Um dia, numa lanchonete que tinha como atração principal um karaokê, eu, meu chefe e meus colegas de trabalho, numa sexta-feira, fomos fazer um happy hour. Era noite já. Depois das 22 horas. Estava cheio. Eu já havia decidido, desde quando combinamos aquele happy, cantar com uma colega de trabalho no karaokê. A música estava escolhida e o chefe sabia disso. Mas ele foi à frente, cantar a música dele primeiro.
Fiquei aguardando do lado do palco com a minha colega para que, assim que meu chefe terminasse, eu pudesse tomar meu lugar e participar daquele momento de brincadeira e diversão. Logo que ele concluiu a música, anunciou:
- Agora, vem cá, Juliano! - E me abraçou. - Fiquem vocês com a vara comprida do (citou o nome da empresa)! O garoto que parece um Boneco de Olinda. Um poste sem lâmpada. E que tem pernas! - Todos riram. Todos que estavam na lanchonete. Os que jogavam sinuca pararam para ver quem era o ser que recebia aquelas elogiosas descrições. Mas eu cantei. Cantei e, envergonhado e raivoso, fui embora em seguida.
Todos riram. Era uma piada. Numa lanchonete só. Havia umas 200 pessoas lá, no máximo. Mas eu fiquei ofendido.
Nas últimas semanas o Brasil acompanhou um debate infantil e desnecessário. Como se ninguém tivesse mais nada melhor na sua própria vida com que se preocupar, fizeram uma tempestade em copo d'água.
Não é de hoje que o super sem graça e metido a sabixão (o típico caso do cara que se acha, isso é visível), Rafael Bastos, lança mais uma de suas pérolas. Dessa vez, disse, em mais um episódio de humor sem graça, que "comeria" Wanessa "e o bebê. Tô nem aí!", frisou.
Eu sempre achei esse Rafael um exemplar caso de falta de talento. E também ele já tinha disparado, diversas vezes, muitas piadas desnecessárias. Ainda assim, eram piadas. Que eu não gostava, não concordava, achava que eram ridículas e infantis, mas piadas.
Apesar disso, o cara falou mais uma besteira em rede nacional. Besteira porque expôs uma mulher grávida com todo o direito de se sentir ofendida, afinal, ela é conhecida. Por mais que não doesse em mim ou eu não achasse nada de grave, mas compreendo a situação de alguém ser motivo de chacota em rede nacional, ainda fazendo insinuações à sua gestação.
Wanessa sempre teve o direito de processar o dito humorista. Afinal, foi agredida. Como vocês verão adiante, a pena para o processo no qual Rafael Bastos está sendo enquadrado não é culpa da Wanessa. Está determinado na lei e será decidido por um juíz. Mas não tem gente que arma barraco ao sair de uma empresa porque foi chamado a atenção na frente de todo mundo? Então... Wanessa foi ridicularizada na frente do Brasil. Sim, foi piada. Mas ela tem todo o direito de se sentir ofendida.
E se você pensa o contrário, tente imaginar alguém que você ama sendo ridicularizado em rede nacional. Mesmo que seja em uma piada. Depois defenda Rafael Bastos.
A seguir, após longas semanas em silêncio, o desabafo de Wanessa. Como fã e, principalmente, como alguém que entende que seres humanos devem ser respeitados como seres humanos, me sinto na obrigação de divulgar as palavras dela:
Diante de um silêncio engasgado e em risco de sufoco, me coloco, aqui e agora, fora dessa condição.
Quero falar, não porque estão me cobrando essa palavra, não para dividir lados e opiniões e nem para ganhar defensores. Apenas quero tornar pública a minha verdade, já que se trata da minha vida e da vida do meu filho, que nascerá em poucas semanas, e também para defender a mim e a minha família de falsas acusações.
Mesmo sendo de conhecimento geral o começo de toda essa história, gostaria de voltar à ela.
Em uma segunda-feira, voltando de um trabalho para casa, alguém próximo me informou o que tinha acontecido. Chegando em casa, entrei na internet e vi o vídeo que mostrava o humorista Rafael Bastos falando sobre mim e, infelizmente, também do meu filho. Confesso que tive de rever umas três vezes para ter certeza do que estava vendo e ouvindo.
Não tive reação, só pensava em uma coisa: “calma, ele vai ´consertar´ a frase, dizer que se enganou, falou errado e pedir desculpas”. Mas isso, como todos sabem, não ocorreu dentro do programa naquela noite e nem mesmo naquela semana, seja na imprensa ou nas redes sociais.
No dia seguinte, toda mídia comentava o acontecido. Nos próximos dias, não havia uma pessoa que me encontrasse que não comentasse o assunto.
Confesso que o que era insuportável ficou pior ainda, pois, como se diz na linguagem comum: “vi e ouvi o nome do meu filho na roda” e a única pessoa capaz de estancar essa história, não o fez!
A cada dia que se somava de silêncio do outro lado, mais indignada e machucada me sentia. O assunto também indignou o público e eu não tenho nenhuma culpa disso. Já que a escolha de dizer o que queria em um programa ao vivo e em rede nacional, assistido por muitos, não foi minha.
Essa história foi tomando proporções maiores com cada atitude que o próprio humorista tinha. Aqui do meu lado, nada se ouviu sobre o assunto pois, inocentemente, ainda acreditava em alguma atitude de arrependimento.
A gota d’água, para mim, foi assistir a um vídeo produzido e postado pelo humorista onde ele, em uma churrascaria, ironiza toda essa história.
Em quase 11 anos como cantora já me senti e fui ofendida, já me julgaram de diversas maneiras, mas foi uma escolha minha quando resolvi seguir essa carreira e dar “a cara a bater”, porém, desta vez foi diferente. Rafael Bastos ofendeu, agrediu verbalmente, ironizou e polemizou com o meu filho.
E qual mãe no mundo não defenderia, até com sua própria vida, o seu filho?
Estou apenas desempenhando o maior papel que a vida me deu: ser mãe. Para defendê-lo, vi na Justiça de nosso democrático país, o melhor caminho. Por isso, entrei com um processo criminal de injúria que, segundo nossa Constituição e Código Penal, artigo 140 se aplica perfeitamente ao ocorrido, já que o crime de injúria consiste em ofender verbalmente a dignidade ou o decoro de alguém, ofendendo a moral, abatendo o ânimo da vítima.
Quando a notícia desse processo chegou ao conhecimento público, todos se apegaram a parte mais sensacionalista do caso, já que no artigo 140 a pena descrita para esse crime é de detenção de 1 a 6 meses. Esqueceram de dizer que a pena também se aplica com multa que pode ter um valor simbólico com doação de cestas básicas ou chegar a qualquer valor estipulado por um Juiz. E qual será o valor estipulado a ele se tivermos ganho de causa, não cabe a mim ou minha família decidirmos, isso cabe a Justiça.
Sinceramente, não estou interessada em dinheiro nenhum, muito menos que ele seja encarcerado em prisão alguma. Apenas desejo que esse processo faça o humorista repensar sua forma ofensiva de falar, disfarçada erroneamente em liberdade de expressão. Desejo a ele o arrependimento e que compreenda o ferimento que causou.
Gostaria de esclarecer, também, que eu e minha família não temos relação alguma com qualquer afastamento ou retorno envolvendo o humorista. Seria até pretensioso pensar que temos esse poder, já que a Band é uma empresa privada com seus donos, dirigentes e empregados e essa, sendo assim, se torna a única responsável por suas decisões. Qualquer notícia envolvendo esse poder fictício e covarde é falsa e mentirosa.
Muitas pessoas enviaram mensagens me pedindo para perdoar, mas só se perdoa quem pede desculpas e está arrependido. Eu não tive essa opção.
Essa é minha verdade e também a primeira e última vez que falarei publicamente sobre esse assunto. Tudo o que tinha para dizer eu disse aqui. Não sei se todos compreenderam minhas razões lendo este texto, mas peço, encarecidamente, pelo respeito ao meu silêncio de agora em diante.
Estou em um momento muito especial e sensível da minha vida e preciso de um pouco de paz, para receber meu filho com toda serenidade possível.
Obrigado pela atenção e espaço.
Wanessa Godoi Camargo Buaiz