terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ensino Integral: uma solução não tão boa quanto parece

A seguir vocês vão poder ler um texto da minha irmã, Bruna Reinert. Pedi para que ela escrevesse sobre o Ensino Médio Integral, experiência do governo do estado implantado em algumas escolas de Santa Catarina enquanto o atual candidato a prefeito, Marco Tebaldi, era secretário estadual da educação. Minha irmã foi duramente prejudicada com a falta de preparo pedagógico e estrutural da escola para tal iniciativa. E nem era culpa dos professores. Em conversa com uma orientadora do colégio, à época que minha irmã ainda estudava em período integral (pediu para mudar justamente por conta da péssima qualidade do projeto), ela me disse que a ideia foi empurrada goela abaixo e não foram dadas as condições mínimas para que a escola pudesse trabalhar dessa forma.
Historicamente, o ensino de responsabilidade do governo do Estado em Santa Catarina, é ruim e continua sendo. Por isso talvez haveria diferença na qualidade do ensino integral lá e aqui. Penso que não. Joinville acabou de sair do turno intermediário. É hora de melhorar a qualidade do ensino regular, valorizar sempre e cada vez mais os professores, trabalhar para aumento da qualidade da infraestrutura educacional da cidade e oferecer opções no contraturno. Ainda não temos como suportar Ensino Integral em escola pública, nem mesmo arcar com possibilidades tecnológicas mirabolantes aquém do necessário para que o ambiente escolar seja bom.
O exemplo vocês podem ver a seguir:



Teríamos laboratórios, salas com televisões, um bom auditório, uma sala de informática adequada, quadra de esportes, cursos técnicos, aulas de conversação para inglês e espanhol, tempo necessário para fazer as tarefas e trabalhos na escola já que ficaríamos oito horas lá. E o grande objetivo era tirar os jovens da rua e melhorar a imagem da escola estadual. Tudo isso foi o que prometeram para as escolas que adotariam o Ensino Médio Integral.
            
Todas essas novidades foram apresentadas para os alunos do 9º ano do ensino fundamental, para ajudar na escolha de uma escola depois que se formassem. E foi por isso que eu fui para o Arnaldo Moreira Douat, no Costa e Silva, que adotou o Ensino Integral, apesar de não ter estrutura nenhuma para comportar isso. Mas a promessa de receber uma boa verba para ajudar a escola fez com que eles tivessem esperança de uma escola com uma estrutura melhor.
            
Já nos primeiros dias de aula o problema mais comum das escolas estaduais apareceu: a falta de professores. Ficávamos duas, três aulas sem atividades por falta de profissionais e só podíamos recorrer ao ping-pong já que a escola, até algumas semanas atrás, não tinha quadra. Resolvido o problema com os professores, agora o drama era os laboratórios, auditório, biblioteca e sala de informática. Nada disso era bom, auditório caindo aos pedaços, depois veio a “reforma”, laboratório sem espaço nenhum, biblioteca sempre fechada e sala de informática com quase todos os computadores estragados. Quando viram que não era possível resolver todos estes problemas, esqueceram da escola, porque, segundo a direção, a verba não tinha vindo como o prometido. Acho que não preciso nem comentar muito dos “cursos técnicos” que davam pra gente que eram, na verdade, o ping-pong,, capoeira, dança e xadrez.Até hoje tento entender o que isso vai acrescentar no currículo. Os horários que serviriam pra pudéssemos fazer os trabalhos e tarefas se resumiam às duas últimas aulas somente nas segundas-feiras. Mas depois retiraram esse horário e nos liberavam mais cedo todas as segundas pra fazermos os trabalhos em casa. Quando questionamos isso falaram que não estávamos fazendo nada mais do que a nossa obrigação.

Depois de todas as coisas erradas que estavam acontecendo e como todos os alunos viram que estávamos sendo prejudicados, decidimos fazer uma paralisação para pedir a liberação da quadra e cobrar as promessas não compridas. Não adiantou nada, pois, ao que parece, aluno de escola estadual não tem voz. Nada mudou.
            
Acho que por último e não menos importante é a questão da “aula de conversação”. Em espanhol, depois de quase meio ano perdido sem professor, encontraram alguém realmente bom. Nossas aulas só se resumiam a trabalhos e atividades. E a aula de inglês, foi a motivadora por eu ter saído do Ensino Médio Integral. Em inglês a professora não tinha diploma, estava no primeiro ano da faculdade e do cursinho de inglês. O que a gente fazia na aula? Cantávamos e líamos duas linhas do livro de inglês para a “aula de conversação”.
            
Não exagerei em nada do que disse, muito pelo contrário, estou meio que amenizando as coisas. As salas climatizadas, que falavam que iríamos ter, chegou no começo do inverno só com os condicionadores de ar pregados na parede. Ainda fazíamos as tarefas em casa, éramos obrigados a fazer os “cursos técnicos” mesmo se não gostássemos ou mesmo sabendo da inutilidade deles. Alunos e, principalmente, professores – que são muito mal pagos – estavam esgotados muito antes do meio do ano, as aulas não estavam rendendo por isso. Nenhuma promessa ou objetivo da Ensino Médio Integral foi cumprida, nenhum objetivo alcançado. Só conseguiram, por um tempo limitado, ocupar os jovens o dia inteiro. Apesar disso, meses depois do início do ano letivo, muitos decidiram desistir de estudar.

Agora eu me pergunto, o que o Ensino Integral tem de bom?

Bruna Reinert tem 16 anos e está no primeiro ano do Ensino Médio. Assim como dezenas de alunos, ela saiu do turno integral por insatisfação e agora está no turno da noite. Outros alunos trocaram de escola e, segundo ela, ainda há os que pararam de estudar, desmotivados. De acordo com a escola, foi necessário fechar uma das turmas do Ensino Médio Integral por falta de alunos.


3 comentários:

Anônimo disse...

O problema na verdade não foi o intuito, o que estava previsto ser feito, e sim, mais uma vez, foi feito e dito coisas só pra encher "linguiça", sem funcionalidade ou qualidade, sem preparo, sem pesquisa, sem ter no quadro ou no mercado, profissionais qualificados, ou então, os qualificados, dispostos à trabalhar para o estado com um sistema arcaico e sem infra-estrutura...todos esses relatos, todas as situações dispostas no texto, são antigas, quando eu mesma, estudei no Celso Ramos, também fiquei 6 meses sem professor de química e física..e isso aconteceu nos 3 anos que estudei lá e pasmem, todos nós passamos e tivemos a carga horário cumprida (não sei como)já que não repomos nenhuma aula...alguns professores eram de péssima qualidade e outros faziam o melhor que podiam com o que tinham, já que também, só arranjar culpados, dizer que isso ou aquilo não presta, não basta..é preciso ser muito mais do que isso....é preciso ter essa visão crítica sim, ir para as ruas sim, fazer barulho sim, se utilizar de redes sociais sim, sim e sim...mas vamos dar idéias, fazer comitês, ir à câmara de vereadores, as reuniões na secretaria do bairro, chamar para cada um de si a responsabilidade de fazer a nossa escola ou a qualidade de ensino dela, melhor do que as de ontem...Eu tenho um filho que estuda em rede pública de ensino..e apesar dos avanços e de ser municipal, continua sendo vergonhoso a falta de amparo que a secretaria da educação, ou melhor dizendo, a falta de amparo que a prefeitura mesmo dá aos seus CEIS e Escolas...claro, que na minha opinião e por ter estudado tanto em escola municipal, quanto estadual, eu sempre vi uma grande diferença entre uma e outra...mas vocês já se perguntaram o por quê disso, ou melhor, já denunciaram,tornaram público, foram dia após dia na secretaria, ou melhor, como um cidadão, denunciou isso ao ministério público, pois uma vez tendo sido feito uma denúncia, é obrigatório a verificação do mesmo...então..nós queremos algo melhor...um ensino melhor e de respeito...para que não tenhamos uma infestação de escolas particulares, nos cobrando o fundo e o mundo para ensinar nossos filhos, não podemos ter que pagar mais essa conta...não estou fazendo demagogia..ou achando que as escolas particulares tem que acabar...mas definitivamente, mudar nossos filhos para escolas particulares para resolver o problema, não é exatamente uma solução..isso estamos fazendo agora, e não dá pra só fazer isso, assim como não dá para aceitarmos a falta de segurança, e encher nossas casas de câmeras de vigilância, muros cada vez mais altos, com cerca elétrica, achando que assim o problema está resolvido e que estamos todos à salvo...isso é mentira, não se enganem....eu também não quero me enganar...Então...com todos esses candidatos, prometendo, mundos e fundos...vamos ter critérios, saber que não é bem assim, queremos resoluções sérias...e dá pra fazer, claro que dá, pagamos nossos impostos, é muito dinheiro circulando..não vamos aceitar esses milhões indo para qq tipo de obra, fazendo com que muita grana seja desviada e que assim, falte para o que realmente importa...um gasto consciente, gera economia, e com esse dinheiro, investimos no futuro, no que realmente importa...sejamos vigilantes, atentos, críticos, pessoas de bom senso e discernimento...só apontar não vale, temos que também ser mais do que isso !.

Anônimo disse...

Oi, Bruna!

Juliano Reinert disse...

Vai te embora, seu orc assanhado! haha