domingo, 7 de junho de 2009

Chatô: o Rei do Brasil

Analisar “Chatô – o Rei do Brasil” nos obriga a pensar de várias maneiras diferentes. Não podemos deixar de considerar a importância de Assis Chateubriant para a história da imprensa nacional, ao mesmo tempo que não podemos deixar de odiá-lo e, outras vezes, de torcer pelo pivete gago e analfabeto obrigado a viver por uns tempos no sertão do nordeste brasileiro com os avós.
Mas despertar todos esses sentimentos pelo personagem principal é primor de Fernando Morais que, com maestria, consegue fazer do livro um verdadeiro passeio de montanha russa. Temos que tomar cuidado para não nos pegarmos roendo as unhas ou urrando com socos estridentes sobre a escrivaninha que apoia o livro durante a leitura – gesto repetidamente comum na vida do jornalista-advogado – devido à raiva, inquietude e sentimento de injustiça que as páginas nos revelam do monstro feito gente, “atolado no capitalismo”, como o próprio se denominava, e sujeito prepotente julgando estar acima da lei.
A narração de Fernando Morais nos introduz no livro como se fosse, de fato, um romance, uma ficção. Tal sensação só é afugentada quando nos deparamos com personagens conhecidos da história do país, como Getúlio Vargas, Machado de Assis e Juscelino Kubitschek. Ou quando viajamos pela lendária reputação da revista O Cruzeiro, ou com a inauguração do Correio Braziliense, presente até hoje no jornalismo do nosso país. E até mesmo quando descobrimos o jeito inusitado que foi introduzido em nosso país um dos meios de comunicação mais influentes na sociedade atual – a televisão. Acompanhamos tudo isso de camarote, sujeito às emoções dos que estiveram presentes em casa fato, às tristezas daqueles que perderam reputação, dignidade, posição social devido às calúnias e injúrias esparramadas por Chatô nos editoriais da sua cadeia de diários, ou, quando a “acusação” era mais pesada, a falsa nota “a pedido” assinada por um pseudônimo.
Assis Chateubriant era um exímio jornalista, sem dúvida. Em sua primeira viagem internacional – ainda sem ser o dono dos Diários Associados – entrevistou todos os personagens aos quais tivera ou não oportunidade de conversar, e usou de todos os argumentos possíveis para conseguir o que queria. Mas ao mesmo tempo era a pessoa mais preocupada com o seu nariz e seus interesses próprios que o Brasil tem conhecimento público: foi capaz de tirar a filha (não reconhecida) dos braços da mãe, mudar a legislação brasileira para isso, pelo simples prazer de tirar a guarda da mãe. Ou dispensar um antigo aliado nos negócios para garantir sua posição de rei do seu império.
Falcatruas, não-pagamentos e funcionários que sofriam com o gênio difícil do patrão; preocupado, sim em fazer um bom jornalismo e ter qualidade em tudo o que era produto seu, mas distante da honestidade nas contratações, mais longe ainda do cumprimento das promessas e palavras (considerava promessa coisa de político) e, ainda assim, não saía da política e chegou até a se candidatar.
Um sujeito contraditório, mas personagem vivo e real em todos os lugares frequentados e situações narradas. Fernando Morais consegue reproduzir fatos, diálogos e localidades com os mínimos detalhes, provando toda sua capacidade e apreço nas apurações e entrevistas. Pensava eu “quantos entrevistados, quanto tempo de conversa, quanta pesquisa, quantas consultas para adivinhar até mesmo as confissões e pensamentos de Chateubriant, que não eram meros pensamentos inventados: eram decisões que tinham consequências. Eram sistemáticos e se reproduziam em fatos dali meses ou páginas adiante. Enfim, “Chatô – o Rei do Brasil” é tão incrível quanto seu protagonista, mas em lados opostos. Enquanto o livro e sua construção inspiram ares positivos, a história desse sujeito “mais temido do que amado”, como simplifica a contracapa, mancha a história da imprensa brasileira em feridas que até hoje sangram nos meios de comunicação do nosso país.

3 comentários:

Anônimo disse...

Porque é que só eu pareço admirar esse tipo de gente: Chatô, Roberto Marinho etc???

Nunca li o livro do Morais, apenas estudei História da Comunicação na Faculdade (por 3 períodos), portanto conheço bastante da história de Chatô, de como trouxe a TV para o Brasil e tudo o mais. E sempre o admirei.

O que eu queria mesmo era ver pronto filme daquele viado loiro que está sendo produzido há 30 anos, já consumiu mais de 20 milhões de reais e até hoje só tem cenas aleatórias gravadas.

Aliás, eu assisti o doc sobre o filme do Chatô e recomendo! Muito bom!

Desarranjo Sintético disse...

Bom, me deu vontade de ler o livro que me pareceu eralemtne interessante. Adoro biografias e já constatei que o Fernando Morais escreve muito bem, pois já li livro dele.

Abraços.
Fábio.

Alessandra Castro disse...

Não curto muito literatura brasileira, mas esse realmente parece legal. :)