domingo, 30 de setembro de 2012

Udo: a menina dos olhos de Luiz Henrique


Está tudo lá: um gesto marcante (antes as mãos juntas “por toda Santa Catarina”, agora, a batidinha na palma da mão “com mãos limpas”), a cartilha do Plano 15 e a ideia de passar a imagem de um político “gente como a gente”. Tudo bem, isso pode ser somente coincidências de marketing. Mas é inegável que Udo Döhler é um bonequinho de Luiz Henrique que, estando no senado, precisa de um discípulo fiel aqui na maior cidade de Santa Catarina para garantir seu reduto eleitoral.

Ao contrário do que aparece na propaganda eleitoral, Udo não é um cara que sai andando pela sua indústria ou por seu hospital cumprimentando e conversando com todo mundo. Sequer é visto com frequência. E eu conheço mais gente que trabalha/trabalhava nessas duas empresas do que a quantidade que já foi mostrada na propaganda do candidato.

Não concordo com a estratégia dos adversários de ficar apelando para suposições, tal como o possível racismo de Udo, ou do fato de o Dona Helena não atender pobres. Mais: apesar de ser fato o episódio das funcionárias da Döhler amarradas, não penso que isso contribua com o debate político, até porque tenho certeza que, se eleito, Udo não vai ficar amarrando ninguém em nenhum lugar.

Mas o que põe em discussão a qualidade da administração de Udo é o jeito Luiz Henrique de governar. LHS fez grandes obras para Joinville. E apenas grandes, porque úteis nem todas eram. Basta ver o Centreventos, cuja adaptação para shows, por exemplo, pode custar até R$ 25 mil. O Juarez Machado é mais um auditório de luxo do que teatro. Pra piorar, o prédio foi erguido em cima do que era pra ser o Teatro Municipal. E até hoje não temos o Teatro Municipal.
Luiz Henrique jogou a cavalaria da Polícia Militar junto com máquinas retroescavadeiras em cima dos comerciantes de rua do calçadão da Rua do Príncipe, para abrir uma rua que complicou ainda mais o trânsito do Centro. E sobre o álibi de estar melhorando o sistema de transporte coletivo da cidade, autorizou – anticonstitucionalmente, sem licitação – a exploração do serviço por 14 anos para a Transtusa e Gidion, que até hoje praticam preços abusivos, garantidos pelo acordo entre as empresas e a prefeitura, além de exercer um atendimento à população aquém do necessário, de péssima qualidade.
O asfalto, feito a torto e a direita, foi realizado sem drenagem e sem saneamento básico. Com os anos, os bairros começaram a sofrer com os alagamentos e os rios ficavam ainda piores com o esgoto não tratado despejado neles.
Enquanto isso, LHS continuava com suas obras megalomaníacas, que o fez ser a maior personalidade política da cidade, imbatível por aqui.
Hoje, ele está lá em Brasília defendendo o novo Código Florestal que beneficia os ruralistas, legaliza a destruição do que resta da Mata Atlântica e aprova o desmatamento da floresta Amazônica.
Não tenho dúvida que Udo vai governar sob a sombra de LHS. Até porque a atitude de se candidatar não partiu de Udo, mas de um “namoro” longo que o ex-prefeito manteve com o empresário para que o PMDB retomasse a administração municipal.

Diante disso tudo nos resta saber: como ficará o transporte coletivo na cidade? Será que Udo fará alguma coisa para destituir do poder os seus amiguinhos da Transtusa e da Gidion? Será que Udo vai continuar a atender a cidade com uma nova rede de tratamento de esgoto? Será que Udo vai fazer alguma coisa para despoluir o Rio Cachoeira que sua empresa tanto ajudou a poluir com as toxinas despejadas nele? Será que Udo vai realmente pensar nas pessoas diante do seu histórico à frente da Acij e da defesa dos interesses do empresariado da cidade? Quem terá mais peso nas decisões de Udo? Seus amigos da Acij afoitos pela especulação imobiliária, pelo enchimento da cidade com veículos por parte das concessionárias, ou o povo com a necessidade de moradia e de transporte coletivo de qualidade?

Deixemos as possibilidades de racismo, mulheres amarradas, xenofobia e toxinas no Cachoeira de lado: será que Udo quer governar Joinville por vontade própria? Será que ele vai ser prefeito para os joinvilenses ou para os empresários da cidade? Será que ele quer defender os interesses da população ou do Luiz Henrique? Udo seria o melhor prefeito para Joinville?

sábado, 29 de setembro de 2012

Hebe: um pedaço do que havia de brasileiro na nossa TV


Por mais óbvias que sejam, existem situações na vida que você acha que tão cedo não vai vivenciar. Existem aquelas pessoas que são tão ícones que, por alguns instantes, você acha que não são humanos, e por isso sempre estarão ali, presentes, como estátuas de cera que nunca mudam de aparência; ou, talvez, só troquem de roupa e penteado. Não nos ocorre que, como qualquer um de nós, elas estão sujeitas a frustrações, irritações, erros e a morte.

Por isso é com imensa tristeza que soube, hoje, da morte da apresentadora Hebe Camargo. Hebe fazia parte do restrito grupo de pessoas da televisão que está se extinguindo, tal como Silvio Santos. Quando essa “leva” de monstros da TV nos faltarem, o que nos restará? Comediantes stand-up? Modinhas do Multishow e da MTV? Os babaquinhas do CQC e Pânico? Programas com fórmulas enlatadas vindas dos EUA e Europa?
Por isso, além de perdermos mais uma parcela daquilo que existe de mais icônico na TV brasileira, estamos, aos poucos, perdendo a própria essência, a natureza, a originalidade, a qualidade da nossa televisão (que cada vez mais perde sua brasilidade) com a partida de Hebe Camargo.

Os programas de Hebe, durante toda a sua vida, não eram dados a intelectualidades. Apesar disso, ela não deixava de criticar a dura realidade vivida por muitos brasileiros. Também não deixava de incentivar a solidariedade e chamar atenção para as falcatruas de uma política desrespeitosa praticada no nosso país. Os convidados dela, em sua maioria, não eram mais que produtos da indústria cultural brasileira ou personalidades que o SBT queria emplacar na mídia. Ainda assim, Hebe fez parte de um tempo célebre da cultura nacional, cantando ao lado de Roberto Carlos, Agnaldo Rayol e Demônios da Garoa. Hebe entrevistou Mazzaropi, a presidenta Dilma, sempre com seu jeito informal e leve, o que tornava acessível a suas conversas, independentemente de quem era o entrevistado. Com Hebe nós ríamos, nos emocionávamos. Hebe tinha um brilho tão grande que não precisou estar na maior emissora do país para se tornar alguém inesquecível e ímpar. Mas também não escondia a alegria de estar no palco do Faustão (se comportava como uma criança gritando: “Olhem, estou na Globo!”) ou em uma entrevista no Fantástico.

Por fim, como nos resta poucas palavras em um momento desse, basta dizer que é muito bom viver num tempo em que se é capaz de ver pessoas com a grandiosidade de Hebe na ativa. Já que não tive a oportunidade de viver nos tempos de Mazzaropi, de Chacrinha, ou enquanto viveram Tolkien, Lewis, Machado de Assis ou Monteiro Lobato, pelo menos posso dizer que eu estive num tempo onde viveu Hebe Camargo.

Descanse em paz, Hebe.

Hebe morreu na madrugada de sexta para sábado do dia 29 de setembro de 2012, aos 83 anos, enquanto dormia. Sofreu de ataque cardíaco após lutar bravamente durante anos contra o câncer. Ela tinha, pouco antes de sua morte, acertado a volta para o SBT depois de uma temporada na Rede TV e se dizia muito feliz. Uma eterna guerreira que nunca permitiu que o sorriso deixasse o seu rosto.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Divulgado o segundo trailer oficial de "Uma Jornada Inesperada"

Há três meses do lançamento de "O Hobbit - Uma Jornada Inesperada", a Warner Bros. divulga o segundo trailer oficial da nova saga fantástica do cinema. Na verdade, o terceiro, se formos contar com aquele de alguns segundos de imagens novas. O trailer ainda não tem legenda em português, mas elas são, por enquanto, dispensáveis, justamente porque o que mais chama a atenção no vídeo é o aspecto visual: fotografia, arte, efeitos visuais, figurino, maquiagem impecáveis. E, é claro, a trilha inconfundível de Howard Shore.

"O Hobbit" está prometendo muito. A promessa é grande! Vamos ver se vai cumprir.

Abaixo, o trailer:



"O Hobbit" se passa 60 anos antes dos eventos de "O Senhor dos Anéis". Ele conta como Bilbo Bolseiro achou o Um Anel na caverna de Gollum, ainda sem saber que se tratava do lendário Anel de Sauron. O filme será baseado no livro homônimo de J.R.R. Tolkien.

O roteiro foi escrito a oito mãos por Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens e Guillermo del Toro. A direção é de Peter Jackson, mesmo diretor da Trilogia do Anel. Junto com ele, devem voltar outros atores presentes na trilogia: Ian McKellen (Gandalf), Orlando Bloom (Legolas), Christopher Lee (Saruman), Hugo Weaving (Elrond), Andy Serkis (Gollum) e Cate Blanchet (Galadriel). Howard Shore volta a comandar a trilha sonora e a Weta, mesma responsável pelos efeitos especiais de "O Senhor dos Anéis", "Distrito 9" e "Avatar", estará assumindo um dos postos mais importantes para o sucesso dos dois longas.

"O Hobbit - Uma Jornada Inesperada" será lançado em dezembro deste ano. A segunda parte, "O Hobbit - A Desolação de Smaug" deve chegar aos cinemas em dezembro de 2013. A terceira parte, "O Hobbit - Lá e De Volta Outra Vez", está programada para 18 de julho de 2014.

domingo, 2 de setembro de 2012

Kennedy: aquele que diz só o que o povo quer ouvir


O primeiro problema do senhor Kennedy Nunes para prefeito é o fato de ele ser evangélico. E não é apenas um achismo meu. Na própria Bíblia, livro-referência de qualquer cristão, Jesus é claro ao dizer “daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Se você é um missionário cristão e tem compromissos eclesiásticos, você não deve estar a serviço de César. Mais do que dar dinheiro, é trabalhar para ele. E aqui entendamos César como todo o contexto político atual, que envolve jogo de interesses e alianças multipartidárias que atendam aos interesses dos partidos em todas as esferas geográficas: locais, regionais, estaduais e federais.

O segundo problema, que está além do religioso, é as questões políticas e culturais. Não sejamos hipócritas. É óbvio que estaremos sujeitos aos princípios do prefeito para qualquer manifestação que a população queira fazer: grandes eventos que não sejam evangélicos (missas campais, eventos espíritas, passeastas feministas, passeatas levantando discussões como a legalização de certos tipos de drogas e lutas por direitos LGBT).
Aqui não falo concordando ou não com essas causas porque não vem ao caso. Também não estou me posicionando diretamente ao que eu creio que seja o pensamento do candidato Kennedy. A questão é: uma cidade não pode ser governada pelo pensamento de uma pessoa. A população de um município deve ter a liberdade de expressar suas diferentes formas de pensar e de crer. E um candidato evangélico põe em sérios riscos este direito conquistado desde o fim da ditadura militar: o direito à democracia, ao respeito multicultural e à expressão de ideias e opiniões diversas. Enfim, o respeito à diversidade.

Para além dessas questões ideológicas, temos o próprio histórico do Kennedy. Como parlamentar na Assembléia Legislativa de Santa Catarina, sua principal missão era se projetar como prefeito e não atuar como deputado. Fez poucas coisas que trouxessem melhorias significativas para Joinville. Pelo contrário, mesmo sendo do mesmo partido do governador, jamais cobrou melhorias na educação estadual e vemos diversos colégios administrados pelo estado freqüentemente sendo interditados pela vigilância sanitária e com falta de professores e infraestrutura, além de não fazer nada para impedir que fossem fechados dez leitos no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, afogando ainda mais o São José, que mesmo sendo municipal precisa atender a demanda da região.
Uma prova simples do que eu falo: em algum programa da candidatura do Kennedy é mencionado algo relevante que ele fez em sua carreira como deputado estadual?
Fica a reflexão.

Por último, vem as propostas. Para o transporte coletivo, a única proposta é a redução do valor da passagem em R$ 0,35. Logo a passagem volta ao preço que está e a qualidade do serviço não vai ser melhorada, afinal, isso o Kennedy parece ignorar. É a prova que ele pouco conhece das verdadeiras melhorias que precisamos no transporte coletivo de Joinville.
E o maior e grande discurso do Kennedy é o alargamento de ruas e a chuva de elevados que ele quer trazer à cidade. Eu gosto e concordo com a ideia de elevados, mas em alguns pontos altamente críticos e perigosos da cidade, criteriosamente selecionados e que, pelo que me ocorre, não mais que dois (aquele cruzamento da Marquês de Olinda com a Ottokar Doerffel e na Santos Dumont com a Tuiuti, pra agilizar o acesso ao Jardim Paraíso e melhorar o tráfego para o aeroporto).
Ainda assim, elevados não são soluções inteligentes para a mobilidade urbana. É preciso investir mais em transporte coletivo (e não só reduzir R$ 0,35 a passagem), melhorar as ciclovias e ciclofaixas da cidade e as calçadas, dando alternativas para além do transporte individual aos joinvilenses. Isso é um convenção no mundo todo: as soluções para a mobilidade urbana estão em substituir o transporte individual pelo coletivo. E o Kennedy ainda não compreendeu isso.

Além disso, muitas das propostas que ele vem citando são projetos que já estão contemplados com um dinheiro trazido do BNDES pelo governo do estado e estão em fase de licitação (como as melhorias na Santos Dumont).
Precisamos ter cuidado com pessoas de boa lábia e comunicabilidade. Estas sabem se fazer passar por solucionadores de problemas. Mas basta pensarmos um pouco mais pra identificarmos que as soluções não são exatamente aquelas. Pode até ser o que o povo quer ouvir e ver. Mas não é o que ele precisa.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A não compreendida importância da política



Em épocas de eleição é que costumamos observar a maior quantidade de máximas, que pipocam por todo o canto: "odeio política", "nada muda", "vamos anular o voto", "é tudo igual!", "todo mundo rouba na política", "vamos votar branco", "não quero nem saber disso aí", e por aí vai.
Pode até ser que as coisas não estejam boas, que os serviços públicos estejam morosos e ineficientes, que a educação e a saúde estejam precarizadas, que a infraestrutura esteja sucateada e que tudo está muito caro. Mas sinto lhe dizer, querido leitor, que nada disso vai mudar se você não aceitar que só a política é capaz de fazer as coisas mudarem!

O quê? Você acha que com a política não é possível mudar? Bom... está lhe faltando, então, um pouco de lembranças das aulas de história. E aí está outro problema: nossos queridos aluninhos brasileiros, em todas as esferas da educação, não gostam de estudar. E, não raro, quando estudam, é por nota ou pra conseguir a profissão almejada. Jamais por puro, simples e rico conhecimento.

Mas voltemos: foi através de uma movimentação política que o Brasil conseguiu sair de décadas de ditadura para viver, enfim, o regime democrático.
Para quem não tem noção do que era a ditadura (ou esqueceu, ou perdeu a noção de gravidade), aí vai um refresco dolorido: a ditadura proibia o acesso à informação que eles não julgavam interessante. Certamente, portanto, você não veria as queridas cantoras pop da atualidade com a frequência que vê, porque, pela indumentária delas, era uma afronta à família. Seriados americanos? Jamais! O nacionalismo impedia que se tivesse acesso, no Brasil, a uma quantidade muito grande de produções estrangeiras.
Se você fosse um pouco mais politizado, era perseguido, preso e torturado. E mesmo que você não fosse muito politizado, mas fosse pego reclamando do governo com a vizinha, também era preso.

Passado o tempo da ditadura, tivemos o governo Collor, que foi um completo fiasco e não resolveu nada os problemas históricos do Brasil de décadas de atraso. E por um movimento político Collor foi deposto da Presidência da República.

Fora do Brasil, temos o bom exemplo de Nelson Mandela que, com força política, conseguiu trazer um pouco mais de igualdade para a África do Sul.

Da mesma forma, existem aquelas forças políticas que fazem o mal: Hitler (que dispensa explicações) e George Bush só para citar exemplos. Além daqueles casos locais de autoridades municipais que autorizam de forma inconstitucional a exploração de um serviço público (o transporte coletivo) para duas empresas somente por 14 anos. Por mil Lápis, Helicópteros e Sapos! Não preciso lhes dizer quem é, né?

Ou seja, o povo tem sim poder na política. É só ver a história! E a política tem histórico de ser suja e excludente mesmo. Basta ver na Grécia Antiga, quando criaram o conceito de democracia: a democracia deles excluía mulheres e escravos. Só homens tinham voz para tomar as decisões.
Ainda assim, exemplos de políticas feitas com diálogo, respeito, maturidade existem! Basta ver a situação de movimentos sociais, estudantis, sindicatos, entre outras organizações que lutam por dignidade com democracia e inteligência.

Mas é preciso ampliar essa consciência. Infelizmente existem três grupos de pessoas no nosso Brasil.

O primeiro grupo é composto por pessoas não-instruídas que são ludibriadas com discursos que dizem apenas o que elas querem ouvir. Russomano, candidato a prefeito para a cidade de São Paulo, disse hoje, 22 de agosto, que queria que houvesse uma igreja em cada quarteirão. Serra, que também saiu candidato pela capital paulista, também anda fazendo comício em diversas igrejas e estreitando laços com pastores.
Ou seja, uma população que já é enganada e prejudicada por pastores charlatões estão sendo usadas para arrecadação de votos de sujeitos que se preocupam em fazer mais um discurso vazio e ludibriante, do que instigante e construtivo.
É preciso que se diga que grande parte das lutas importantes e necessárias para o desenvolvimento social do nosso país estão prejudicadas por conta das igrejas.

O segundo grupo é composto pelas pessoas que proferem aquelas máximas que listei no início do texto. São pessoas que não são instruídas e que espalham aquelas ideias de votos brancos e nulos como se fossem solução. Não! Não são solução, é preciso dizer, porque esse tipo de “protesto” não dá em nada porque estes votos não são contabilizados e alguém vai ser eleito de qualquer modo. Então porque perder o voto se existe a possibilidade de investir em alguma proposta interessante?
Mas para estas pessoas não existe proposta interessante. E depois reclamam que a saúde vai mal, que o trânsito tá um inferno, que as compras estão ficando muito caras, que não tá sobrando dinheiro pro lazer, que a escola foi interditada, que não tem parques pra criançada brincar e que tem esgoto a céu aberto e buraco na rua.
Mas depois da oportunidade (de voto) perdida, de que adianta reclamar, né?

O terceiro grupo faz parte das pessoas engajadas. Seja pelas boas causas, em prol da sociedade e das minorias, seja pela causa de quem detém o dinheiro, os privilégios e o poder.
O problema é que, deste grupo, os primeiros citados são os mais fracos, pois condenam o preconceito e promovem a igualdade e a justiça para trabalhadores e movimentos sociais, o que nem sempre vai de encontro com as ideias de uma maioria preconceituosa, machista e cristã-conservadora.

Enfim, a lógica é diferente do que a maioria pensa. O impossível de mudar não é a política, mas as pessoas. Se as pessoas mudassem, a política seria diferente. Afinal, foram as pessoas que colocaram Collor, Hitler e Bush no poder. Eles não chegaram lá igual uma vilã de novela conquista a riqueza dando o golpe da barriga!

Por isso, fica aqui o apelo. Vamos lutar pela conscientização! Hoje pode ser que o rumo da política na sua cidade, no Brasil e no mundo não te interesse. Mas no dia que você for prejudicado diretamente, você vai se lembrar deste longo texto aqui.

Daí pode ser tarde demais.


domingo, 5 de agosto de 2012

O (não) reconhecimento do legado de Mazzaropi


A identificação popular, por si só, sem o aval de críticos ou da elite intelectual, nunca foi motivo suficiente para registrar a relevância de alguma obra na história da arte. O popular, na realidade, no decorrer dos tempos, e até hoje, é tido como algo de menos prestígio em relação a obras de arte reconhecidas pela crítica especializada e pelos próprios produtores artísticos.

Se observarmos a história da arte poderemos constatar que muitos artistas só foram reconhecidos muito depois de sua morte – e daí, elitizados. Enquanto viviam, ainda eram motivo de desconfiança por parte dos “consumidores de arte”. Em muitos aspectos e para muitas pessoas, a arte é tida como uma representação de status social. Por essas razões, algo só é entendido como obra de arte a partir do momento em que se detecta um reconhecimento intelectual.

No caso do cinema brasileiro, isso é muito visível. E nem estamos falando de Mazzaropi ainda. De acordo com uma matéria publicada na revista "Cult" com um dossiê de Glauber Rocha, o próprio criador da chamada “Estética da Fome” fez um cinema conceituado por diversos nomes internacionais do cinema – como o diretor Martin Scorsese – dirigiu e escreveu longas que são marcos na história do cinema brasileiro, não teve reconhecimento, no Brasil, enquanto estava atuante e vivia para contribuir com a sétima arte nacional.

Hoje, por analisar o contexto social e histórico da época, a obra de Glauber é lembrada e aplaudida no Brasil e também no exterior. As pessoas compreenderam as alegorias presentes em suas películas e que faziam duras críticas ao modo de viver e de pensar da época. Hoje Glauber tem um reconhecimento que não gozou em plenitude na época em que fazia seus filmes.

Mas Mazzaropi continua à margem.

Cena de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", premiado filme
de Glauber Rocha
A obra de Glauber Rocha, por exemplo, está protegida e amparada na Cinemateca Nacional, um espaço que recebe incentivo fiscal do governo federal e é patrocinada pela Petrobras, uma estatal. O Museu do Mazzaropi é mantido por um Instituto fundado pela iniciativa privada: a empresa que mantém o Hotel Fazenda Mazzaropi, que nada tem a ver com a família do cineasta-comediante, e não há qualquer programa governamental de apoio e preservação ao legado de Mazzaropi. Nem mesmo em Taubaté, cidade onde está instalado o museu, há qualquer tipo de propaganda do governo municipal usando Mazzaropi como motor de propaganda turística.

O sertão do sudeste e centro-oeste, o jeca, o sertanejo da região cafeeira, nunca foram motivo de apreciação artística. A música sertaneja de raiz só chegou à cidade quando se “romantizou”. As modas de viola, que contavam causos e animavam as noites no sítio, até hoje não caem muito ao gosto de quem busca refinamento na música.

O país preferiu falar do sertão nordestino, da seca e dos males das regiões áridas do Brasil. E quem falou de lá, no cinema ou na literatura, foi muito lembrado – e com razão. Na década de 1960, a nouvelle vague brasileira tinha o objetivo de “imprimir o Brasil em película”. E essa procura de uma identidade nacional acabou por se tornar um retrato do sertão nordestino. Neste movimento é que sugiu “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1963), de Glauber Rocha, indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Cena de "Jeca Tatu", a maior bilheteria da história de
Mazzaropi, livre adaptação da obra de Monteiro Lobato
Mas o sertanejo da região de São Paulo e Minas Gerais, do interior do sudeste e do centro-oeste brasileiro, que não convivia com a seca, mas também tinha seus problemas, e precisava enfrentar os grandes latifundiários, a falta de saneamento e saúde pública, via os filhos viajando em debandada para as capitais, ou suas pequenas e pacatas cidades se transformarem em polo industrial, pela proximidade com São Paulo, não foi retratado. Sua roça foi minguando e perdendo espaço para o asfalto e as facilidades da tecnologia e quase nada se falou dele.

Mazzaropi esteve lá para falar desse sertanejo. Ele falou do jeca de Monteiro Lobato, criado em Taubaté e lá instalou sua indústria de cinema. Ele falou dos imigrantes portugueses e japoneses e ele mesmo representava o italiano que saiu da Europa para tentar uma vida melhor no Brasil, mas acabou apenas transferindo para cá novas dificuldades, instalando-se nas lavouras de café para garantir a sobrevivência. Aos poucos, esses sertanejos foram tentar melhor condições de vida na cidade, e Mazzaropi esteve com suas histórias na capital paulista, além de falar do jeca que vinha para a cidade, do que já morava na cidade ou simplesmente levar, no cinema, o jeca para quem um dia morou na roça e se encontrava numa vida limitada às linhas de produção.

Este texto é um trecho adaptado e extraído de "O Papel de Mazzaropi na História do Cinema Nacional", monografia de minha autoria concluída neste ano (2012).

terça-feira, 31 de julho de 2012

Três títulos já são cotados para nomear "O Hobbit 3"

ATUALIZADO! (31/07/12 - 20:55)
O título do segundo filme mudou; de "Lá e De Volta Outra Vez" passa a ser "A Desolação de Smaug". O terceiro ficou como "A Batalha dos Cinco Exércitos", como anunciado aqui neste espaço há pouco.

Continuamos acompanhando.

A SEGUIR, POSTAGEM DE 31/07/12 - 20:45

E o Andarilho segue com atualizações sobre o terceiro filme de "O Hobbit". Após o anúncio oficial de que a nova adaptação do livro de J.R.R Tolkien será dividido em três partes, a New Line Cinema já começa a registrar possíveis nomes para o longa.

"Riddles in the Dark" (Adivinhas no Escuro), "The Desolation of Smaug" (A Desolação de Smaug) e "The Battle of The Five Armies" (A Batalha dos Cinco Exércitos) são os nomes cotados.

Na prática, o nome mais provável é o último, já que os capítulos "Adivinhas no Escuro" e "A Desolação de Smaug", de acordo com o livro, não ficam tão no final da narrativa. Cinematograficamente falando, também, em se tratando de uma trilogia contínua, como em "O Senhor dos Anéis", a adequação de uma batalha para clímax da história também é mais provável.

"O Hobbit" se passa 60 anos antes dos eventos de "O Senhor dos Anéis". Ele conta como Bilbo Bolseiro achou o Um Anel na caverna de Gollum, ainda sem saber que se tratava do lendário Anel de Sauron. O filme será baseado no livro homônimo de J.R.R. Tolkien.

O roteiro foi escrito a oito mãos por Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens e Guillermo del Toro. A direção é de Peter Jackson, mesmo diretor da Trilogia do Anel. Junto com ele, devem voltar outros atores presentes na trilogia: Ian McKellen (Gandalf), Orlando Bloom (Legolas), Christopher Lee (Saruman), Hugo Weaving (Elrond), Andy Serkis (Gollum) e Cate Blanchet (Galadriel). Howard Shore volta a comandar a trilha sonora e a Weta, mesma responsável pelos efeitos especiais de "O Senhor dos Anéis", "Distrito 9" e "Avatar", estará assumindo um dos postos mais importantes para o sucesso dos dois longas.

"O Hobbit - Uma Jornada Inesperada" será lançado em dezembro deste ano. A segunda parte, "O Hobbit - Lá e De Volta Outra Vez" deve chegar aos cinemas em dezembro de 2013. A terceira parte, ainda sem nome, está programada para o segundo semestre de 2014.

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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Anunciado o terceiro filme de "O Hobbit"

Desde o final da trilogia do Anel falava-se a respeito de uma adaptação para a pré-sequência de "O Senhor dos Anéis" - "O Hobbit" - a história de como Bilbo Bolseiro encontrou o Anel do Poder e ajudou os 13 anões liderados por Thorin, Escudo de Carvalho, a recuperar o tesouro roubado pelo dragão Smaug e escondido no interior da Montanha Solitária.
Mas pendências judiciais, a crise econômica da MGM - um dos estúdios envolvidos no projeto - a incorporação da New Line pela Warner Bros., entre outras questões, levaram os planos de uma adaptação para o lixo, sendo resgatados apenas alguns anos depois para passar por tantos outros entraves até, enfim, começar a ser rodado.

Eis que, de lá para cá, para um filme que corria o risco de não existir, até que "O Hobbit" tem se saído mais pioneiro do que imaginado. Além de ser gravado em 3D, o novo projeto de Peter Jackson será exibido nos cinemas na velocidade de 48 quadros por segundo (o dobro do comum, que é de 24 quadros/segundo), e, agora, não serão mais dois filmes, e sim, três.

A seguir, o comunicado oficial, feito pelo próprio Jackson, diretor dos longas:

É apenas no final de uma filmagem que você finalmente tem a chance de sentar e olhar o filme que você fez. Recentemente Fran, Phil e eu fizemos exatamente isso quando assistimos pela primeira vez uma edição preliminar do primeiro filme – e um grande pedaço do segundo. Nós ficamos realmente satisfeitos com a maneira com a qual a história se agregava e em particular com a força dos personagens e o elenco que os trouxeram à vida. Tudo isso deu origem a uma questão simples: aproveitamos essa oportunidade para contar mais dessa história? E a resposta, da nossa perspectiva como diretores e como fãs, foi um ‘sim’ sem restrições.
Nós sabemos quanto da história de Bilbo Bolseiro, o Mago Gandalf, os Anões de Erebor, o surgimento do Necromante e a Batalha de Dol Guldur iria continuar sem ser contada se não aproveitássemos essa chance. A riqueza da história de O Hobbit bem como alguns dos materiais relacionados nos apêndices de O Senhor dos Anéis nos permitem contar a história completa das aventuras de Bilbo Bolseiro e a parte que ele representou na algumas vezes perigosa mas sempre excitante, história da Terra-média.

Desta forma, sem mais delongas e em nome da New Line Cinema, Warner Bros. Pictures, Metro-Goldwyn-Mayer, Wingnut Films e o elenco e equipe dos filmes “O Hobbit” eu gostaria de anunciar que os dois filmes se tornarão três.

É uma jornada inesperada de fato, e nas palavras do próprio Professor Tolkien, “um conto que cresceu ao ser contado”
Se antes, para muitos, até mesmo dois filmes era um exagero diante do tamanho do livro, três é ainda mais absurdo. Mas é importante ressaltar que a (agora) trilogia não vai contar somente os fatos relatados no original. O filme se propõe a acompanhar Gandalf nos "sumiços" dele, inexplicados no livro. Para isso, será necessário falar do Conselho Branco e a expulsão de Sauron da fortaleza em Dol Guldur, além de outras explicações contidas nos apêndices de "O Senhor dos Anéis".

Os longas devem contar, ainda, com as filmagens que fariam parte de uma versão extendida de "O Hobbit". As novas cenas serão gravadas por volta de maio do ano que vem. Para isto, estão sendo negociados o prolongamento do contrato com os atores e demais envolvidos no projeto. 

Ficamos na torcida para que este novo material nos traga mais informações úteis, existentes no universo criado por Tolkien, e com qualidade.

"O Hobbit - Uma Jornada Inesperada" será lançado em dezembro deste ano. A segunda parte, "O Hobbit - Lá e De Volta Outra Vez" deve chegar aos cinemas em dezembro de 2013. A terceira parte, ainda sem nome, está programada para o segundo semestre de 2014.

Com informações do site Valinor e Omelete.

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sábado, 28 de julho de 2012

Você precisa VER: "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge"


A trilogia "Batman" de Nolan nos leva a uma discussão interessante a respeito dos valores morais de uma sociedade. Em "O Cavaleiro das Trevas", o prefeito de Gothan City pergunta a Harvey Dent se ele está preparado para pagar o preço da honestidade, ou algo desse tipo. Ele continua, dizendo que não sabe até onde aquilo será bom para cidade, a partir do momento em que as pessoas começarem a sentir o "bolso mais leve".

Essa questão é muito pertinente no mundo em que vivemos. As pessoas estão muito preocupadas em se dar bem, pagar menos, tirar vantagem, sair com o lucro. E jamais pensam nas consequências dessas atitudes na sociedade. E não falo somente dos políticos, pois eles são fruto de uma sociedade mal educada e mal preparada para pensar e viver questões políticas que moldam o nosso dia-a-dia.

Assim, quando vemos o Batman tão envolvido em questões políticas e econômicas, percebemos que o filme é deveras adulto, complexo e extrapola o mundo da imaginação infantil, que é extremamente explorado nos universos dos super-heróis. Isso afasta muita gente do Batman de Nolan, creio eu; porque ele nos faz pensar, mexe com política e com assuntos que ferem a sociedade.

O Coringa fazia tudo sem motivo, apenas por prazer; e não chega a ser tão cruel como Bane, o vilão desta terceira parte da saga, que tem um objetivo traçado. E é essa crueldade que reparamos na maioria - sim, maioria - da sociedade brasileira e mundial. Todo mundo quer sair ganhando. E quando acusamos alguém disso, a pessoa entra na defensiva justificando que não vai ser tola de dar dinheiro para quem tem muito. Mal reflete esta que aquela outra só tem muito porque ambas pensam exatamente da mesma forma.

E assim caminha a humanidade, incapaz de observar que atitudes heróicas não dependem de grandes feitos, e o próprio Batman reconhece e alerta para isso, no momento em que revela que um herói é todo aquele que simplesmente coloca um casaco numa criança para dar a ela a esperança de que tudo vai ficar bem e que não estará sozinha.

Que Gothan City nos ensine uma lição e que Batman nos inspire muito além da ficção.

Por este motivo e pela própria qualidade técnica e artística de "O Cavaleiro das Trevas Ressurge", vale a pena você ir ao cinema e conferir este majestoso trabalho. Uma trilogia de qualidade e um desfecho à altura.

Para quem quiser ter uma ideia do que vai encontrar, pode ler a crítica lá no Set, de onde foi extraído a primeira parte deste texto. Bom filme!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

"Valente" no Set

Os estúdios Pixar retornam à ativa com "Valente", a história da princesa Merida que desafia as leis do reino e luta pela sua própria mão, a fim de evitar o casamento precoce. Apesar de destemida, precisa se submeter às vontades de sua mãe, Elinor, que desaprova o comportamento da filha.
Para resolver o problema, Merida pede ajuda de uma bruxa, com a esperança de que sua mãe mude de ideia. Isso acaba tranformando Elinor em um urso e levando a princesa a ter que buscar uma solução para o problema que criou.
A crítica completa está lá no Set! Não deixe de ler!


quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Cidade da Dança

Joinville tem alguns títulos conhecidos em toda Santa Catarina: Cidade dos Príncipes, das Bicicletas, das Flores e da Dança. Destes, os dois primeiros talvez sejam os que têm menos razões para existir. Apesar de, historicamente, a então Colônia Dona Francisca ter sido um pedaço de terra oferecido como dote de casamento à princesa Dona Francisca, eles jamais estiveram aqui. As bicicletas tiveram sua época, mas hoje a cidade é tomada pelos carros; e algumas fontes chegam a dizer que Joinville é o município brasileiro com o maior número de carros no país, proporcionalmente à sua população, claro.

Mas Cidade das Flores é algo que já podemos relevar. Apesar de não ser tão florida quanto era nas primeiras décadas de existência, a maior cidade catarinense realiza um dos mais antigos e mais tradicionais festivais dedicados às flores no Brasil. Mas é como Cidade da Dança que Joinville encontra o título mais definidor da sua vocação cultural.
Além de abrigar a única filial da Escola do Teatro Bolshoi fora da Rússia, Joinville promove o maior Festival de Dança do Mundo. Bailarinos de várias cidades e nacionalidades vêm para cá assistir, aprender e se apresentar em palcos espalhados por toda a cidade: praças, shoppings, hospitais, pátios das indústrias (que aqui tem aos montes) e o coração de tudo: o Centreventos Cau Hansen (foto abaixo), onde ocorre as noites de abertura, de gala, encerramento e as mostras competitivas.
Os pequenos também têm seu espaço. No Teatro Juarez Machado, crianças apresentam os passos ensaiados com dedicação e responsabilidade, numa demonstração de dedicação de colocar inveja em qualquer marmanjo.

Centreventos: a Arena Multiuso palco das principais
apresentações do Festival

A Feira das Sapatilhas, além de ser ponto de encontro de todas as pessoas que fazem e prestigiam essa festa, vira um shopping de artigos para dança, sempre ao som das músicas que embalam as coreografias do palco instalado lá.
Tudo se tranforma. São dez dias que Joinville respira cultura, tão em falta no dia-a-dia daqui. Quem, em dias comuns, não se mostra nem um pouco interessado em qualquer tipo de arte, é pego de surpresa tendo a atenção presa em alguma atração das tantas espalhadas pela cidade. Ainda que habitualmente os joinvilenses não sejam tão adeptos e receptivos a programas culturais, esta festa é aceita, celebrada e vivida com entusiasmo. E não falo de pouco entusiasmo: são 30 anos de Festival. Três décadas que os maiores nomes da dança nacional e internacional falam, conhecem e se apresentam em Joinville.

Aos que vivem aqui e não sabem dar um passo de qualquer tipo de dança, resta dançar com os olhos. Sim, o brilho do olhar dança no ritmo da coreografia assistida. Ao final, depois do som da música e do silêncio da plateia, vem os aplausos. Aplausos a algo maravilhoso que acontece por aqui e que nos enche de alegria e orgulho de morar na Cidade da Dança.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Regras de conduta no cinema

Ir ao cinema é algo mágico. Eu já disse isso aqui. Mas eu não teria escrito um texto como este se eu já tivesse tido a experiência de estar "do outro lado do balcão". O cinema é um lugar projetado para você se sentir bem e viver experiências sensoriais particulares, proporcionadas somente em um lugar como este. Mas a arquitetura não é capaz de fazer as pessoas serem mais educadas e terem o mínimo de gentileza para com os outros espectadores e, principalmente, para com os funcionários do cinema.

APOIE A CAMPANHA NO CATARSE PARA PUBLICAÇÃO DE EM BUSCA DO REINADO!

Sei que muitos dos que lerem este post não precisam de tais recomendações. Mas eu preciso escrever para que exista uma listagem como esta na rede. De repente, pode ser que alguém encontre, julgue útil e divulgue em uma exibidora de cinema qualquer. Da mesma forma, sempre há a possibilidade de um mal educado de plantão encontrar um texto como este. De qualquer forma, lá vão os tópicos:

1 - Quando for ao cinema, VÁ AO CINEMA!
Sei que é muito legal reunir os amigos, a família, namorar ou qualquer atividade social. Mas DENTRO de uma sala de cinema não é o lugar de você colocar a fofoca em dia, fazer piadas, tirar sarro, fazer cócegas, lavar a roupa suja ou fazer festa. Da mesma forma, é agradabilíssimo ir ao cinema e levar uma pipoca ou salgadinho para comer durante a projeção; mas, ainda assim, você está em um CINEMA, não numa Praça de Alimentação. Logo, NÃO É PIQUENIQUE. Evite fazer barulho e tenha o filme como motivo central de ter saído de casa. A pipoca e a companhia contam muito, eu sei. Mas elas não devem ser o motivo real de você estar no CINEMA. Se for, prefira um filme em casa ou qualquer outra atividade. Cinema é lugar de silêncio.

2 - Cinema não é motel
Óbvio que o escurinho é tentador e muitos vão em casais para o cinema. Ainda assim, crianças, famílias, idosos e pessoas com diversas orientações religiosas frequentam o cinema e não gostariam de participar do seu fetiche. Um beijo de vez em quando é romântico. Mão boba (pra mais) é falta de respeito. E vale sempre lembrar o ítem 1.

3 - Conheça seus direitos
É sabido que cinema não é, financeiramente, um programa muito familiar, e aquela meia-entrada sempre ajuda nas contas. Mas não vá ao cinema se achando um advogado. Procure conhecer as leis de meia-entrada, que possuem adendos estaduais e, muitas vezes, municipais. Além disso, decisões judiciais costumam favorecer as exibidoras a fazer exigências adicionais. Localize o cinema que você pretende frequentar e se informe das regras de meia-entrada. Assim, você evita desgastes e contratempos, minimizando o estresse dos funcionários do cinema e evitando situações ruins num momento de diversão.

4 - Seja honesto
As velhas regras de educação sempre valem. Não procure bancar o espertinho para garantir meia-entrada. Falsificação de documentos é crime. Falsidade ideológica também. E tudo isso é praticado por pessoas desonestas querendo se dar bem e pagar meia-entrada. Exercite sua cidadania, evite chateações para você e para os funcionários do cinema.
Além de falsificar documentos, não compre meia-entrada nas máquinas de autoatendimento se você não tem direito a ela. Não fure filas. Não ocupe poltronas que não as que você comprou (no caso de poltronas numeradas). Deste modo, ninguém sai prejudicado em seu momento de diversão: nem você, nem os funcionários do cinema, nem as outras pessoas que estão frequentando o local.

5 - Decida-se antes de entrar na fila
Não deixe para escolher o filme no caixa da bilheteria. Isso atrapalha o atendimento e causa morosidade na fila: todo mundo pode se atrasar para sua sessão; inclusive você.
E muito importante: mais que decidir antes de entrar na fila, entre na fila com certa antecedência de começar a sessão! O seu atraso não é culpa do atendimento demorado, nem do tamanho da fila: atraso é culpa somente sua!

6 - Seja educado!
Funcionários do cinema não são seus escravos. Portanto, SEJA EDUCADO. Ninguém está lá querendo que você não assista aos filmes. Muito pelo contrário. Grosseria não vai fazer ninguém se sensibilizar com seu problema e te ajudar. Seja sincero e honesto que qualquer pessoa com um mínimo de bom senso (assim como o seu) vai estar à sua disposição.
Jogue o lixo no lixo. Evite desperdiçar alimentos, jogando pipoca no chão. Controle o ímpeto de bagunça dos menores (as crianças não costumam "pintar e bordar" na sua casa, certo?). DESLIGUE O CELULAR (nada de "modo silencioso"); desconecte-se do mundo lá fora enquanto você estiver numa sala de cinema. Afinal, se você tiver alguma pessoa próxima em estado terminal, você não estaria se divertindo, certo?
Seja gentil: ceda sua vez, respeite os mais idosos, portadores de necessidades especiais.
NÃO CALCE SUAS CRIANÇAS COM TÊNIS QUE BRILHAM!
Tenha em mente que você está num lugar público. Se você tem qualquer tipo de repulsa em sentar ao lado de um desconhecido, você está no lugar errado. Aquela história de "deixar uma poltrona vazia" não é gentil, uma vez que, de poltrona em poltrona, muitas famílias ou casais serão obrigados a sentar separados ou nem poderão ver o filme que programaram.

7 - Em síntese: NÃO FUME, NÃO CONVERSE, DESLIGUE O CELULAR, NÃO SE ACHE O ADVOGADO, NÃO JOGUE LIXO NO CHÃO, SEJA HONESTO E EDUCADO.

Num local público, as boas experiências só podem ser plenas se todos colaborarem com educação e honestidade. Caso contrário, não há tecnologia e arquitetura capaz de tornar a sua diversão um momento compensador.

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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre filmes dublados e a decadência da experiência cinematográfica no Brasil

Se aceitarmos a afirmação de que a vida é uma montanha-russa, a existência do planeta, pelo menos em termos artísticos, está em queda-livre. E essa discussão gera reflexos em diversos setores da sociedade, não somente no que diz respeito ao assunto-tema deste post.
Estamos percebendo um aumento desrespeitoso de cópias dubladas dos filmes em nossas salas de cinema. Isto é apenas mais um indício de como o cinema está se voltando, cada vez mais, a uma mera atividade de lazer. Ou seja, para grande maioria da população, ir ao cinema está se tornando tão profundo e intelectualmente instigante como jogar peca. E a indústria do cinema, cega, não percebe que isso pode levar à derrocada desta arte no Brasil.

Eu não critico a Indústria Cultural e, especificamente, a Indústria do Cinema. Entre tantas coisas que são feitas nesta área, existem muitas porcarias; mas existem, também, grandes produtos (sim, produtos) que nos levam à reflexões interessantes a respeito da sociedade e do comportamento humano, além de nos levar a vivenciar experiências artísticas fascinantes. Esta Indústria, aliás, é que tornou possível, inclusive, o cinema não-comercial, chamado "cinema-arte". E também ela que escreveu a história da Sétima Arte. Portanto, não está - somente - no fato de, a priori, ser uma indústria, a culpa por o que está ocorrendo com a vivência cinematográfica.

É um tiro no próprio pé. As distribuidoras brasileiras estão dublando os filmes para "atarir mais público". E é incrível como tais empresas são tão seletas, taxativas e radicais nas suas decisões, se mostram tão duronas e exigentes a respeito das estratégias comerciais, de distribuição e afins e soem tão ridículas na hora de tomar tais atitudes. Acontece que este público não é o que está semanalmente no cinema, nem o que vai comprar o DVD e, se não comprar, vai à locadora alugar. O público que está sendo atraído para o cinema por conta dos filmes dublados é aquele que só vai à sala escura quando tem um filme comercialmene alucinante, que todos estão vendo, virou modinha e não quer ser o único a não assistir. Além, é claro, de quase sempre, ser um filme repleto de explosões ou contar, no elenco, com algum artista popularmente conhecido por alguma historinha boba. (Digo isso porque este público não está nem aí pra Meryl Streep, por exemplo, mas sim para Kristen Stewart).
Estas pessoas, se gostarem do filme, vão baixá-lo da internet, ou comprá-lo pirata. Quando não, podem até gravá-lo no cinema e distribuir para os amigos. E é para essa gente, que não está nem aí para todos os aspectos psicológicos, antropológicos e artísticos do cinema, que as distribuidoras brasileiras estão se voltando.


Em "Enrolados", da Disney, Luciano Hulk dublou o Príncipe.
Além de a dublagem, por si só, já ser horrível, a distribuidora
nem se deu ao trabalho de contratar um dublador profissional

Eu não digo que não deva existir a opção de filmes dublados. Minha mãe, por exemplo, tem dificuldades de acompanhar a legenda. Mas ela está no grupo de pessoas que já citei: não está nem aí para as questões artísticas da Sétima Arte. Ela raramente se interessa por um filme e, quando se interessa, pouco tem a ver com as questões artísticas, baseadas em construção de personagens e roteiro de um longa-metragem.
Mas existe gente que não tem dificuldade nenhuma de acompanhar a legenda, a não ser pela preguiça. E é esta preguiça que faz com que a pessoa pouco esteja se importando com o trabalho de quem esteve envolvido naquele projeto para torná-lo uma experiência interessante.
Assim, o trabalho dos sonoplastas, editores de som, dos fonoaudiólogos que auxiliam os bons atores a trabalharem sua voz em prol da construção dos personagens, fica esquecido por causa da preguiça de muitos, e as distribuidoras brasileiras não estão nem aí para este trabalho técnico e artístico. Dão de ombros à dedicação e atenção de centenas de profissionais para atender aos caprichos de uma maioria preguiçosa.
Aliás, como bem lembrou o crítico Pablo Villaça, de quem tenho grande admiração e já discorreu diversas vezes sobre este assunto, o aspecto sonoro dos filmes é tão importante que até existe uma premiação específica para isso no Oscar.

Daí entram as consequências sociais desta prática que mencionei lá no início do texto: no mesmo instante que identificamos que a solução para nosso crescimento enquanto seres humanos reside no esforço, na educação, no senso crítico e na sensibilização pela arte, somos empurrados para as salas de cinema sem ter que praticar nada disso: não precisamos ler, nem compreender outras culturas (afinal, no idioma original não são usados expressões, nem gírias brasileiras) e somos dispensados do senso crítico, já que grande parte do trabalho original não poderá ser conferido porque ele foi deletado junto com o áudio original. Deste modo, vivenciamos uma inversão de valores. Aqueles que querem silêncio no cinema são tidos como vilões, e os que conversam são as vítimas daqueles que preferem o silêncio. Sim, eu tive a horrível experiência de passar por uma situação dessa.

Por fim, é de suma importância que compreendamos os aspectos técnicos inerentes ao filme no idioma original. Creio que não é preciso que eu repita, visto que existem textos brilhantes na internet com tal discussão. Recomendo este em especial e creio que seja extremamente necessário a leitura dele para que esta discussão fique completa.
Pra encerrar, deixo aqui uma frase de Pablo Villaça, do texto que linquei:
"Aceitar a dublagem [...] é dizer que não há problema em se alterar as cores de Lição de Anatomia, de Rembrandt, ou de O Grito, de Munch, desde que os 'desenhos' sejam mantidos na íntegra. Ora, nenhuma forma de arte seria submetida a uma deturpação destas - e perceber que algo assim é visto com naturalidade no Cinema é uma prova inconteste da persistente falta de prestígio e respeito que a Sétima Arte enfrenta desde seus primórdios"
Ora... aqui está a questão-chave desta discussão: e quem, dentre os amantes da dublagem, está preocupado com arte?

domingo, 17 de junho de 2012

"Madagascar 3" no Set

O quarteto de animais mais famoso do mundo saiu de Nova York para Madagascar e agora está na Europa. Mas a história original foi esquecida por uma história que... bem... não tem história. Apesar disso, o filme é colorido, divertido e conta com um 3D interessante, apesar de exagerado. A análise completa dessa animação que abriu a alta temporada cinematográfica de 2012 está lá no Set Sétima. Não deixe de conferir!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Museu Mazzaropi: o desconhecido de Taubaté

Acordei cedo. A manhã era ensolarada. Eu ainda não tinha visto nenhum amanhecer em Taubaté. Havia chegado no dia anterior, à noite.
As ruas estavam vazias. Ao longe, ouvia o cantar de um coral. Provavelmente alguma igreja em missa naquele domingo de manhã. Eu estava aflito. Tinha poucas informações das que eu precisava. Desde que eu coloquei meus pés nas terras do Vale do Paraíba, ninguém soube me informar onde ficava o museu do Mazzaropi, muito menos como se chegava até lá.

Pedi informação para uma senhora que passava, sozinha, na rua deserta. Ela também não soube dizer. Outro senhor passou e também perguntei. Ele não sabia, também, onde ficava.

Fui para o ponto de ônibus. Uma moça estava lá. Demorei alguns minutos até que pudesse tomar coragem para perguntá-la alguma coisa. Ela me parecia um tanto indisposta a falar. Respirei:
- Você sabe me dizer como eu faço para chegar no museu do Mazzaropi?
Ela pensou um pouco antes de responder:
- Desculpa, mas não sei te dizer. Mas faz assim: pega o ônibus até a rodoviária velha [que é o terminal central de ônibus em Taubaté]. Lá sai ônibus para toda a cidade. Daí você pergunta.
Lamentei com ela que desde que chegara ali ninguém soube me dizer como chegar até o museu.
Ela fez uma cara de pesar, apenas. Olhou para o outro lado, para a rua:
- Lá vem um ônibus. Esse vai para onde você precisa.
Agradeci.

O ônibus encostou. Eu estava com uma mala e uma mochila nas costas. Foi difícil passar a catraca. Me acomodei e fiquei prestando atenção nos lugares onde o ônibus passava. O ponto final seria no meu local de destino. Não tinha erro!

Engano meu!

O ônibus parou no Centro, mas não na chamada “Rodoviária Antiga”. Andei algumas quadras procurando, mas não achei. Antes de perguntar onde ficava, resolvi ir até um ponto de táxi. Queria evitar que não chegasse ao museu em tempo. Eu tinha somente até meio-dia para fazer minha visita, e já eram quase 9 horas.

- Bom dia, senhor! - Interrompi o taxista lendo o jornal. - Você sabe me dizer quanto custa para chegar no museu do Mazzaropi?
- Museu do Mazzaropi? - Perguntou o homem, pensativo.
- No bairro dos Remédios. - Tentei ajudar com as informações que eu tinha.
- Sei, sim. Acho que uns 15, 20 reais.
Respirei aliviado. Era menos do que eu imaginava.

O carro branco percorria por entre ruas mais movimentadas e outras menos. O taxista começou a contar dos anos passados, quando, ainda jovem, passava por aquelas bandas e via o empresário Amacio andando nas proximidades de seu Hotel Fazenda.
- Conheço gente que tem histórias pra contar do Mazzaropi. Falavam com ele. Eu só via o homem andar sozinho por esse lugar todo aí. - Dizia o taxista apontando para a beira da estrada.
Talvez não fosse verdade que o artista andasse sem rumo pelas ruas de Taubaté. Mas, certamente, era verdade que ele havia estado ali por perto.

Logo atravessamos o viaduto que passava por baixo da Via Dutra. Não demorou, estávamos em frente ao Hotel Fazenda Mazzaropi.
- Quero deixar o garoto aí dentro. - Avisou o taxista ao porteiro. Logo já percebi que ele não sabia exatamente como funcionavam as coisas por ali. O museu não era dentro do Hotel Fazenda. Isso até eu já sabia.
- Preciso ir ao museu. - Me intrometi.
- Ah! O museu? É nessa rua de chão aqui do lado. Um pouco pra frente, depois de um muro vermelho.
Agradecemos e logo já fomos na direção indicada pelo segurança. Mas de prontidão vi que ele não sabia onde estava indo. Contou-me algumas de suas histórias exageradas e eu não via o momento de chegar, enfim, ao museu.

- Acho que já passamos. - Alertei.
- Será? Mas não vi nenhum muro vermelho! - Interpelou o taxista.
- Mas não vejo mais nada lá na frente. Vamos voltar. Aqui até já acabou o muro do Hotel Fazenda!
O taxista concordou. Fez o retorno e logo já vimos o museu. Havíamos passado muito! Paguei e me despedi com pressa. Não estava mais me agradando aquelas conversas.


Entrada do Museu Mazzaropi, em Taubaté/SP

O carro ia se afastando. Me organizei e, antes de entrar, prestei atenção na faixada do museu. Era um prédio novo, moderno, que não remetia nenhum pouco à área rural, ou a engenhos, casas de sapê ou qualquer construção de jecas pobres, os retratados por Mazzaropi. A entrada, aliás, chamava a atenção pelo respeito e cuidado com a acessibilidade.

Mas todo aquele cuidado parecia abandonado. No caminho, eu só havia percebido uma placa indicativa da localização do museu. O transporte para lá não era facilitado. E olha que tudo era menos distante do que eu imaginava!

No ar, o som dos pássaros festeiros espalhados pelo lugar de verde abundante. No chão, as folhas secas se espalhavam na entrada do museu, como se não tivesse sido varrido há dias. Nenhum carro, nenhum movimento. As árvores projetavam sombras no chão por entre as folhas banhadas pelo sol da manhã. E o vento soprava sobre elas, levemente. Quebrando todo aquele silêncio, estava somente o barulho das rodinhas da minha mala.

Entrei. O teto era alto. Olhei para todas as direções e não vi ninguém. Decidi avançar, apesar do medo de o atendimento ainda não ter começado. Mas já deveria! Não eram 9 horas ainda, e, pelo que haviam me passado, o museu abria às 8.

Uma cobertura arredondada e moderna se destaca na arquitetura do espaço. A entrada é uma sala grande e vazia, exceto por alguns equipamentos antigos de filmagem que ficam à direita da porta: câmera, microfone, grua, uma cadeira de diretor, um baú, mesa, travelling. À frente, uma bancada sem ninguém. Me aproximei dela, tomando cuidado para fazer barulho mais que o necessário.

Enfim, alguém surgiu do andar de cima.

- Olá! Bom dia! - Recepcionou-me a moça.
- Bom dia! Eu gostaria de saber como funciona a visitação. Está aberto o museu já?
- Sim, eu vou descer para conversar. Um minuto.

A moça desceu. Gabriela, o nome. Ainda tenho o cartão que ela me deu.
Gentilmente, ela sugeriu que eu acomodasse minhas malas atrás da bancada. Prontamente deixei todo aquele peso no local indicado e segui para uma sala ao lado do hall de entrada, onde começava a exposição.

Ali a história de Mazzaropi é contada em painéis interativos com muitas fotos, e divididos por etapa da vida e da filmografia do artista. Paralelamente à parede onde estão instalados os painéis, ficam as vitrines que guardam muitos materiais de cena: certificados de aprovação pelos censores da Ditadura Militar, figurinos, dinheiro cenográfico, objetos de cena, fitas, latas, máquinas de escrever, entre tantos outros objetos usados por Mazzaropi e em seus filmes.
Naquele mesmo espaço, algumas cadeiras estofadas ficam acomodadas em frente à uma TV, onde é exibido um documentário sobre a vida e a obra do cineasta.

E foi assistindo os filmes, o documentário, conversando com os funcionários do museu, com a população desinformada de Taubaté e lendo muito sobre o maior jeca do cinema nacional, é que eu consegui mergulhar na filmografia de Amacio Mazzaropi.


Figurino e dinheiro cenográfico utilizados no filme
"Nadando em Dinheiro"

A espingarda torta, um dos símbolos do jeca, utilizada em
vários filmes; entre eles "O Grande Xerife"
Placa do curtiço onde o jeca morava em "Sai da Frente"
Este texto é um trecho extraído de "O Papel de Mazzaropi na História do Cinema Nacional", monografia de minha autoria concluída neste ano (2012).

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Você Precisa LER: "A Guerra dos Tronos"



George Martin fez a lição de casa para emplacar como renomado escritor de fantasia. Produtor e escritor de Hollywood, ele sabe mais que ninguém quais estratégias funcionam na hora de tornar alguma coisa um fenômeno de vendas.
Não à toa, abreviou o "R. R", tal como Tolkien ou Rowlling, conhecidíssimos e premiadíssimos escritores de fantasia. Isso já chamou a atenção logo de cara, seguido pelo mapa que é encontrado logo na primeira página, ao tamanho da obra física e ao marketing muito bem utilizado.
Para prender adultos a uma história de fantasia - que para muitos ainda é tida como coisa de criança e de adolescentes nerds - salpicou um pouco de sexo aqui e mais um tanto de sangue, tortura e mutilação lá. Pronto: estava concluído o livro que ganharia, em breve, uma adaptação. Não deu outra. Ele está emplacando na tela da HBO.

Mas devo confessar que as coisas não são tão fáceis assim. A história não é ruim e não estou reduzindo o trabalho de Martin a estratégias de marketing. Apesar de doente por sexo (com detalhes irrelevantes para a narrativa), ele sabe escrever e conquistar o leitor.
Apesar disso, leva um tempo até que consigamos nos situar na história. A demasiada quantidade de personagens e de localidades que são citadas nos confundem a ponto de, a certa altura, não sabermos exatamente quem é o sujeito que estamos lendo e em que lugar ele está. Em nenhum momento Martin situa ou apresenta os personagens ao leitor. É como se pegássemos "o bonde andando" e, no caminho, aos poucos e sem ajuda, fôssemos descobrindo quem é quem e de que lugar.
Só lá pela metade de "A Guerra dos Tronos" é que passamos a torcer e entender o ódio que sentimos acerca de determinados personagens. E então a história ganha ritmo e nos pegamos sedentos de capítulo atrás de capítulo, devorando cada palavra com uma ferocidade ímpar. Tanto que nos esquecemos da lentidão por qual passamos na primeira metade da narrativa.

Embora inicialmente não pareça fantasia, mas apenas uma história medieval, o livro é mais cheio de surpresas do que podemos supor. E se isso me enche de alegria, por termos à disposição nas livrarias mais uma fantasia de alto nível e boa qualidade, ainda sou contrário às correntes críticas que o consideram tão grandioso quanto a saga do Anel e o comparam a Tolkien. Devo frisar: "A Guerra dos Tronos" não é superior ao universo criado por Rowlling, por exemplo, e ninguém superará Tolkien. É como se quiséssemos atribuir ao Papa os méritos de Cristo na criação do cristianismo. Ou seja: sem Jesus, o cristianismo não existiria, por melhor que fosse o Papa. Sem Tolkien, a alta literatura fantástica não existiria, por melhor que George Martin seja.

Embora haja ressalvas (e a impressão de que o autor escrevia o livro enquanto se masturbava), é uma ótima literatura, e o segundo promete ser ainda melhor, tendo em vista que já estamos habituados ao mundo criado por Martin.

Vale a pena as quase 600 páginas, o seriado está longe de captar a complexidade da história e o desfecho (nem tão desfecho assim, porque deixa aberto para o livro seguinte) nos enche de vontade de continuar. Martin conseguiu prender minha atenção. Pena que não tenha feito isso desde o primeiro capítulo.