Sinto cheiro de fungo no ar. As ruas estão encharcadas e o solo não suporta mais a umidade. Está como uma esponja pesada. A cidade está cinza. As pessoas saem de casa desconfiadas. É claustrofóbico. Joinville parece um elevador gigante. O clima é inconstante. Não há sorriso. Não há cores.
A chuva provoca doenças: as janelas estão fechadas, os guardas-chuvas não protegem os pés das poças de água das calçadas destruídas e mal acabadas. Nem dos carros que, violentos, passam em alta velocidade sob a faixa de pedestre. Os motoristas protegidos em seus veículos bem vedados, som ligado e ar-condicionado não se dão conta que há pessoas fazendo contorcionismo para tentar fugir da chuva desagradável debaixo de um ineficiente guarda-chuva.
E que dizer dos mal-educados que não respeitam quem se descuidou e deixou o companheiro básico do joinvilense em casa? Pedestres protegidos que usam a marquise deixando os desprevenidos à mercê da chuva constante.
Nem o concreto é mais impermeável. Minha casa já tem goteiras. Está alangando, móveis estragando e a agonia de ter o chão molhado e as roupas penduradas dentro de casa aumentam a sensação de mau humor. É como se a chuva fosse administrada por uma instituição que não soubesse mais regulá-la direito, e tivesse perdido o jeito de fazer as coisas.
E com tudo isso surge o resfriado.
Os resfriados tranformam-se em gripes.
E as gripes atingem os mais azarados com sinusites, pneumonias e, no meu caso, amigdalite.
E tudo isso dá febre.
No negro novembro tive duas amigdalites seguidas. Passei dias sem dormir, sem engolir. Estava praticamente sem viver. E foi neste mesmo negro novembro que, depois de curado das amigdalites, me surgiram duas ínguas na nuca, do lado direito. Logo elas se multiplicaram, e já são 7 ínguas espalhadas pelo meu pescoço e nuca.
Ir no médico? Como? Se não têm mais horários disponíveis para clínico geral na rede de saúde pública básica de Joinville para este ano?
Ir no PA (Pronto Atendimento 24 horas)? Lá, com o Protocolo de Manchester, que usa as pulseirinhas para identificar a gravidade do problema, o meu será tido como sem nenhuma gravidade, e vou ficar infinitas horas esperando pra me consultar, conseguir um exame, mas sem retorno previsto. Ou seja, ficarei sem saber o que tenho até janeiro.
Bom... minha mãe tinha consulta hoje e aproveitou para explicar à médica o que eu tinha. Ela se limitou a dizer que "ínguas são causadas por infecções graves, e é preciso fazer um exame de sangue detalhado para saber do que se trata exatamente". Ajudou muito.
E para o novembro ficar ainda mais negro, meus dias estão curtos demais para minhas necessidades. E, apesar de a carência e o desânimo, às vezes - mesmo que eu procure afugentá-los - existirem, não posso dizer de maneira nenhuma, sendo joinvilense, que estou na seca.
Foto: Laercio Beckhauser
4 comentários:
é uma grande bosta isso Ju, eu sei bem como é ir a pé pro trabalho passar raiva e sufoco dentro dos ônibus, gente mal educada nos terminais, o atendimento nojento nos hospitais públicos... desejo sinceras melhoras meu amigo. bjs
Caramba, pra você estar desabafando assim aqui no blog, é porque a coisa deve estar mesmo negra por aí!
Melhoras pra você, meu chapa!
Esse trocadilho no finalzinho do texto? Você tá falando da chuva, ou tá mesmo pegando alguém? Safadeeenho!
Ah, o que foi aquilo que eu vi agora há pouco no seu twitter, algo sobre você fazer companhia a Frodo enquanto outras pessoas vão transar por aí?
Abraços (meio de longe que é pra você não me passar gripe)!
E eu achando que minha vida tava ruim.
ao menos você não está na seca.
Pro meu azar, ontem a janela do meu quarto não estava bem fechada, o que só notei quando a chuvarada caiu na minha cara enquanto eu dormia.
Meu querido Snaga, quando eu disse que não estou na seca é porque Joinville é úmida. Nada tem a ver com minha situação de pegação, infelizmente. HAHA.
E outra: eu não disse no twitter que iria pegar o Frodo. Disse que, enquanto tantos outros estavam na foda, eu iria assistir o Frodo, ver O Senhor dos Anéis, se é que me entende! haha. Abraços, guri! (de longe, rs)
Pedro, acordar com a chuva na cara, de fato, não deve ser uma experiência muito bacana, não.
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