Se existem câncers nesta nossa sociedade capitalista, diria que um deles é o mercado imobiliário. Daí vocês me perguntam porquê dessa minha revolta com as imobiliárias.
É simples.
É um direito de todo ser humano ter um lugar para morar. Como pode alguém querer controlar esse direito? Mas, muito mais que controlar, que não seria algo lá tão demoníaco: como pode alguém ter o poder de limitar esse direito?
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A começar pela especulação imobiliária. Imóveis ficam meses, anos parados para "valorizarem". Enquanto isso, milhares de pessoas continuam sem ter uma moradia, simplesmente porque existem pessoas que, a fim de ficarem mais ricas do que já são, resolveram deixar os imóveis parados para, no futuro, resgatassem um valor mais alto do que custam no momento.
Quando, enfim, decidem vender ou alugar, cobram um valor exorbitante, capaz de fazer o cidadão ficar até décadas preso às condições da imobiliária, além de exigir uma documentação tão complexa que faz qualquer um trabalhador com menos tempo desistir do seu novo imóvel. Para agravar, não raro, a imobiliária exige um fiador. Ou seja, se a pessoa não tem um conhecido com uma boa situação financeira, capaz de emprestar o seu nome para a transação, o negócio não é fechado.
Para aumentar o exagero e a mesquinhez desse tipo de gente dada à administração imobiliária, o fiador exigido, quase sempre, precisa ter dois ou mais imóveis em seu nome. No fim das contas, só consegue comprar uma casa própria - e até alugar um imóvel - aquela pessoa financeiramente resolvida. É a mesma história dos bancos, que só fazem empréstimo se você provar que não precisa de um empréstimo.
Daí vem o governo com programas habitacionais como o "Minha Casa, Minha Vida". Mas a burocracia é a mesma, e, ainda assim, os interessados precisam de uma intermediação com as imobiliárias.
É lamentável essa situação, de ter alguém que diga se você pode ou não ter um lugar para morar. Seria desumano, mas menos ruim, se a pessoa fosse expulsa da sua morada por não pagar o que deve. Mas o problema é que as imobiliárias não dão chance e preferem deixar a pessoa sem teto a diminuir as exigências e sua mesquinharia.
Isso, muito além de causar, como já dito, uma limitação a milhares de pessoas e famílias do seu direito de ter um lugar para morar, desencadeia um problema social grave, na medida em que se torna mais fácil montar acampamento em uma área de ocupação, ou construir uma morada nas favelas, muitas vezes ilegais, prejudicando o meio-ambiente e o plano diretor das cidades.
Engana-se quem acha que as áreas mais carentes das cidades são fruto - somente - da migração desenfreada: para além disso, está a questão imobiliária que, em lugar algum, oferece facilidades a quem quer um lugar para morar.
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