terça-feira, 10 de abril de 2012

Os 100 anos de Mazzaropi


Nesta semana comemoramos o centanário de um dos maiores cineastas que já viveu no Brasil e que, infelizmente, hoje é esquecido e não valorizado. Azar dele ter nascido exatamente no ano que o Titanic naufragou e as atenções do Brasil e do mundo estejam voltadas ao gigante inglês.
 
Imagem do filme "Sai da Frente", o primeiro da carreira
Mas o Andarilho não esqueceu do filho de Clara Ferreira, brasileira de família portuguesa, e Bernardo Mazzaropi, imigrante italiano, que já viviam casados por volta do ano de 1910. A cultura do café estava a pleno vapor no país. Mas, por morar na capital paulista, a renda deles era garantida através dos meios urbanos de ganhar a vida: Clara trabalhava como empregada doméstica e seu Bernardo como motorista de carro de aluguel. Nas horas vagas, ele vendia um tecido muito usado para a confecção de roupas, chamado casimira. Para ampliar as vendas, viajava com frequência para o interior do estado. Tudo para preparar a família a fim de receber o primeiro e único filho, que nasceu em 9 de abril de 1912: Amacio Mazzaropi.

Com as dificuldades financeiras, Bernardo se obrigou a voltar, com mulher e filhos, para uma das primeiras cidades onde havia morado ao chegar ao Brasil: Taubaté. Lá, empregou-se na primeira indústria têxtil da cidade que trouxe novas esperanças à família. Não demorou e Clara também já havia se tornado funcionária da indústria. Estava preparado o terreno para o jovem Amacio ter os primeiros contatos com a arte.

O garoto começou a ser cuidado pelo avô materno, que fazia pequenos shows pela cidade. Com a viola companheira, o avô de Amacio apresentava músicas e danças para os moradores de Taubaté.

Mas foi com dez anos que o garoto, já na escola, começou a demonstrar interesse por arte e pelo teatro. Amacio já sonhava com a carreira de ator e costumava devorar livros como o “Lira Teatral”, organizado por José Vieira Pontes, e compilava monólogos, cançonetas, cenas cômicas, poesias e duetos.

Aos 14 anos Amacio entrou para o circo. Mais tarde, com 17 anos, foi encorajado a sair da sua trupe por um advogado, espectador assíduo, que garantia que o jovem tinha muito futuro pela frente e não precisava ficar preso àquela companhia circense.

Arrumou emprego na indústria têxtil de Taubaté, juntou o dinheiro que precisava para, um ano mais tarde, dirigir e atuar sua própria peça teatral, já se apresentando como Mazzaropi e incorporando o caipira: exatamente o personagem que o consagrou.

Mais tarde, aproveitando-se da quantidade de imigrantes italianos, principalmente, que chegavam a São Paulo para viver e trabalhar, Mazzaropi fixou as apresentações de sua Trupe no Teatro Colombo no bairro Brás, exatamente onde a maioria dos imigrantes passou a morar, por conta dos terrenos baratos, baixas taxas de aluguel, oportunidades de trabalho e transporte fácil. Ao fim do dia, tomados pelo cansaço e ainda habituando-se a um novo estilo de vida, esses moradores buscavam atrativos culturais e de lazer pela região. Foi mais uma importante contribuição para que Mazzaropi se tornasse um nome ainda mais popular naquelas paragens.

Tal popularidade levou o comediante ao rádio. Claro, além da popularidade, o próprio estilo de trabalho de Assis Chateaubriant, presidente dos Diários Associados e, consequentemente, da Radio Tupi, local onde Mazzaropi iniciou sua vida no rádio, ajudou na inserção do personagem caipira neste, então, novo meio de comunicação.
É que Chateaubriant havia investido muito em tecnologia e infraestrutura para garantir a qualidade da filial paulista da sua rádio. Para que a programação pudesse ir ao ar, restou fazer acordos com casas de shows, para que os artistas se apresentassem em dois locais – nas casas de show e na rádio – por um único valor. Outra saída foi a contratação de artistas nacionais de sucesso, mas que tivessem um cachê modesto. E Mazzaropi se enquadrava nessa situação.

O tempo foi passando e as empresas de Chateaubriant foram ganhando filiais por todo o Brasil. Para garantir a audiência das rádios dos Associados em todos os locais onde estavam instalados, criou-se a Brigada da Alegria, reunindo os grandes nomes da Rádio Tupi: Henricão e Rosa Maria (conhecidos como Barão das Cabrochas e Cabrochinha do Samba), Linda Batista, Michel Allard, Hebe Camargo e Amacio Mazzaropi.

Diferentemente da “entrada” no rádio, onde havia sido convidado para trabalhar, Mazzaropi chegou à televisão através de uma iniciativa própria. No ano da estreia da televisão, 1950, querendo expandir seu trabalho e de olho nas novas possibilidades que poderiam surgir ao ingressar no mais recente meio de comunicação, o ator preparou um programa piloto e convidou os amigos João Restiffe e Geny Prado para apresentarem nos estúdios da TV de Chateaubriant. No dia seguinte, a tesouraria da emissora entrou em contato com Restiffe, dando a notícia de que o projeto havia sido aprovado.

Mazzaropi e Geny Prado, que sempre viveu a mulher
do Jeca
O mais curioso é que a televisão era um meio de comunicação altamente elitizado, e Mazzaropi fazia um programa declaradamente popular, contando, inclusive, com a participação de duplas sertanejas, como Tonico & Tinoco. E a música sertaneja era a representação do que havia de mais popular. Ainda assim, a imprensa costumava publicar muitas críticas elogiosas. O jornalista Airton Rodrigues, da revista “O Cruzeiro”, descreveu o jeca como “o maior caipira do rádio e da televisão” e como “a figura mais popular da televisão”.

A carreira de Mazzaropi na televisão terminou em 1954, dois anos após sua primeira aparição no cinema, meio ao qual dedicou a maior parte da sua vida e do seu trabalho. O ator tomou essa decisão por mais de um motivo. Além de querer se dedicar ainda mais à sétima arte, ele acreditava que a TV acabava por desgastar a sua imagem e as suas piadas. Mazzaropi costumava dizer que no cinema as pessoas ficavam com saudade dele porque era apenas um filme por ano.

A saudade, agora, permanece até hoje.

Este texto é um trecho adaptado e extraído de "O Papel de Mazzaropi na História do Cinema Nacional", monografia de minha autoria concluída neste ano (2012).

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O retorno do Titanic

Ontem falamos de titãs por aqui. Hoje falaremos de outro. Trata-se do malfadado Titanic. O navio-personagem do maior desastre marítimo de todos os tempos. Foram mais de 1.500 mortes (cerca de 68,2% dos passageiros). Além do absurdo número de mortos, é espantoso como os números revelam a desigualdade social mesmo nos momentos em que isso deveria ser menos importante que a vida. 75,5% dos passageiros da Terceira Classe morreram no desastre. Enquanto isso, apenas 39,5% da Primeira Classe foram vítimas do acidente.
Tido como "inafundável", cuja força "nem Deus poderia fazer naufragar", o gigante de 256 metros de comprimento, era contraditório até em aspectos superficiais: levava o nome de demônios, mas quis aparecer com a mesma majestade, força e poder dos deuses da mitologia grega.
Luxuoso ao extremo, foi a única promessa que conseguiu cumprir. Afundou na viagem inaugural, não contava com todos os equipamentos de segurança necessários para avistar um iceberg (os vigias não dispunham de binóculos) e viajava à toda força em uma região que já havia sido identificada como repleta de montanhas de gelo.
Na terça-feira, relembramos o centenário da saída de Southampton, na Inglaterra. E no sábado, dia 14, o mundo relembra os 100 anos do naufrágio.

Atentos ao poder de marketing que um acontecimento destes pode render, e à arma poderosa que a Fox tem nas mãos, o longa-metragem "Titanic", de James Cameron, será relançado nos cinemas em 3D. Independente da qualidade da conversão para esta tecnologia, a experiência de reviver o Titanic na tela grande é ímpar.
Diferente do navio, o filme prometia ser um desastre e se revelou um marco. Até há pouco permanecia incólume como a maior bilheteria de todos os tempos. Foi superado apenas por "Avatar", do mesmo diretor, mas, ainda assim, sobreviveu a febres recentes e ao 3D massivo das atuais produções e permanece na segunda colocação. Faturou 11 estatuetas do Oscar, e se colocou entre os filmes mais premiados da história da Academia, igualando-se a "Ben-Hur" e só sendo alcançado em 2003, com "O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei".
Apesar disso, estourou o orçamento em sua produção. A Fox liberou 135 milhões de dólares para a realização do projeto. Insuficiente devido à tamanha exigência e detalhismo de Cameron, a Paramount teve que entrar como investidora e distribuir o filme nos EUA. Assim, injetou mais 65 milhões para que tudo fosse concluído.
Finanças resolvidas, era hora do diretor brigar com a produtora, que exigia um filme mais curto, para render mais sessões. Irredutível, Cameron concluiu a produção com 3 horas e 15 minutos e não abria a mão disso. Neste ponto, acertou. O longa faturou 1,85 bilhão de dólares mundialmente, mesmo com menos sessões.
Sorte da produção ser teimosa em relação à música-tema. Cameron não queria que o filme tivesse um tema, mas "My Heart Will Go On", interpretada por Celine Dion, ganhou o Oscar de Melhor Canção Original, além de dezenas de outros prêmios, alavancou a venda da Trilha Sonora do filme e funciona até hoje como um carimbo para esta grande produção.

Se tudo isso não é um bom motivo para você voltar ao cinema e rever "Titanic", então nenhum filme atual está à altura das suas exigências.
Um marco. Fascinante. Vívido!

Em Joinville, o GNC Cinemas do Joinville Garten Shopping exibe "Titanic 3D" numa pré-estreia hoje (sexta) e amanhã (sábado), às 21h45. A partir de sexta-feira que vem, o filme entra no circuito com mais sessões.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

"Fúria de Titãs 2" no Set

Temo que essa profusão de filmes 3D leve as pessoas, cada vez mais, a apreciar porcarias como se fossem pérolas da Sétima Arte. Da mesma forma como bons efeitos visuais não salvam um filme do desastre (em termos de qualidade), o 3D deve ser usado com parcimônia pelos diretores e os espectadores não podem se deixar seduzir e anestesiar seu senso crítico por estar vendo um filme em mais de duas dimensões. Assim, "Transformers - O Lado Oculto da Lua", por exemplo, tem um 3D muito bem realizado, mas é um dos filmes mais desprezíveis da história do cinema.
Este "Fúria de Titãs 2", da mesma forma, tem na tecnologia 3D seu forte. Apesar de não ser ruim como o citado filme de carros que viram gigantes de aço, tem defeitos graves, que aponto lá na crítica postada no Set Sétima. Corre lá! Espero você!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Você precisa VER: Mostra do Oscar 2012

Verão acabando, temperaturas diminuindo e ir à praia no fim de semana se torna, cada vez mais, um programa não tão legal para os joinvilenses, certo? Ok, faz sentido. Mas isso não é motivo pra ficar se lamentando em casa!
O GNC Cinemas do Joinville Garten Shopping preparou para esta semana a "Mostra do Oscar 2012". Todos principais filmes vencedores do Oscar 2012 e já lançados no Brasil estarão em exibição nesta semana, de hoje até quinta-feira no cinema.

Confira a programação:

Hoje (sexta, 23/03):

Histórias Cruzadas

21h30: O Artista

Amanhã (sábado, 24/03):
13h30: A Invenção de Hugo Cabret 
16h30: Meia Noite em Paris
18h40: Tão Forte e Tão Perto

Domingo, 25/03:
13h30: Tão Forte e Tão Perto
18h40: O Artista
21h30: A Invenção de Hugo Cabret

Segunda, 26/03:
16h30: O Artista
18h40: Meia Noite em Paris

O Artista
Terça, 27/03
13h30: A Invenção de Hugo Cabret
16h30: Meia Noite em Paris
21h30: Tão Forte e Tão Perto

Quarta, 28/03:
13h30: O Artista
18h40: Meia Noite em Paris
21h30: A Invenção de Hugo Cabret

Quinta, 29/03:
16h30: Meia Noite em Paris
18h40: Tão Forte e Tão Perto
21h30: O Artista

Preço dos ingressos:
Sexta, sábado e domingo: R$ 17 (inteira) e R$ 8,50 (meia-entrada; para estudantes, menores de idade, idosos e assinantes do A Notícia com carteirinha do Clube do Assinante).
Terça-feira: R$ 7.
Segunda, quarta e quinta-feira: R$ 14 (inteira) e R$ 7 (meia-entrada; para estudantes, menores de idade, idosos e assinantes do A Notícia com carteirinha do Clube do Assinante).


Os Descendentes

Além disso, hoje estreia "Jogos Vorazes", a adaptação que está sendo lançada pela produtora como novo fenômeno mundial, tal como "Harry Potter" e "Saga Crepúsculo". Vejamos. Tomara que seja menos ruim que os vampirinhos de Meyer, né?
"Jogos Vorazes" será exibido em película na sala 1 e no formato digital (som e qualidade de imagens parecidos com 3D, mas não é 3D, pois o filme nem foi gravado neste formato) na sala 6; dublado e legendado.

Nos vemos, então, no GNC!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Joinville, 161 anos

Eis que a minha querida cidade completa mais um aniversário. Sim, apesar de tudo, amo viver aqui. Não tanto pelas pessoas - embora em muitas cidades o comportamento social seja quase o mesmo dos joinvilenses - mas, principalmente, pelas oportunidades que essa cidade dá.
Aqui temos belezas naturais, um potencial alto para o turismo, proximidade com praias, estamos entre duas encantadoras capitais (Curitiba e Florianópolis), temos uma vocação nata para cultura (mesmo que pouco explorada) e uma realidade de cidade grande com o espírito acolhedor do interior.

Aqui chove (MUITO), faz muito frio no inverno e muito calor no verão. Pagamos caro pela passagem de ônibus e ficamos trancados num trânsito porco e mal planejado. Mas, pelo menos, para o tamanho da cidade, temos índices de criminalidade abaixo e uma qualidade de educação acima da média nacional.

Não vivo num paraíso (embora tenhamos um bairro com esse nome), mas reconheço os encantos de morar aqui. Não pretendo ficar em Joinville para todo o sempre, mas quero levar essa cidade no meu coração para onde for. E onde eu estiver, continuarei torcendo pelo sucesso e pelo progresso dessa cidade linda, rica e encantadora.

Parabéns, Joinville!

quarta-feira, 7 de março de 2012

"A Dama de Ferro" no Set

Nem sempre maus filmes são de todo ruins. Este aqui, por exemplo, tem coisas excelentemente boas: a atuação de Meryl Streep (como sempre) é impecável e a maquiagem foi eficientemente realizada com sucesso. Pena que este filme, que tinha tudo para ser um marcante projeto do cinema atual, tenha se estabelecido como um embaraçoso longa que não consegue se manter nem como biografia, nem como ficção, apesar dos dois - merecidos - Oscar. A crítica completa, lá no Set. Espero você!


sábado, 3 de março de 2012

"A Mulher de Preto" no Set

Daniel Radcliffe atua em seu primeiro filme após o fim da saga "Harry Potter". Apesar de esforçado, o roteiro não colabora para desvencilhar o ator do personagem que o tornou conhecido mundialmente. Acompanhe a crítica completa lá no Set Sétima.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

E o Oscar foi para...

Ontem foi a cerimônia do Oscar e, como eu previa, eu sou melhor torcedor do que palpiteiro. Se eu tivesse seguido meu coração, teria acertado mais, como vocês verão.
No final das contas, creio que foi uma premiação bem justa e a que mais se aproximou daquilo que eu considerava coerente.
A seguir, a lista dos ganhadores (somente das categorias que eu tinha palpitado) e, por fim, meu comentário sobre a esdúxula cobertura da Globo para a cerimônia.

Melhor figurino: "O Artista". Este eu acertei e não tinha nenhum como meu favorito declarado. Além de recriar uma indumentária de época, se não fosse bem feito, ele não ganharia nenhum destaque numa película preto-e-branco. Da mesma forma, um trabalho mal feito estragaria totalmente o filme, destoando a ideia de "época" se, porventura, as roupas estivessem mal desenhadas.

Melhor fotografia: "A Invenção de Hugo Cabret". Este eu errei. Apostei em "Cavalo de Guerra" por achar que Spielberg não sairia dessa sem um Oscar para algum dos seus dois filmes concorrentes. Além disso, Spielberg é hábil em dirigir filmes de guerra e coordenar uma bela fotografia para contar a sua história. Fico feliz que "Hugo" tenha ganhado, porém. Minha torcida estava concentrada no filme de Scorsese.

Melhor direção de arte: "A Invenção de Hugo Cabret". Aqui também errei e, mais uma vez, se tivesse palpitado de acordo com o que eu estava torcendo, teria acertado. A direção de arte em "Hugo" é impecável. Porém, apostei em "O Artista" pelos mesmos motivos que me fizeram apostar no filme francês na categoria "figurino".

Maquiagem: "A Dama de Ferro". Acertei duas vezes. Tanto no palpite, quanto na torcida. Apesar de fraco, é inegável que a maquiagem feita em Meryl Streep para transformá-la na Margareth Tatcher mais velha foi incrível. Oscar merecido!

Canção Original: "Man or Muppet", de "Os Muppets". Errei. Mas a própria Academia, aparentemente, não estava muito contente com as opções para melhor canção este ano. Dos dois indicados, na minha opinião, "Real in Rio", do filme "Rio", era superior. Não levou. Ainda assim, mesmo que o Brasil faturasse essa, não seria motivo de dar pulos de alegria. Se pudesse, creio que a Academia teria cancelado essa categoria, pois foi visível a má vontade de escolher os indicados. 

Trilha sonora: Ludovic Bource, por "O Artista". Essa eu errei duas vezes. Sem pensar, palpitei em John Williams, por "As Aventuras de Tintim". No coração, a torcida por Howard Shore pela composição bela de "Hugo". Mas "O Artista" mereceu. Em um filme mudo, um dos protagonistas, certamente, é a música. E, bem feita, encanta.

Roteiro original: "Meia-noite em Paris", de Woody Allen. Merecido e era o filme pelo qual minha torcida estava concentrada. Mas apostei em "O Artista" por considerá-lo ousado. Mesmo não tendo levado o prêmio pelo roteiro, o filme francês teve um reconhecimento justo e ainda maior pela ousadia. Allen, claro, não estava na premiação. Mas tem todos os méritos pelo seu mais recente filme, divertido e apaixonado.

Roteiro adaptado: "Os Descendentes". Este filme não deveria ter levado nenhum. Mas eu pensei que seria meio impossível Alexandre Payne sair de mãos abanando quando seu filme tinha recebido tanto reconhecimento mundo afora. Por isso apostei neste. Mas a torcida estava em "Hugo".

Efeitos visuais: "A Invenção de Hugo Cabret". Efeitos lindíssimos e um 3D de primeira são duas das coisas que mais chamam a atenção no mais recente filme de Scorsese. Ainda assim, imaginei que a Weta, responsável pelos premiadíssimos e elogiadíssimos "Avatar", "Distrito 9", "O Senhor dos Anéis", seria a favorita por conta do trabalho realizado em "Planeta dos Macacos - A Origem". Isso é um sinal de que o Oscar para efeitos especiais em "O Hobbit" pode não estar tão garantido assim. Aqui minha torcida não era tão forte, mas, no fundo, queria que "Hugo" faturasse esta.

Mixagem de som: "A Invenção de Hugo Cabret". Nesta altura, meus palpites, erroneamente (isso deveria ter acontecimento enquanto eu palpitava sobre as primeiras categorias), começaram a se confundir com a minha torcida. Achando que eu estava errado em torcer para Scorsese, joguei as cartas em "Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres". Não deu outra: errei de novo.

Edição de som: "A Invenção de Hugo Cabret". Apesar das considerações anteriores, eu não poderia acreditar que a Academia não valorizasse a singeleza e o brilhantismo da edição de som em "Hugo". Apostei no que torcia e acertei. Deveria ter feito isso mais vezes.

Edição: "Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres". De fato, um trabalho muito bem feito e essencial para que este longo filme de David Fincher pudesse ter a fluência que teve, apesar de longo e complexo. Aqui, torci e palpitei em "A Invenção de Hugo Cabret". Errei de novo.

Melhor animação: "Rango". Acertei e concentrei aqui as minhas torcidas. Merecido. Vamos ver se a Pixar, sempre tão excelente, acorda.

Atriz Coadjuvante: Octavia Spencer, por "Histórias Cruzadas". Torci e palpitei para Spencer. Merecia. O filme tinha que levar um estatueta e ela era a pessoa mais adequada para representar o merecimento de "Histórias Cruzadas". Das cinco indicações, porém, o filme era digno de levar, no máximo, duas. Faturou uma. Está bom.
Ator Coadjuvante: Christopher Plummer, por "Toda Forma de Amor". Favorito, levou e foi aplaudido de pé. Eu chutei longe em Jonah Hill, por "O Homem Que Mudou o Jogo". Errei feio.

Melhor atriz: Meryl Streep, por "A Dama de Ferro". Este foi o Oscar que eu mais fiquei feliz quando foi entregue ao premiado, neste caso, premiada. A veterana Streep merecia: recordista em indicações, há anos não levava o prêmio para casa e somente a sua atuação é reponsável por "A Dama de Ferro" ser um filme assistível. Impecável como sempre, Streep brilhou no palco na hora do discurso e continua encantando na tela grande com sua esplendorosa atuação no longa sobre a ex-primeira-ministra britânica. Apostei em Michelle Williams, por "Sete Dias com Merilyn", por acreditar que Streep não levaria por ser frequente demais, como já tinha dito no último post.

Melhor ator: Jean Dujardin por "O Artista". Apostei em George Clooney, por "Os Descendentes" pelo mesmo motivo que palpitei neste filme para roteiro adaptado. Fiquei contente por, desta vez, o medíocre filme de Alexandre Payne não ter levado a estatueta.

Melhor diretor: Michel Hazanavicius por "O Artista". A noite era do filme francês. E neste momento, ficou claro que ele levaria, também, o prêmio máximo. Mas eu acreditei que Martin Scorsese, por "A Invenção de Hugo Cabret", levaria este, e, por consequência, o prêmio de melhor filme por conta do "bairrismo" da Academia. Mas, no fundo, eu sabia que a noite seria preto-e-branca. Este conflito interno me deixou sem favorito. Fechei os olhos e apostei. Errado.

Melhor filme: "O Artista". Bom... Eu já disse tudo o que precisava ao escrever sobre o prêmio de diretor. Os palpites foram, em ambas as categorias, pelo mesmo motivo. Quando disse que pensei em "O Artista" para o prêmio de roteiro original por ser ousado, fiz uma referência a ele ganhar esse reconhecimento de um modo ainda mais significativo. Está aqui. "O Artista" é o Melhor Filme de 2011. Mereceu. Pra mim, porém, "A Invenção de Hugo Cabret" é candidato forte para o Prêmio Set Sétima 2012.

Demais premiações:

Curta-Metragem: "The Shore".

Animação em Curta-Metragem: "The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore".

Documentário: "Undefeated".

Documentário em Curta-Metragem: "Saving Face"

Melhor filme estrangeiro: "A Separação" - Irã

Quanto à transmissão da Globo, não preciso nem me estender. Wilker quer dar uma de sociólogo cinematográfico e a querida apresentadora ao lado dele não entende nada de cinema.
Globo, ninguém quer ouvir comentários durante a transmissão. Queremos ver a cerimônia.

No dia que a emissora carioca entender isso, eles deixam a cerimônia voltar a ser transmitida pelo SBT. Pois eles já perderam a mão há tempo tentando exibir o Oscar decentemente. Ainda não conseguiram.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

E o Oscar vai para...

Domingo acontece a cerimônia do Oscar. Eu poderia escrever um longo texto xingando a mãe do falecido Roberto Marinho por conta da Rede Globo preferir atrasar a transmissão da cerimônia pra passar o Big Brother Brasil e ainda pôr o José Wilker como comentarista. Mas vou poupar meus nervos. Não quero, tão cedo, ganhar cabelos brancos (embora vocês tenham que saber que eu tenho um ódio e um horror especial e quase incontrolável por a Globo tratar o Oscar como tapa-buraco da programação e tema-do-Mais Você-do-dia-seguinte-por-conta-dos-looks-das-celebridades).

Devidamente desabafado, explico o motivo de eu estar aqui: vou palpitar. Não, eu não vi todos os filmes e sou melhor torcedor para meus filmes prediletos (que quase nunca ganham) do que "palpiteiro". Mas me muni de informações sobre os concorrentes, li bastante, assisti ao que pude e vou listar aqui pra vocês.
Quem quiser entrar na brincadeira, pode usar os comentários.

Premiada e recordista em indicações, Meryl
Streep, acho, não ganha por ser frequente demais

Segunda-feira eu volto aqui pra comentar a premiação, os meus erros e acertos, a transmissão da Globo (eu não tenho TNT). e os looks.

Bom... lá vamos nós.

Melhor figurino: "O Artista"
Melhor fotografia: "Cavalo de Guerra"
Melhor direção de arte: "O Artista"
Maquiagem: "A Dama de Ferro"
Canção Original: "Real in Rio", do filme "Rio"
Trilha sonora: John Williams, por "As Aventuras de Tintim"
Roteiro original: "O Artista"
Roteiro adaptado: "Os Descendentes"
Efeitos visuais: "Planeta dos Macacos - A Origem"
Mixagem de som: "Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres"
Edição de som: "A Invenção de Hugo Cabret"
Edição: "A Invenção de Hugo Cabret"
Melhor animação: "Rango"
Atriz Coadjuvante: Octavia Spencer, por "Histórias Cruzadas
Ator Coadjuvante: Jonah Hill, por "O Homem Que Mudou o Jogo"
Melhor atriz: Michelle Williams, por "Sete Dias com Merilyn"
"A Invenção de Hugo Cabret"
Melhor ator: George Clooney, por "Os Descendentes"
Melhor diretor: Martin Scorsese, por "A Invenção de Hugo Cabret"


Melhor filme: "A Invenção de Hugo Cabret"

As demais categorias (como curta, documentário, filme estrangeiro, etc.) não comentei por não ter a mínima noção.
Reforço: não são estes filmes para os quais estou torcendo. Falo dos meus prediletinhos na segunda-feira.

Vamos ver como me saio nessa.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

"Histórias Cruzadas" no Set

Diferentemente do que escrevi no texto sobre este filme lá no Set Sétima, se você É racista, assista "Histórias Cruzadas".

Explico: é que um certo crítico de cinema afirmou que somente pessoas brancas não compreenderiam o racismo velado do filme. Ou seja, que o filme, na verdade, é cínico e não ajuda em nada na conscientização acerca do preconceito racial.

Aqui fica o esclarecimento: se você é racista, precisa ver este filme para levar um chacoalhão. Se você não é racista, certamente vai ficar impressionado com a beleza deste longa.
Vale a pena ver e, claro, ler a crítica lá no Set!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Você Precisa LER: A Menina Que Roubava Livros


Sem sombra de dúvidas, um dos motivos que mais fazem o leitor ter a atenção fisgada já nas primeiras páginas deste "A Menina Que Roubava Livros" é a particularidade do narrador. Neste caso específico, da narradora: a Morte.
Sai o autor na terceira pessoa e entra a inusitada personagem cadavérica (embora ela mesma não se descreva desta forma) narrando, também, (na maior parte do tempo) em terceira pessoa. Mas, ao mesmo tempo, como uma participante dos fatos ocorridos no decorrer da leitura.

O segundo motivo que prende o leitor é a forma como a obra é organizada. Capítulos relativamente curtos, linguagem leve, trechos que destacam pensamentos importantes e, por vezes, até adiantam alguns acontecimentos. Nem por isso somos tomados pela decepção de um spoiler; pelo contrário: nos aguçam ainda mais a curiosidade. Afinal, a narradora já adianta desde o início: "EIS UM PEQUENO FATO: Você vai morrer". Se o leitor morre, certamente os personagens da história também morrem.

Mas, aqui, o que interessa é saber como eles morrem.

Enfim, o terceiro - e, diga-se de passagem, o mais importante e relevante - motivo que nos fisga é a própria história sobre "uma menina, algumas palavras, um acordeonista, uns alemães fanáticos, um lutador judeu e uma porção de roubos".
Liesel Meminger é uma garota que é confiada, já crescida, a pais adotivos em plena alemanha nazista. A menina sofre com a morte do irmão mais novo que deveria lhe fazer companhia na casa dos novos pais. Além, é claro, da angústia de ter sido separada da mãe.
Para aliviar a dor, ela conta com o carinho de Hans Huberman, seu pai adotivo, com a amizade do garoto Rudy Steiner e com um passatempo peculiar: roubar livros.
Inicialmente analfabeta, na medida que a menina vai descobrindo as palavras, também passa a conhecer mais sobre o mundo ao qual está inserida e, cada vez mais, passa a entender a importância e o perigo que a palavra têm na história da humanidade, especialmente depois que seu pai resolve esconder um judeu no porão de casa.

Diferente de tantas histórias que se passam neste período histórico, "A Menina Que Roubava Livros" não apela para emoções baratas facilmente conquistadas com o conhecimento prévio a respeito da maneira atroz que os "não-alemães" eram tratados na Alemanha de Hitler. Apesar disso, a decisão do autor australiano Markus Zusak em ambientar seu romance na época da Segunda Guerra é decisiva para que os acontecimentos tenham o peso que têm; e a menina não compreenderia o quanto a palavra - que ela tanto amava - poderia ser consoladora ou destruidora.

Não me recai nenhum tipo de remorso, diria, ao afirmar que, na verdade, o personagem principal desta história é a palavra. Por mais "não palpável" e único que possa ser a Morte contar a história, ou tomar como coisa boa uma menina roubando, a maior peculiaridade de "A Menina Que Roubava Livros" é exatamente o poder de nos levar a refletir sobre o peso que têm a palavra, seja falada ou escrita.

Aliás, é imprescindível destacar que, para conferir realismo à trama, e na impossibilidade - óbvia - de escrever o livro na língua dos personagens, o autor insere expressões genuinamente germânicas para que lembremos que os personagens são alemães e as histórias se passam na Alemanha; logo, todos falam alemão.

E, aqui, cabe uma reflexão ainda mais profunda do quanto as pessoas vulgarizam a palavra e não valorizam o idioma natal.

Mas é claro que aos assassinos da língua portuguesa e aos que acham que a palavra é menos importante que tudo, nenhuma dessas reflexões fará sentido. Aliás, a estes, nem existe a vontade de descobrir o prazer em abir um livro.

É esta a principal lição que "A Menina Que Roubava Livros" nos passa: o quanto o interesse pelas palavras diz do caráter das pessoas; não importa se leem mal ou bem, ou  nem leem. Aqueles que sabem o que falam, têm sede de leitura e senso de justiça são capazes de dominar o mundo; diante delas, muitas coisas, por convenção, ditas avassaladoras, são mais fracas: "Jamais dispararei uma arma", pensou certo personagem. "Não precisarei fazê-lo". Ideias e palavras são mais poderosas. Para o bem e para o mal.

Lembrem-se que, para os cristãos, Deus criou o universo com a palavra. "No princípio era o Verbo (...). Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito" (João, 1).

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Os Descendentes" no Set

No ritmo de se atualizar - cinematograficamente - antes da cerimônia do Oscar, este andarilho que vos fala rumou à sala escura conferir a nova produção de Alexandre Payne, com George Clooney: "Os Descendentes". A crítica deste quintuplamente indicado ao prêmio da Academia de Hollywood você confere no Set Sétima. Não deixe de dar uma passadinha por lá!


domingo, 5 de fevereiro de 2012

O drama do rio Cachoeira

O rio Cachoeira, em Joinville, é um personagem vivo na cidade. Apesar de estar morto.
Sim, é contraditório. Mas é impossível vir a Joinville e não vê-lo. Ele corta a cidade.
Por isso, ele é garoto-propaganda de tantas campanhas políticas. Sempre no mesmo papel: o de "futuramente despoluído". Uns foram mais criativos, e inventaram de navegar por suas águas. Não deu certo, claro.
A Rede Globo, quando mandou a equipe do "JN no Ar" para cá, não deixou de citá-lo. Enfim... é inevitável falar dele.

Foi por isso que, ainda na faculdade, na disciplina de "Meios TV II", meu grupo resolveu entrevistar a Sra. Jutta Haggemann, uma conhecedora nata da história de Joinville, para que ela contasse tudo o que ela sabe, já ouviu e já viveu em relação ao rio Cachoeira.
O resultado foi este. Modéstia à parte, ficou muito lindo.

Além da edição de imagens, creditada a mim, eu ajudei na produção, afinal, conheço dona Jutta há algum tempo. Também participei na edição de texto e finalização.

domingo, 29 de janeiro de 2012

O Cinema de Mazzaropi


Amanhã tem a defesa da minha monografia para que eu, enfim, consiga minha formação como jornalista. O meu tema é: "O Papel de Mazzaropi na História do Cinema Nacional".
Diante disso, e da comemoração do centenário do nascimento do cineasta lembrado neste ano, nada mais propício do que lançar o "quadro" "Ano do Jeca".
Durante este ano, vou fazer postagens sobre um dos maiores e mais bem-sucedidos cineastas da história do país. Dentro de pouco, vou falar especificamente dele, para quem não o conhece. Mas dada à minha apresentação que ocorrerá amanhã, posto aqui um trecho (editado) da minha análise.

Boa leitura! E espero vocês por aqui com frequência, para conhecerem um pouco mais deste grande artista nacional!

Em certa cena de “Jeca e a Égua Milagrosa” (1980), alguns homens de pensamentos políticos e religiosos distintos começam a brigar. Os socos e chutes têm a pretensão de soarem violentos. Os personagens jogam um ao outro por cima das mesas e cadeiras. A desordem é grande. Os brigões se atiram ao chão, rolando em meio aos golpes.

Mas eles não se machucam. Não é compreensível quem está apanhando de quem. Não há nenhuma ferida, sequer algum hematoma e muito menos alguma gota de sangue, embora a briga tivesse sido pesada e dois dos personagens tenham ficado desacordados.

No meio da confusão, alguém dispara um tiro. Como a briga já havia terminado, Raimundo, o personagem de Mazzaropi, sai de trás de uma moita, do outro lado da rua, com a calça nas mãos e reclama: “Vâmo pará de tiroteio aí que quase me acertaram um tiro!”. E a esquete cômica está finalizada.

A falta de lógica na direção pode ser percebida na cena subsequente. Nos momentos finais da briga, o dono do bar percebe a aproximação do delegado com o padre e um policial. Exatamente neste momento é disparado o tiro que desperta a ira do personagem de Mazzaropi atrás da moita. Os brigões, a mando do dono do bar, acomodam os homens desacordados sentados, com a cabeça apoiada na mesa, como se estivessem dormindo sob os braços. O delegado, no momento em que passa em frente ao bar, pergunta: “Tudo certo por aí?”. O proprietário responde: “Por aqui tudo certo. É só alegria! Tudo na paz!”.

Será que o delegado não percebera nada estranho? A resposta forçada do dono do bar não teria chamado a atenção da autoridade policial? Não seria incomum dois homens dormindo em uma mesa de bar, à tarde, no meio de uma roda de conversa?

Sim. É ilógico. Mas as ilogicidades não param por aí. Logo depois que o delegado sai de cena, os dois desacordados levantam e vão embora raivosos e jurando vingança. A vitalidade dos dois não era de alguém que havia acabado de levar uma surra e ficar desacordado.

Fica claro, portanto, que o cinema de Mazzaropi não é dotado de inovações estéticas nem refinamento no que diz respeito à continuidade e direção. Não há criatividade na elaboração dos cenários. Fassoni (1977), numa crítica a “Jecão, Um Fofoqueiro no Céu” (1977), chega a dizer que “[Pio] Zamuner e Mazzaropi chegaram ao ridículo, desta feita, ao conceberem, com a imaginação de um recém-nascido, a cenografia para o seu céu-inferno”. Isso não quer dizer que ele não se resolva tecnicamente. De acordo com Matos (2010), os equipamentos pertencentes à PAM Filmes eram de última geração. Mesmo antes de ter uma produtora própria, Mazzaropi já contava com equipamentos de alta tecnologia na Companhia Vera Cruz. E o próprio Fassoni (1977), numa de suas duras críticas ao cineasta, reconheceu que os filmes de Mazzaropi vinha evoluindo, e “haviam adquirido uma qualidade técnica mais apurada, seus temas mais recentes tinham um recheio mais plausível” (FASSONI, 1977).

Ainda assim, no que diz respeito à direção, tudo é muito comum e pouco ousado. Integrante da chanchada paulista (DIAS, 2010) – filmes populares, geralmente cômicos, que se utilizavam de participações musicais cantando marchinhas carnavalescas – as produções de Mazzaropi eram acusadas de contar com atores inexpressivos e direção precária (LOYOLA, 1965). Para os críticos, isso se devia aos baixos salários que a PAM Filmes pagava aos seus funcionários e atores.

Mas nem por isso todos os filmes tinham pouca qualidade artística. Participaram das produções de Mazzaropi atores que viriam ganhar reconhecimento nacional, como Tarcísio Meira. Apesar de grande esmero em diversos aspectos, o mesmo cuidado não era levado em consideração na montagem e edição dos materiais. Mazzaropi sacrificava o roteiro na busca de uma boa piada. Ou seja, o filme só era bom quando as piadas também eram. A justificativa do artista era que os improvisos e erros garantiam espontaneidade à fita.

Se isso pode ser encarado por alguns como um modo positivo, autoral e particular de conduzir um filme, logo este pensamento já pode ser descartado na medida em que conhecemos, muito além da forma de conduzir um filme, a maneira como Mazzaropi conduzia as gravações. Na maioria das vezes não havia cuidado com a continuidade e com a própria direção de arte e figurino: usavam-se roupas, no filme, inadequadas à época em que ele se passava.

Ainda que tudo acontecesse em prol das piadas, Mazzaropi não precisava de uma história engraçada e um roteiro totalmente cômico para ficar satisfeito com o trabalho. Em diversas ocasiões percebemos piadas deslocadas, fora do contexto da história que está sendo contada, como já exemplificado aqui. Ou seja: para Mazzaropi, qualquer momento no roteiro era propício para se fazer uma piada, por mais deslocada que ela pudesse parecer. Não era necessário que a estrutura do roteiro corroborasse isso. Sendo assim, os demais temas que o ator julgava digno de estar presente nos argumentos, se faziam presentes, mesmo que não fossem engraçados. E entre os assuntos mais trabalhados pelo cineasta estavam a política e a religião.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Paz Reinará

Tudo o que é branco é vazio
No branco não existe nada
Não existe nem ouro, nem prata
Nem caminhos, nem a PAZ
                                          Que é branca


Tudo o que é preto é escuro
Nada se vê, tudo se esconde
Se esconde o caráter e a inteligência
Mas põe em destaque a morte, a GUERRA
                                                   Que é preta


Porém, no branco, podemos desenhar
Escrever e criar
Pintar esperanças coloridas
de um mundo melhor.
E do branco tão vazio
podemos pintar a felicidade:
Vidas, sonhos, alegria de verdade.
E formar do tão vazio
Uma vida colorida
Sorrir, sem medo de chorar.

No preto podemos tentar escrever,
desenhar
Mas nada vai aparecer
O preto sempre será o superior
Agora... se pintarmos com o branco
Só o branco aparecerá
E, quem sabe...
A paz reinará


O texto é de minha autoria. A música que acompanha o post é "If a Could", interpretada por Celine Dion no DVD "A New Day Live in Las Vegas" (SONY MUSIC). Letra de Ron Miller, música de Ken Hirsch e Marti Sharron. A tradução da canção você pode encontrar neste site.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Você Precisa VER: Lady Gaga - The Monster Ball Tour

Impressionados por eu estar indicando Lady Gaga? Pois é! Até eu tive este sentimento de mim mesmo. Continuo com os mesmos pensamentos que expus neste post. Mas fiquei surpreendido com o resultado do mais recente lançamento da Mãe Monstro: "Lady Gaga - The Monster Ball Tour at Madison Square Garden". Por isso, na reestreia do Você Sabia, este andarilho que vos fala recomenda este registro (em DVD e Blu-ray) a todos os apreciadores de música pop.
O DVD começa com uma espécie de interlúdio encenado (que não faz parte do show), onde Gaga entra em uma espécie de mercearia e pede um café com leite, a caminho do Madison. Em seguida, uma rápida cena dos bastidores (quase de certeza também encenada) e, logo, a cantora mais estranha da atualidade já aparece no palco cantando a animada e explosiva "Dance in The Dark", numa performance incrível.
Aliás, Gaga não deixa a desejar em nenhum momento. Canta muito bem, dança demais, faz piruetas e, mesmo diante de tanto agito, controla a respiração de modo invejável. Além disso, diferente de muitas musas pop por aí (a maioria resolveu agir ignorantemente nos últimos tempos), Gaga interage com o público, conversa e anima a gigantesca plateia.
Gaga em uma das suas extravagâncias: o banho de sangue
Ao mesmo tempo, porém, que essa interação é louvável, por vezes ela acaba se perdendo, e passa minutos intermináveis falando. Mas o principal problema do show é mesmo as extravagâncias: ela toma banho de sangue, faz uma ceninha desprezível no interlúdio de "Alejandro", se empolga de modo ridículo em "You and I" e por diversas vezes quer dar uma de Celine Dion, sustentando uma nota por vários segundos. Claro que o resultado disso não é bom.
Mas afora estes detalhes, o registro é excelente. Especialmente pela edição, completamente bem realizada, que valoriza as cenas no palco, as performances de Gaga e a reação do público, sem prejudicar nada. Além disso, o show, em si, é carregado de simbologias que o tornam complexo e instigante. Mesmo o banho de sangue tem um significado que, claro, ela não explica. Mas é a intenção de nos levar à reflexão sobre todas as atitudes tomadas no palco que tornam este trabalho de Gaga tão interessante.
Gaga interagindo com a plateia. Ela ilumina o fã escolhido
para conversa com um cajado
O problema é nos atermos às reflexões quando tudo parece tão absurdo. Um absurdo bom, que vale a pena ser visto.

Além da já citada "Dance in The Dark", destaque para "Just Dance", "Boys, Boys, Boys", "Monster", "Poker Face" e "Born This Way", cujo álbum ainda não havia sido lançado quando o show aconteceu.
Nos créditos finais, se o show não foi capaz de lhe convencer, Gaga prova o porquê seu novo trabalho merece ser visto. Eu garanto: vale a pena!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Hipocrisia nas religiões: o motivo do atraso social brasileiro

Novo templo IURD: réplica da construção de Salomão
"Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai que vê num lugar oculto, recompensar-te-á" (Mateus 5, 5-6).

Parece que muitos religiosos esqueceram-se deste ensinamento de Jesus. Sim, ele também disse "Ide ao mundo e levai o evangelho à toda criatura", mas... além das palavras, Jesus ensinou aos cristãos a forma de levar este evangelho.

Jesus nunca empurrava nada "goela abaixo". Jesus nunca julgou, nunca condenou, nunca apontou o dedo, nunca excluiu, nunca cobrou. E Jesus também não invadia o espaço, a intimidade das pessoas; as suas vidas, o seu dia-a-dia, a sua rotina para falar de Deus.

Jesus não ficava toda hora falando "Glória a Deus", nem diminuía alguém por sua religião, profissão ou ideologias. Jesus, com atitudes, mostrava a melhor forma de viver e de se tratar o próximo.

Pois bem. Mesmo os não-cristãos precisam reconhecer que a figura de Jesus era inspiradora. Judeu, não se deixava levar pelos pensamentos pequenos dos iguais daquela época. Num tempo em que aquele povo não se dava com os samaritanos, julgando-os menores diante de Deus, Jesus contou uma parábola em que o homem-bom, que ajudou alguém que estava precisando de auxílio, era, justamente, um samaritano. Da mesma forma, protagonizou uma longa conversa com uma samaritana, que chegou a estranhar o fato de um judeu estar conversando com ela. Jesus não tinha preconceitos.

Valdomiro Santiago e o slogan: "A mão de Deus está aqui"
E sempre que Jesus fazia algo de bom, alimentando os famintos, realizando curas ou discursando com palavras de conforto, orientava as pessoas a não falarem de onde haviam conseguido ajuda. Ele não queria créditos para si. Queria apenas fazer o bem, pensar o bem e instigar as pessoas a agirem de modo igual.

Diante disso tudo é curioso que os líderes religiosos cristãos da atualidade estejam tão na contra-mão do que Jesus, de fato, fazia. É comum ver tais sujeitos unindo forças para fazer o mal e propagar o preconceito, a intolerância, a ditadura, o desrespeito e o ódio.

Odeiam os espíritas, os ateus, os maçônicos, os praticantes de religiões afrodescendentes, os muçulmanos, os gays, os socialistas e comunistas, os movimentos sociais e estudantis, entre tantos outros grupos sociais. Fazem campanhas para boicotar cantores, grupos musicais, filmes, programas de televisão e acham o demônio e mensagens subliminares em tudo que lhes apraz.
E pior: usam o povo, cobrando por suas "bem-feitorias" e afirmando que a graça só será obtida com a compra de travesseiros milagrosos, martelos da cura, óleos da unção e tantas outras bugingangas crentes.

Como se não bastasse, vinculam suas igrejas a programas de televisão, dominam os espaços vagos nas emissoras de TV, criam até slogans para seus empreendimentos/igrejas (um recurso exclusivamente comercial e nada bíblico) e estapam suas imagens nas placas das faixadas dos templos, auto intitulando-se "mensageiros de Deus".

Com toda essa triste realidade, a sociedade brasileira, e as leis de um país que deveria ser laico, acabam prejudicadas. Não se decide mais pelo bem da população, mas para o agrado dessas pessoas que não estão nem aí para Jesus. O Cristo é apenas o garoto-propaganda de suas empresas/igrejas que, beneficiadas pelo não-pagamento de impostos, lucram às custas da fé de gente humilde.

Daí forma-se a bancada evangélica na Câmara Federal para defender a moral, os bons costumes e a família. Mas esquecem de lembrar que o conceito de moral, bons costumes e família é diferente nas diferentes culturas. E que o Brasil não é um país de uma cultura só.

R.R.Soares viu que Edir Macedo se deu bem
e seguiu carreira solo
Ainda dizem que Sodoma e Gomorra foi queimada por causa dos gays. Tenho minhas desconfianças. Pra mim, ambas as cidades estavam cheias de pastores... digo... hipócritas!

"Eles devoram os bens das viúvas e dão aparência de longas orações. Estes terão um juízo mais rigoroso." (Marcos 12,40).

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Aniversário do Andarilho

Hoje é dia de festa no Andarilho! Pouco tempo depois de aparecer com cara nova, este blog completa 4 anos. Isso é uma ótima conquista especialmente pra mim que, oras com pouca, oras com uma frequência um tanto maior de postagens, tive o empenho de manter este espaço funcionando (diferente dos dois domínios "oandarilho" e "andarilho", que tanto me agradam, mas já existem e estão abandonados por seus autores).

Claro que, se eu não tivesse um mínimo de leitores, não haveria empolgação de continuar escrevendo. Mas, mesmo com pouca visitação e poucos comentários (ou nenhum, em algumas vezes), é um espaço que me faz bem. É onde eu posso dizer o que penso, sem edições. Obrigado aos amigos e não amigos que acompanham, ou que leem esporadicamente.

Que venham os próximos 4 anos de Andarilho. Pra mais!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Prêmio Set Sétima 2011

O Set Sétima está atualizado, minha gente! Depois de meses abandonado, fui lá, passei uma vassourada nas teias de aranha e, como bom cinéfilo que sou (ou nem tanto), resolvi fazer uma lista (como todo ano faço) dos melhores e piores filmes que eu assisti na tela grande no ano passado.
Quer conferir e opinar? Então corre lá! Não deixe de comentar também!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Um novo Andarilho para você

Bem-vindos a 2012 e a um novo Andarilho, meus caros companheiros de caminhada! O ano passado foi bastante intenso aqui neste espaço, e tudo isso eu devo a vocês, meus fiéis leitores; poucos, mas especiais.
Aos que me visitam esporadicamente também fica o meu registro de gratidão. Afinal, foi por conta dos visitantes esporádicos que eu consegui, na metade de 2011, superar a marca de 1.000 visualizações do Andarilho em uma semana, naquele que foi o maior post da história do Andarilho, que discutiu a homossexualidade na sociedade brasileira.

Percebi ainda impressionantes e expressivas visualizações em agosto, quando a Rede Globo lançou mais uma edição do Criança Esperança. Um post antigo, que falava sobre a polêmica em relação ao projeto disparou nos números de visitas e o Andarilho foi um dos espaços na rede mais consultados para tirar dúvidas sobre este assunto.
Tivemos ainda a "Série Wanessa", que fez um apanhado da carreira da maior cantora pop brasileira, o quadro "Você Precisa", que acabou se saindo menos religioso - no sentido da frequência de postagens - do que eu imaginava, e as postagens que tratavam sobre "A Joinville que eu queria", discutindo os problemas da minha cidade.

Enfim, 2011 foi um ano muito bom para este blog - apesar da monografia e do pouco tempo que eu tive para o Andarilho - e que se mostrou com uma qualidade muito superior a todos os outros anos de existência deste espaço.

Para 2012, em breve formado (espero), vou dar mais atenção a este querido blog. Vamos continuar aprofundando as discussões rasas das redes sociais, fazendo a cobrança necessária para um país e uma cidade (Joinville) mais justa, falando de cultura, um pouco de mim e do Set Sétima, que acabou ficando em um canto esquecido do baú da minha vida em rede.

Diante disso tudo, nada melhor do que começar o ano novo com um blog novo. Os novos recursos que eu apresento a vocês são mínimos: os visitantes podem seguir o Andarilho por e-mail (cadastre seu e-mail na barra lateral), assistir a alguns vídeos no YouTube que também são sugeridos aqui na barra lateral, além de navegar pelos blogs recomendados por este autor que vos fala.

Afora isso é só a roupa nova mesmo, sempre tentando ser o mais atrativo possível para tornar a sua visita ao Andarilho cada vez mais construtiva. Me acompanhe nesta caminhada em 2012! Sem dúvida teremos um ano incrível pela frente!