Wanessa chegou ao ponto mais alto da sua carreira.
Amadurecida profissionalmente e vocalmente, lançou nesta semana o registro da
sua turnê DNA, onde interpreta as canções do último disco, de mesmo nome. Além
de um show de alto nível, comparado a produções internacionais, a gravação do
espetáculo está à altura do que vemos no palco.
Três painéis assimétricos, mais um telão de led ao fundo,
complementam a linguagem musical.
São três atos que representam, de início, as aflições
humanas, o sofrimento, o purgatório; passando por assuntos terrenos, onde são
experimentadas as paixões, o amor, os ambientes urbanos, o sexo e, depois dessa
descoberta e da vivência desses sentimentos, a história nos leva ao encontro da
paz, da plenitude, da felicidade.
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Figurino do primeiro ato do show, nas trevas |
Para representar esses três momentos distintos, o show
inicia com um prelúdio, onde Wanessa aparece imobilizada por uma camisa de
força preta. No vídeo, todas os símbolos e movimentos remetem à angústia, à
prisão, ao desconforto. A música de abertura é a que dá nome ao show, seguida
por Stuck On Repeat (a versão remixada pelo americano David Audé, que chegou a
ser classificada pelo New York Post como “a música mais dançante dos últimos
anos”), Get Loud, Murder e Messiah.
Nos telões, confusão, loucura, desespero, pane, imagens
confusas e escuras combinam com a coreografia de movimentos curtos e rápidos, o
figurino negro e as feições, tanto de Wanessa quanto dos bailarinos, fechada,
aflita.
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Performance de Stuck on Repeat, uma das melhores
coreografias do show |
O segundo ato começa com Fly, música que orna muito bem com
o momento do show, que vai falar sobre as experimentações, com a entrega ao que
o mundo tem para oferecer. O figurino fica mais leve, despojado e Wanessa entra
em cena com um vestido vermelho, retratando as paixões que serão vivenciadas
neste ato. O telão dá espaço para imagens urbanas, elementos da Terra.
Esta é a parte mais brasileira do espetáculo. As músicas em
português começam a ser executadas, a começar por Deixa Rolar, com o funkeiro
Naldo (única canção realmente dispensável no show), seguida por uma versão de
Não Me Leve a Mal com muita percussão, bastante latinizada. Sem Querer, do
terceiro álbum da cantora, ganha uma nova roupagem, com mais guitarra e uma
pegada mais rock n’ roll. Wanessa lembra de sua fantástica e inigualável veia
romântica ao cantar Não Resisto a Nós Dois, às lágrimas, acompanhada de um coro
apaixonado e embalada somente pelo piano, dando mais leveza à música. A
romanticíssima You Can’t Break a Broken Heart, de Diane Warren, compositora que
já trabalhou para Celine Dion e Christina Aguilhera, emociona e traz à tona
toda a qualidade e potência vocal de Wanessa, indiscutível.
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Wanessa e Bryan Tanaka, em Blow Me Away, no segundo
ato |
Mas o momento romântico é breve e Preta Gil entra no palco
em uma das apresentações mais divertidas e animadas. Mostrando-se completamente
à vontade, ela leva o público inteiro a dançar e cantar com força. Wanessa e
Preta espelham uma sintonia única que faz de Amor, Amor, cantada pelas duas, um
momento delicioso e irreverente.
Provando que o segundo ato é o mais rico, o show segue com
Blow Me Away, interpretada numa cama, com os telões em chamas, numa
apresentação caliente, sensual e empolgante com o dançarino responsável pela
direção de coreografia, Bryan Tanaka, que já trabalhou com estrelas como
Beyoncé, Rihanna e Jennifer Lopez.
Por fim, Shine It On, escolhida para ser o carro-chefe de
divulgação do DVD encerra a parte “terrena” do DNA Tour.
Quando o espetáculo vai começar a falar da plenitude, do
nirvana, da paz, do Paraíso, Wanessa chega com Armosphere, seguida pela
animadíssima Hair & Soul, que sintetiza toda a proposta do show, conforme
vou falar mais adiante. Esta última, aliás, rendeu uma homenagem da plateia nos
moldes do que já havia sido experimentado nas passagens de Britney Spears e
Demi Lovato no Brasil, quando o público levanta plaquinhas com a inscrição
“OH!”, em dado momento da canção.
O espetáculo vira uma pista de dança quando começa Worth It
e sobe o morro da favela, com as batidas do funk carioca em Sticky Dough. Por
fim, um dos maiores sucessos da nova fase de Wanessa, Falling For U, encerra o
show.
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Figurino do terceiro ato do show |
É preciso dizer que, por mais que a maioria das músicas
sejam cantadas em inglês, o show não perde a essência brasileira. Wanessa
mistura funk e samba em muitas músicas. A percussão, que dá ares de reggaeton e
axé em algumas canções, é extremamente destacada e conta, até mesmo, com um
latão para dar uma sonoridade mais crua a algumas canções. O maior ato do show,
o segundo, traz uma veia latina e coreografias abrasileiradas. Nota-se
claramente que a intenção de Wanessa é fazer música pop, genuinamente
norte-americana, mas com uma cara inteiramente brasileira, única, numa junção
feliz do que há de mais popular na nossa cultura com o que existe de mais
vanguarda lá fora, como o dubstep.
A escolha por retratar três momentos com sentimentos
diversos não é gratuita. Além de uma linguagem que retrata sentimentos comuns a
qualquer ser humano, Wanessa quis ser a voz das mulheres, ilustrando a busca
por conquistas, pelo espaço, pela independência, pela liberdade, pela
felicidade. Assim, passamos do primeiro momento onde os bailarinos homens
assassinam as mulheres (em Murder), tapam suas bocas, vendam seus olhos,
prendem-nas com sua força, até que, libertas dessas amarras, elas encontram,
por meio das paixões, do amor, do prazer, da experimentação dos sentimentos, a
atitude (demonstrada, principalmente, em Amor, Amor: “poderosa, atrevida,
ninguém se mete mais na minha vida”, diz a letra) e, então, chegam à
felicidade plena, a independência, o companheirismo entre as iguais, a beleza
presente na alma em cada uma delas (Hair & Soul pode ser classificada como
o título desse ato: o cabelo representando a beleza externa, numa alusão às
particularidades, à liberdade, às diferenças que são muito visíveis no capilar
das mulheres; e a alma, que é a beleza interior, o que elas têm de especial no
íntimo de cada uma delas), além de Sticky Dough, que é um verdadeiro confronto
entre os sexos, provando que as mulheres não têm nada de frágil, nem de
inferior.
Wanessa dança o show inteiro, canta muito com segurança. É
mulher e brasileira, mostrando ao mundo o que alguém do “sexo frágil” do
“terceiro mundo” é capaz de fazer. DNA Tour é cheio de simbolismos externos ao
show, inclusive. Ele nos tira o complexo de inferioridade, mostrando do que o
brasileiro é capaz, que a nossa cultura, nossa verdade é completamente intensa
e pode ser dominante tanto quanto a norte-americana nos é por aqui. E tudo isso
feito por uma mulher, que já experimentou a pobreza, passando por uma vida mais
tranquila, com dinheiro advindo do trabalho do pai, num estilo musical que
desde sempre foi vítima de preconceitos, também responsável por ela sofrer
preconceitos, mas que hoje, neste novo estilo, ganha o mundo com elogios e
apreciação internacional, mesmo sem um trabalho intenso de divulgação fora do
Brasil.
Enquanto isso, por aqui, continuam chamando Wanessa de
caipira, como se isso fosse um motivo para diminuí-la. Felizmente, nenhum
preconceito é capaz de diminuir alguém que, com seu brilho próprio, é capaz de
ser grande. E ela mostra isso a todo momento, na sua plateia, na sua mensagem,
nas suas origens, na sua história e no seu DNA.
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