Primeiramente
é preciso deixar claro que eu não sou filiado a partido algum. Eu
tenho uma ideologia humanista, o que me coloca numa posição
política mais à esquerda – e só isso já bastaria para não ser
classificado como petista (ou petralha, como queiram), afinal, ao
contrário do que muitos querem crer, há anos o PT abandonou as
históricas bandeiras de esquerda. Mas nem mesmo dentre os partidos
verdadeiramente de esquerda eu não me filio, pois não sinto
segurança para tal. Dito isso, prosseguimos.
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Fiz
questão de deixar isso claro para que este não seja interpretado
como um texto de apologia ou defesa ao PT, Lula ou Dilma. É apenas
uma reflexão sobre o Brasil, nossa história e as contradições no
discurso daqueles que acreditam que o atraso que o nosso país sofre
com relação a outras nações é culpa desse governo que está aí.
A
história do Brasil já começou mal. A cultura indígena que existia
aqui foi esmagada pelo imperialismo português que, não contente
apenas em “catequisar” os índios e tomar as terras destes,
carregaram para a Europa muitas das nossas riquezas, como as madeiras
do pau-brasil, riquíssimas para colorir tecidos, e os minérios.
Quando a
coisa apertou por lá, a família Real veio todinha para cá, não
sem provocar mais estragos. O Brasil nunca foi uma terra palco de
projetos de desenvolvimento em prol das pessoas que aqui moravam.
Éramos apenas curral de enriquecimento alheio, morada de índios
renegados, escravos importados e, mais tarde, de imigrantes
desafortunados, praticamente expulsos de uma Europa falida e em
crise, que tiveram que enfrentar as jornadas desumanas nas grandes
lavouras de café ou as terras atoladas dos mangues do sul.
Hoje
vivemos o mais longo período democrático da história. Antes disso,
em mais de cinco séculos de existência, sofremos com exploração
atrás de exploração, golpe atrás de golpe, falcatrua atrás de
falcatrua. E, convenhamos, nada disso é culpa do PT.
Hoje,
claro, pagamos caro – literalmente – pelo país que construíram
para nós. Pagamos caro por causa de uma corrupção enraizada no
poder que é tão histórica quanto o descaso que o Brasil sofreu por
aqueles responsáveis por torná-lo uma nação. Sempre sofremos com
corrupção, sempre tivemos que pagar mais caro pelas coisas, sempre
as tecnologias chegaram aqui com defasagem de tempo. Sempre estivemos
à mercê de grupos religiosos ditando nosso modo de vida.
Isso é
ruim? Sim, é péssimo. Mas por outro lado faz parte da construção
de uma nação rica e próspera. O que precisamos é investir, acima
de tudo, em educação e mudar essa cultura de reclamantes do
Facebook e porta vozes do achismo para compreendermos mais a nossa
história e a nossa sociedade. Porque se não for assim, nunca
evoluiremos.
A
educação é necessária, primeiramente, para desmistificarmos mitos
enraizados no nosso cotidiano. Um deles é que os Estados Unidos são
modelo. Não são. Os norte-americanos só conseguem ser modelo de um
capitalismo selvagem, excludente e, diferentemente do que costumamos
ver na mídia e no cinema, sofrem com a pobreza, com a violência e
com o descaso na saúde, por exemplo. Afinal, lá não existe
tratamento de saúde de graça.
Outro
mito é o exemplo Europeu. Ok, talvez isso não seja exatamente um
mito porque, realmente, em muitos países da Europa a qualidade de
vida é ótima, as cidades são humanizadas e a educação é
invejável. Mas a que custo eles chegaram nesse patamar? O continente
europeu é milenar. Eles também tiveram de passar por ditaduras,
guerras, doenças, crises, fome, escravidão, revoluções, mortes –
e tudo isso mais de uma vez – para então chegarem ao nível de
civilidade que muitos têm. E na civilidade e na educação que
nascem as cidades mais bonitas, as pessoas mais saudáveis e a vida
mais tranquila, embora isso não seja regra.
Do
oriente, então, nem se fala. Pelo que consta eles são alguns dos
povos até mais antigos que os próprios Europeus.
Mas,
voltando à Europa, é importante lembrar que a riqueza deles não
foi/é consequência apenas do sangue, suor e lágrimas dos seus
conterrâneos, não. Até hoje a África, o Oriente Médio e a
América Latina – incluindo nós brasileiros – pagamos pela
ganância e pela exploração europeia.
A questão
não é culpar o Velho Continente pelas nossas mazelas. Nós
poderíamos muito bem dar a volta por cima, como fizeram os coreanos.
O objetivo de trazer essas questões à tona é encararmos a
realidade: somos frutos da exploração, carregamos na nossa veia o
sangue de corruptos e exploradores e não queremos – ao menos não
deveríamos querer – explorar outros povos para garantir nossas
riquezas.
Se não
quisermos pagar caro pela nossa evolução, como a Europa teve de
fazer, teremos que aprender. E novamente menciono a importância da
educação. E a partir daí, dando a devida atenção a este item,
poderemos evoluir. Mas isso leva tempo e temos exemplos no mundo todo
disso, dessa demora pelos resultados.
Portanto,
não é correto, justo, nem honesto culpar o PT pelo atraso do
Brasil. O atraso que vivemos é fruto da história. E muitos dos que
estarão lendo esse texto podem não saber, mas cultivam em si um
pensamento retrógrado que em nada contribui para a nossa evolução.
Exemplo
disso é a nossa ainda predileção pelos veículos individuais, pela
construção de estradas cada vez maiores roubando o espaço que
deveria ser dado a transportes alternativos, como a bicicleta o os
coletivos. É a nossa preguiça em ler e adquirir conhecimento, e
preferir formar opiniões com base no achismo e nas mídias
tradicionais. É o nosso apego a pensamentos ultrapassados e
retrógrados, especialmente os que defendem o núcleo familiar
tradicional que inexiste, já foi realidade há anos e hoje não
representa o nosso modo de vida.
O
machismo não nos deixa evoluir, a implicância com movimentos
sociais, a adoração à meritocracia, o desejo pela vingança e pela
pena de morte, a mercantilização da educação e da saúde, o
desrespeito com a natureza, enfim. Enquanto não formos mais humanos,
enquanto não pararmos de achar que o dinheiro é o centro de tudo e
enquanto não atualizarmos nosso pensamento e não colocarmos as
nossas necessidades dentro de uma visão atenta à nossa realidade
contemporânea, não evoluiremos.
E a culpa
disso não é do PT. É, sim, de cada um de nós.
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