Eu vou escrever sobre a renúncia do Papa. E quando eu
escrever sobre o assunto, compartilharei nas minhas redes, compostas por
pessoas das mais variadas: amigos dos tempos de escola, de colégio, de
faculdade, pessoas que acompanharam em minha trajetória profissional, outras
que ainda caminham comigo, familiares, membros da igreja que participo. Essas
pessoas são católicas, evangélicas, espíritas. Algumas acreditam em Deus, mas
não têm religião. Outro grupo é composto por ateus. Tem gays, lésbicas,
heterossexuais, negros, velhos, novos, casados, solteiros, enfim. Amantes de
literatura e cinema e outros avessos a isso. Eu conheço muita gente, graças a
Deus. E por todos nutro um respeito ímpar.
Sou católico e jornalista. E o que isso tem a ver? Que tenho
em mim a formação cristã, que crê em Deus e respeita a Sua Palavra, mas, tão
importante quanto isso, sou crítico – natureza de jornalistas (ou deveria ser).
Valorizo a sabedoria, um dos dons do Espírito Santo e graça muito valorizada
por Deus, tanto que foi o pedido de Salomão que mais agradou a Deus e na Bíblia
existe até um livro chamado “Sabedoria”, escrito pelo próprio Salomão.
E a sabedoria vem do questionamento, da leitura, do “ver os
dois (ou mais) lados da história”. Ainda assim, como diz Tolkien, nem os mais
sábios conseguem ver tudo.
Exatamente por isso que não vou conseguir agradar a todos. E
não se espantem, porque na vida as coisas são assim. E não há como eu manter
uma amizade e um respeito por todos esses diferentes grupos de pessoas se eu
não respeitar a opinião de cada um. Da mesma forma, não há como todos esses
grupos de pessoas gostarem de mim se não respeitarem os meus pensamentos,
fartamente influenciados pela minha fé católica, mas também pelos meus estudos
e convivência.
Como diz o ditado, se nem Cristo agradou a todos, quem sou
eu para fazer isso?
Vi um contato meu, no Facebook, compartilhar um texto que
dizia que não há como ser católico e “de esquerda” ao mesmo tempo, que isso é
uma orientação papal. Ora, então eu não sou católico, afinal, me identifico
muito mais com uma visão política de esquerda. E ser taxativo ao afirmar isso é
tão incoerente com o conceito de sabedoria – como eu já disse aqui, bem
apreciado por Deus – quanto qualquer outra coisa estúpida que possa ser dito. É
ignorar contextos históricos e sociais nos quais os Papas de outrora disseram
isso. É negar as especificidades da Igreja nas diferentes regiões do mundo. É
negar o Concílio Vaticano II que determinou que a Igreja deveria estar mais
próxima dos fiéis. É negar a experiência de santos, como Santa Paulina, Madre
Tereza, São Francisco de Assis.
Desculpem meus amigos cristãos, mas eu critico a Igreja. Não
destrutivamente, claro. Porque quero o melhor para ela e quero que ela seja
cada vez melhor para o mundo. Mas também peço desculpas aos meus amigos
esquerdistas porque eu sou contra o aborto, por exemplo. Se quiserem, posso
falar melhor sobre isso em outra oportunidade, mas apenas sinalizei isso aqui
para dizer: a partir desse ponto, vocês podem entender melhor meus pensamentos.
Dito isso, podemos conversar. Amanhã falo sobre o Papa. E,
afinal, os comentários estão aqui para – de modo saudável – debatermos.
Deus abençõe a todos.