local, sendo que instantes depois a mesma emissora vai exibir um programa com quase 20 minutos de duração para falar só de esporte.
Enquanto isso, a política, a cultura, a economia da cidade só entram em pauta em situações específicas, como na época eleitoral.

Isso não é uma crítica à RBS TV. Não me incomoda que as coisas sejam assim. Só acho incoerente que as pessoas vejam isso diariamente e não se incomodem, enquanto uma vez a cada ano, durante um único dia, o jornalismo dê espaço para o final de uma novela e todo mundo fique contrariado porque estão falando disso em detrimento a outros assuntos importantes.
Também não penso que seja desperdício da parte da Globo investir nos folhetins. Alguns “críticos de redes sociais” estão divulgando imagens “denunciando” que a emissora gasta muito dinheiro com novela enquanto tem gente passando fome. Tenha a santa paciência! O que a Globo tem a ver com as pessoas passando fome? Ela pode denunciar, mostrar (nem sempre faz, é verdade), mas não é papel dela alimentar os que passam fome. Se for pensar assim, não devemos mais fazer música, cinema, nem jornalismo, porque isso gasta um dinheiro que não é pra dar comida a quem tem fome.
Da mesma forma, não quero entrar no mérito de que esse espaço todo à “Avenida Brasil” tenha sido dado unicamente por conta de interesses publicitários, ou o quanto isso mostra que a Rede Globo está mais preocupada com as novelas do que com o jornalismo e as incoerências dos seus projetos sociais. A questão aqui não é a Globo, nem qualquer emissora, site, ou rede social que tenha dado espaço ao desfecho da história de João Carneiro. A questão são as pessoas. Na sua hipocrisia, criticam uma novela enquanto o jornalismo, diariamente, está cheio de coisas inúteis.

O jornalismo precisa de reformas. Mas não é por causa das novelas.

Dito isso, é preciso esclarecer que não me incomodei com o auê que fizeram por causa da novela. Afinal, no dia seguinte tudo voltou ao normal (com a Copa ou a final do Campeonato Brasileiro isso não aconteceria). Também não acompanhei a novela e não sabia o nome de mais do que três personagens. Isso, no entanto, não quer dizer que eu não goste ou não acompanhe novelas. Tenho, sim, minhas prediletas.

A minha indignação com as formas de se fazer jornalismo que eu vejo em muitos veículos é diária. E acreditem: a novela é a que menos contribui pra isso.

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domingo, 18 de janeiro de 2009

A Favorita do Brasil?


O que a falta de ideia faz a gente falar né? Diante disso resolvi deixar a hipocrisia de lado e confessar:eu assisti algumas (muitas) novelas, sim. Quem nunca acompanhou uma? Por favor, quem nunca fez isso e comentar aqui, registre isso, porque eu quero saber se isso é realmente uma prática do brasileiro ou só de alguns... como diria... não sem cultura porque assistir novela é uma cultura, mas... menos críticos. Isso!Prática de pessoas menos críticas.


Digo isso, pois na última sexta-feira encerrou-se um dos folhetins que eu acompanhei. Não religiosamente, é claro, até por ter mais coisas pra fazer, mas posso dizer que sei tudo o que se passou na história: A Favorita.

De longe, foi a melhor novela (na minha opinião, claro) já exibida pela Rede Globo (e arrisco dizer na televisão brasileira, já que ainda ninguém superou a emissora dos Marinho nesse quesito).

A novela tinha alguns núcleos bem chatos: o Cassiano que era um cantor sertanejo de uma música só, a vila operária cheia de gente corna e amargurada, enfim.... Mas os núcleos ligados diretamente ao principal (Flora e Donatela) deram um show à parte.

Eu estou pra lembrar alguma novela que conseguiu se sair tão bem na sonoplastia, no clima de tensão e no suspense usado em todas as cenas envolvendo os protagonistas. Apesar do autor ter recorrido a fórmulas velhas e comuns, como a vilã inescrupulosa e louca contra uma mocinha e tudo isso por dinheiro, a explicação para tudo isso valeu o clichê.

Flora era uma mulher amargurada. Queria ter a vida de Donatela e para isso não popou esforços para destruir com a vida da irmã adotiva e tomá-la tudo o que esta tinha. Apesar disso, estampava uma carinha de anjo sem nenhum traço de bandida maníaca.

Aí entra o primeiro trunfo da novela: a exposição dos nossos preconceitos. Lembro-me que lá no início da novela, quando ninguém sabia quem era a verdadeira vilã, quem não achava que era a Donatela apostava no Silveirinha. Poucos acusavam a personagem de Patrícia Pillar pelo assassinato.

O segundo trunfo da novela (embora sem sucesso, pois foi justamente nesse período que o folhetim amargou baixos índices de audiência) foi esconder a vilã por um tempo. Não criou-se uma personagem pronta dada de bandeja para o público. Todos os envolvidos, inclusive Flora e Donatela foram personagens que não paramos de descobrí-los até a última semana no ar.

E por fim, recursos de câmera (movimentação e ângulos cinematográficos), trilha sonora (aqui destaco a abertura) e as surpresas e o ritmo novo a cada capítulo fizeram de João Emanuel Carneiro meu autor de novelas favorito, com perdão do trocadilho.

Claro que muita gente não gosta de novela. Eu mesmo não sou de acompanhar até por falta de oportunidade. Mas não posso deixar de comentar que, apesar da má fama que as novelas têm, existem muitos profissionais que trabalham duro pra conceber produtos como este, que com certeza, vai deixar saudades.

Infelizmente (para a Globo, não pra mim), eu não estou afim de viajar para a Índia...