domingo, 20 de julho de 2008

Bola de cristal: o futuro do jornalismo impresso

"Deu no jornal". Há não muito tempo atrás - eu diria menos de uma década - essa era uma frase de perfeita credibilidade e nada mais tinha tanta credibilidade quanto o que saía num jornal impresso. Claro que sempre teve a TV e o rádio, mas até estes usavam jornais como referência e até hoje em telejornais matinais, as manchetes dos principais impressos do país são mostrados na telinha da TV.
Mas hoje a coisa não funciona mais do mesmo jeito. Qualquer um pode ser uma fonte de notícia. Celulares cada vez mais equipados com câmeras fotográficas e de vídeo, máquinas digitais muito acessíveis a qualquer um que tenha um crediário nas Casas Bahia, enfim... todos nós estamos vendo e fazendo notícia. Registrar e provar que viu sem ter uma fonte "legal" está cada dia mais fácil.
Não obstante, existe ainda a internet que atualiza as notícias minuto a minuto e cada vez mais pessoas estão conectadas. E o melhor: é de graça e os sites de notícias travam uma verdadeira guerra entre si pelo maior número de notícias, com as atualizações mais freqüentes e o maior número de informações nelas. A quem isso beneficia, eu sempre me pergunto.

Bem, além dos sites de notícias há os blogueiros - que, não como eu, é claro, mas os de longa vida jornalística - atualizam seus blogs dando às notícias uma cara mais interativa e menos formal, porém, não com menos informações e profundidade que nenhum outro veículo, afinal, muitos jornalistas renomados mantém seus blogs ativos.

Percebendo o exagero da multimidialização (se é que existe essa palavra) e do acesso cada vez maior das pessoas a esses meios, os próprios jornais impressos passaram a investir em versões on line; assim, não ficam pra trás, se garantem de alguma forma mas não deixam de exercer a velha função do jornalismo.
Diante disso tudo temos dois problemas: o primeiro é que as pessoas estão ficando cada vez mais enjoadas de notícias, de jornais, de informação. Ela, muitas vezes deixou de ser um espaço de ajuda social, com a função de servir à população e está cada vez mais sendo palco de um vergonhoso sensacionalismo. E não me digam que a culpa é das pessoas que gostam de ver isso! Acontece que o mundo está mal acostumado e a banalização da informação fez com que se travasse uma guerra entre as empresas jornalísticas apostando cada vez mais em meios mais baixos e frios para conquistar o público. Perdeu-se o jornalismo que contava boas histórias e que não era tendencioso e oportunista. Os bons cidadãos enjoaram. Os perdidos, têm sede de sangue e escândalos.
O segundo problema é: aqueles que ainda julgam importante estar informados, estão buscando outras formas de estarem por dentro que não um jornal impresso. Este é preciso comprar e a leitura demanda tempo. Então eis o coração desse tópico: qual o futuro da celulose no jornalismo?

Como estudante de jornalismo, eu realmente acho que o jornal não pode acabar. Eu falei que não pode e não que não vai. E realmente eu torço para que não acabe. Uma enquete que abri aqui no Andarilho e que quatro pessoas votaram (se depender do meu blog a internet não alavanca nunca!) 2 acharam que tem futuro, 1 que está no fim e outra que acredita que está fadado à morte, muito embora seja indispensável. E realmente é indispensável.
Aqui farei uma defesa do jornalismo impresso. Mas é defesa. Muita gente não pensa assim e é tão natural recorrer a outros meios que as pessoas nem ponderam essas questões, apesar de serem relevantes:

A internet é o meio de informação - na minha opinião - mais deprimente que existe. Na pressão de dar o furo, colocar no ar mais rápido que a concorrência, acaba-se comentendo erros imperdoáveis muito comuns: informações erradas por falta de checagem, erros de português, falhas com links e o acúmulo de informações requentadas e irrelevantes.

Na TV, o tempo do telejornal compromete a qualidade. Não há, portanto, profundidade. Não existe uma interação e as informações são jogadas tão rapidamente na nossa cabeça que nem temos tempo de processar tudo. Perdeu uma frase do Bonner? Nem sabe então o que a matéria tava falando! Isso é o formato da TV, não é pecado.

O único espaço que temos para lermos notícias com mais checagem, uma apuração melhor é o jornal impresso. Nunca vi ninguém levar notebook pro banheiro pra ler no trono. Muito menos imprimir uma matéria interessantíssima que leu na internet. Mas o que eu conheço de gente que guarda matérias do jornal, principalmente de cadernos de cultura, é basante significativo.
Além do que, com o jornal, a leitura não cansa (o computador emite luz e isso incomoda a vista), é mais prazerosa e calma. Mesmo com a pressa do dia-a-dia, podemos levá-lo para onde for e temos o dia inteiro para ler e não somente os 45 minutos do JN ou o tempo que ficamos na frente de um computador.

Infelizmente, para competir com outras mídias, muitos jornais vêm apostando em modificações infelizes: matérias sem produndidade, sem textos densos e muita, mas muita ilustração, arte e fotografia. Exagero de "notinhas" e pautas sem criatividade nenhuma. Daí o jornal não se salva mesmo porque cada mídia tem sua característica: a TV, ser rápida; a internet, atualizada com textos pequenos e fáceis; e o rádio ser dinâmico. Existem impressos que não conseguiram entender que o seu lugar é no papel. Que jornal não tem figurinhas que se movimentam e não tem textos que se atualizam e falam (apesar de um certo jornal aqui de Joinville fazer um comercial de TV de um avião que sai da foto do papel... tsc, tsc). É preciso, claro, que não fique na mesmice. O "The New York Times" ficou escandalosamente desvalorizado na bolsa dos EUA por causa da queda nas vendas. Sabemos que os impressos vêm vendendo cada vez menos, mas nesse caso, o "Times" continuou com o formato "tijolão" (muito texto com letrinhas pequenas). Deve haver melhorias e o jornal deve ser atrativo, mas o papel dele é fazer a diferença, ser o que a TV, o rádio ou a internet não conseguem: dar informação correta, bem apurada, revisada, completa, profunda, criativa, com o "algo a mais" e principalmente: com texto bom. Há jornais que parece que estamos lendo diário de primário: falta vocabulário e só fala o básico; a mesma coisa que eu vi na TV ontem e que eu li na internet antes de ver no telejornal de ontem. Cadê a "algo a mais"? Onde eu vou encontrar profundidade se quem deve me trazer não traz? Quando que eu vou parar de torcer o jornal e sair sangue? Quando que eu vou ter matérias mais criativas? Quando que os empresários dos impressos de todo país vão entender que jornal é jornal e não outra coisa? Como diz o ditado: "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa".

Talvez sabendo de tudo isso, as pessoas valorizem mais o impresso. Se ele continuar sendo "só mais uma coisa pra saber a mesma coisa", não sobrevive mesmo.

Obs. 1: Eu não sou contra a internet. Como toda forma de notícia, ela também cumpre seu papel. Só acho que ela não é completa e é perfeitamente substituível. Porém, muitas rádios, por exemplo, usam a internet para fazerem seus informes.
Obs. 2: Sou um eterno admirador dos telejornais. Meu desejo é trabalhar em TV. Mas acho que ela não é completa. Como disse: o formato de um telejornal não permite que ele seja melhor.
Obs. 3: Odeio sensacionalismo. Isso destrói com o jornalismo. É preciso informar e não esfaquear ainda mais a vítima. O problema é que o jornalismo está se restringindo muito ao trágico ultimamente.
Obs. 4: Não escondo um apreço por impresso. Existe também em mim um vontadezinha de ver meu nome assinando uma matéria. Se for num caderno de cultura, tô mais feliz ainda!

4 comentários:

Alessandra Castro disse...

Acredito que existe sim espaço para todas as mídias, quando um trabalho é bem feito naum tem como ele entrar em extinção assim. Mas se tivesse que apostar em algum coitado, definitivamente seria o rádio. Nem gosto mesmo.

Bella disse...

Concordo que todas as mídias conseguem viver em harmonia, se fizermos as coisas direito. E ñ, o jornal ñ pode sumir.
Menino, eu adorei o teu blog!
Confesso que ñ consegui ler todos os posts que gostaria, pq é muuuuuita coisa e estou com sono.
Mas pretendo voltar!
Adorei

Breno C. disse...

bom... não sou tão fã do jornal assim e acredito cada vez mais na internet como meio do informação, principalmente pela velocidade, mas concordo com os pontos que você levantou.
Ótimo post carinha...

♥MáH♥ disse...

Menino, que texto grande... mas muito bom, claro rsrsrs
Também acho que não se pode acabar com o jornal...
O jornal teve um papel pra lá de importante na nossa história, além de ainda ser de mais fácil acesso, principalmente num país onde a internet não é tão fácil como pensamos, as vezes.
precisamos tambpem repensar a qualidade dos jornais atuais... tem cada um que se diz jornal, que puts...

Bom, enfim.... quanto mais mídia tivermos, mais informação teremos... seja sentado na praça ou sentado no quarto, com a mão no mouse...o importante é informar o nosso povo... informar é educar!

Bjinhus