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terça-feira, 15 de março de 2011

A Joinville que eu queria: Saúde

A saúde é uma questão crítica não só em Joinville, mas em todo o Brasil. Especialmente nas grandes cidades, que acabam tendo que atender - também - a demanda da região metropolitana. Apesar de não podermos considerar a região de Joinville como "metropolitana" (por não ter padrões de metrópole e também por Joinville não ser capital), as características são as mesmas.

Antes de resolver o problema de atender a demanda, é preciso resolver a questão da falta de médicos que, obviamente, está totalmente ligada ao atendimento da demanda.
Faltam médicos. E por um motivo bem simples: salário. Eles precisam ser bem remunerados. Pagar bem os médicos não é nada mais que justo. Mas é preciso pagar BEM. Médico deveria receber salário de político. Como os "poderosos" vão bater o pé e dizer que é exagero, é preciso, pelo menos, aumentar generosamente o salário desses profissionais; porque, se não, eles não se interessam em trabalhar em organismos públicos. Até fazem concurso, mas nada os prende porque o salário não é atrativo.

Em Joinville paga-se R$ 2.300 para um médico (foi o valor que eu vi a prefeitura oferecendo no último concurso público). Salário de miséria. O rendimento deles não deveria ser menos que R$ 5 mil, e tenho dito.

Resolvido o problema salarial, é preciso cobrar do governo estadual mais presença no Hospital Regional e no Hospital Infantil, administrados pelo governo de Santa Catarina. São estes dois hospitais que têm que atender a demanda da região, e não o São José, que é municipal e está cumprindo a função que era do estado.

Mas pensemos nos problemas aqui da cidade, que é o objetivo. Tudo começa com a prevenção. Saneamento básico (que já está em expansão), lixeiras nas ruas (conforme citei no post de ontem) e educação - nas escolas mesmo - de práticas de segurança e saúde, como a etiqueta da tosse e prevenção a DSTs.

Aquelas Agentes de Saúde que passam nas famílias fazendo sondagem da ultima consulta, preventivos, etc, também fazem um bom trabalho. Mas é preciso intensificar.

Depois vem o atendimento básico, com coisas que são básicas e nunca pensadas. Pra começar a instalação de bancos, cadeiras nos postos, para as pessoas aguardarem. Esperar em pé pelo atendimento é o fim da picada. Na sala de espera para o médico até tem bancos nos postos. Mas quando a pessoa está esperando pra ser chamada na triagem, ou na recepção, tem que esperar em pé.
Aliás, organização é o que menos tem nos postos de saúde. A comunicação é improvisada e não funciona. É preciso melhorar isso com o quadro de médicos e vagas e placas padrões com informações importantes para os pacientes. Senha eletrônica para atendimento na recepção e mais espaço para as pessoas.

Ainda nos postos de saúde é preciso acabar com as filas da madrugada. Isso é desumano e injusto. Isso se resolve com a contratação de mais médicos e a reserva de um profissional só para atender casos específicos (como pacientes diabéticos e idosos, que recebem atendimento preferencial).
Os médicos devem ser específicos de um posto de saúde. Deve haver uma equipe para cada unidade, e não compartilhamento, para agilizar o atendimento de todos.

Ainda na unidade básica é preciso efetivação das chamadas "Policlínicas", que são postos de saúde com atendimento de especialistas. Já existem duas na cidade. São necessárias, pelo menos, mais oito. E elas precisam de equipamentos para exames mais específicos, pra desafogar os hospitais e reduzir o tempo de espera por uma consulta com especialista.

Depois da unidade básica temos as unidades de urgência, chamadas de PAs ou UPAs. Em Joinville temos na zona Sul (Itaum), outra no Norte (Costa e Silva) e outra no Leste (Aventureiro). Existe projeto para mais uma unidade no Vila Nova e eu acredito que mais duas ainda sejam necessárias na Zona Sul e outro na Zona Norte, especificamente no Jardim Paraíso.
Um hospital na Zona Sul também deveria começar a ser pensado. Isso iria desafogar o São José, o Regional, atender a crescente população daquela região (que vai crescer ainda mais com a UFSC e a GM) e servir também à população de Araquari, que fica próxima e sempre recorre ao São José.

O São José, aliás, precisa, com urgência, terminar sua ampliação.

O problema é que tudo na saúde é muito caro e moroso. Mas também é o mais necessário. É preciso vontade. Tem coisas que são inadmissíveis: porque é tão fácil aumentar o salário dos parlamentares e os médicos continuam com esse salário injusto para a função e importância deles? Porque se dá tanto valor pra obras gigantescas e sem importância e pouco valor para o que realmente vai tornar a vida das pessoas melhor?
Falta vontade e senso de prioridade. E tenho dito.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A Joinville que eu queria: infraestrutura

AS VIAS JOINVILENSES

Joinville tem a maior frota de veículos automotores per capita do Brasil. Ainda assim, a única via na cidade condizente com essa expressiva quantidade de veículos e com o tamanho da cidade é a BR-101 que, é bom lembrar, não está lá a serviço do município, e sim, do Brasil, como ligação entre as cidades do litoral.
Dentro da cidade o trânsito é sofrível. As ruas são escoras: tem lugar pra encostar o carro em todo canto em ruas que já são estreitas por natureza. Pra piorar, a solução mais inteligente para organizar o trânsito que é encontrada pelos órgãos municipais continua sendo o semáforo. Colocado em cada esquina, ele torna o trânsito joinvilense ainda mais trancado e impossível.

Não é difícil, no entanto, encontrar soluções para estes problemas. Precisa somente de vontade política e dinheiro. Além do apoio do empresariado forte da cidade, que deveria trabalhar mais em prol da sociedade e menos em vista dos seus umbigos.
Algumas dessas soluções já estão sendo encaminhadas: a abertura da Almirante Jaceguay, entre o Costa e Silva e o Vila Nova, sendo uma rota alternativa à congestionada XV de Novembro. Esta, aliás, precisa ser duplicada, mas há um projeto de binário que está sendo encaminhado. Também é válido. Assim, o acesso ao Vila Nova vai ficar bem mais digno, rápido e seguro.
É preciso eliminar o estacionamento rotativo de vias que recebem grande fluxo de veículos, como a avenida Getúlio Vargas, a Rua do Príncipe, a Abdon Batista e a Princesa Isabel. Isso daria pelo menos mais duas pistas de rolagem e desafogaria o trânsito, além de evitar aquelas paradas para gente que tenta estacionar por ali. É preciso, no entando, a construção de pelo menos dois estacionamentos municipais, administrados pelo Cartão Joinville - mesma empresa que cuida do estacionamento rotativo - para suprir a necessidade de vagas.
E, claro, os elevados. Já passou da hora de Joinville contar com viadutos. É preciso com urgência um na rua Florianópolis, no Itaum, naquele cruzamento do Terminal do Itaum com o PA 24 horas Sul, um na Beira-Rio próximo à ponte azul da prefeitura e um no cruzamento da Marquês de Olinda com a XV de Novembro, no Glória. A João Colin precisa de uma solução urgente, mas, infelizmente, não cabe um elevado ali.

O TRANSPORTE COLETIVO

Joinville tem um transporte coletivo caro, ineficiente e sem alternativas. É preciso reconhecer que o modelo de integração, onde é possível rodar a cidade com apenas uma passagem, é bom; e que a nossa frota de ônibus tem boa qualidade. Mas isso não basta.
Não dá de ficarmos reféns de péssimos horários de ônibus, e programar a nossa vida em função deles. Não dá de ir trabalhar com tranquilidade, não dá de planejar um horário para chegar em casa e muito menos ir ao cinema com tranquilidade. É preciso mais horários, mais linhas e um valor menor.
Se tem gente que trabalha, término de sessão de cinema e bares que fecham depois da meia-noite, por quê o último ônibus é 0h15 do Centro? Isso tá errado! É preciso ampliar os horários com maiores frequências de viagens.
Estudantes e trabalhadores a caminho do serviço (pra pensar de modo realista) têm o direito de pagar meia passagem. É preciso ter cobradores nos ônibus. E aquela ideia da passagem a R$ 1 aos domingos e feriados é ótima!

Além do ônibus é preciso já pensar numa possibilidade de metrô de superfície. Mas aqui é preciso a união dos municípios vizinhos e recursos estaduais e federais.
Por que metrô?
1 - A quantidade de joinvilenses que trabalham em São Francisco do Sul e Araquari, e vice-versa.
2 - A UFSC e a fábrica da GM que estão a caminho no extremo Sul da cidade.
3 - É preciso pensar que Joinville está crescendo, e vai crescer mais, e continuar só com ônibus não dá. Não terá como suportar.
A ideia é que o metrô saia do aeroporto, passando pela Univille, margeie a Dona Francisca para atender as fábricas da região, passe pelo Terminal Norte até o Centro. Depois vá para a Rodoviária, passando pela Via Gastronômica, e de lá siga o trajeto contornando a BR-101 até a UFSC e a GM. Seguindo em frente, é interessante passar por Araquari e terminar a linha na praia da Enseada em São Francisco do Sul. Com isso, o metrô atenderia os estudantes de quase todas as grandes faculdades e universidades da cidade, passaria pelas proximidades dos terminais de ônibus para fazer a integração, atenderia os trabalhadores das indústrias das zonas norte e sul e serviria de atrativo turístico para quem viaja às praias de São Chico nas férias (evitando o trânsito da BR-280), ou vai dar uma passada na Via Gastronômica com os amigos.
Além, é claro, de ser um serviço pra quem usa o deslocado aeroporto (que sofre com os horários da linha de ônibus que o atende) e a rodoviária.

A ligação pelo Rio Cachoeira com São Francisco do Sul precisa de uma solução urgente! É uma ótima alternativa para diminuir o trânsito na BR-280 e serve como potencial turístico, inclusive. É preciso investimento para que as pessoas troquem a rodoviária pelo transporte aquático.
Mas é preciso desassorear o Rio Cachoeira, melhorar o cais perto do Mercado Municipal e dar condições para navegação. Isso é básico.

ENCHENTES

As soluções para as enchentes em Joinville estão longe de ser definitivas porque isso é natural de uma cidade que é parcialmente aterrada, é mangue e está no nível do mar. Mas não dá de usar isso como desculpa para não fazer nada.
Os piscinões para escoamento de água - existentes em São Paulo, por exemplo - são uma ótima alternativa. E, ao que parece, os recursos já foram liberados para a construção.
A modernização na rede pluvial e de esgoto também estão sendo feitas, e são importantes. Além da limpeza das bocas de lobo. Constantes. Não como são feitas hoje, somente no pós-enchente.



É preciso desassorear os córregos e retirar, aos poucos, as famílias que moram às margens dessas vias aquáticas.
Mas uma solução que, não sei por qual motivo, não ganha importância na cidade são as LIXEIRAS. A desculpa da Ambiental, antiga Engepasa, que cuida da coleta de lixo da cidade, é que não tem ninguém para "cuidar" dessas lixeiras das ruas. A prefeitura também não quer se responsabilizar. Mas que diabo!
É preciso lixeiras. Aos montes! A cada cinco metros. Muitas lixeiras. Lixo na rua é porquice e sinônimo de enchentes. E acima das lixeiras, cinzeiros. Os fumantes vão respeitar? Talvez - quase com certeza - que NÃO. São quase todos uma cambada de porcos. Mas aos educados haverá onde depositar sua chepa de cigarro.

As melhorias para a rodoviária e o aeroporto vou deixar para o post de turismo. Este já ficou grande demais. Até o próximo!



CRÉDITO DAS FOTOS:
Trânsito na João Colin: Fabrizio Motta - jornal A Notícia
Terminal de ônibus: Salmo Duarte - jornal A Notícia
Enchente em Joinville: Orides Tomkiel Zmovirzynski - blog Falando Dormindo

sexta-feira, 11 de março de 2011

A Joinville que eu queria


Joinville fez aniversário esta semana e, como bom joinvilense, preciso escrever sobre. Sei que muitos (muitos não, né?, porque quase ninguém lê isso aqui), mas... bem... continuando: alguns dos que me leem não são de Joinville; mas eu gosto e preciso falar daqui, afinal, é o lugar onde moro e onde vou morar até um futuro próximo (e breve, espero). Até quarta-feira que vem (espero), que é quando se completa uma semana do aniversário da cidade, postarei melhorias simples, mas que deixariam Joinville mais bonita, humana, agradável, próspera e feliz.
As propostas são:

* Infraestrutura: transporte aquático para São Francisco pelo Cachoeira, metrô de superfície, readequação do modelo de transporte coletivo, elevados e alargamento de ruas, melhorias no aeroporto e na rodoviária e projetos de prevenção às enchentes.

* Saúde: Conclusão do Hospital São José, efetivação das policlínicas, valorização dos médicos, mais Pronto Atendimentos 24horas, melhorias nos postos de saúde, saúde preventiva e hospital na zona Sul.

* Cultura: melhorias no Complexo Cultural Antarctica e na Estação Ferroviária, o Teatro Municipal, estruturação da rota dos museus, adequação do Centreventos para seu verdadeiro fim e da Biblioteca Pública.

* Turismo e lazer: efetivação dos parques de Joinville, fortalecimento do Barco Príncipe, aproveitamento da proximidade com São Francisco do Sul.


Nos próximos posts eu vou esmiuçar o que penso sobre cada um desses tópicos, que são os pontos que mais me incomodam em Joinville. Não, não estou me candidatando a prefeito de Joinville. São apenas coisas que sempre penso e pensei, mas nunca expus. Essa é a chance de mostrar que, apesar de querer sair daqui por N motivos, tenho carinho por esta cidade e quero lhe ver bem.

sábado, 29 de janeiro de 2011

A chuva em Joinville e no resto do Brasil

O mês de janeiro sempre é responsável por trazer um inconveniente trágico: a chuva. Mas... peraí! A chuva não é um elemento da natureza, existente desde sempre e sem força para causar tragédias como furacões e vulcões o fazem? A resposta seria sim, mas não é o que estamos observando nos últimos anos.
Chuvas frequentes associadas ao intransigência da população, da especulação imobiliária e ao descaso político e social estão desolando a vida de milhões de pessoas. Em novembro de 2008, pela segunda vez na história da cidade, Blumenau, em Santa Catarina, teve de enfrentar aquele tipo de enchente que obriga uma cidade a recomeçar do zero. E não só ela. Várias cidades catarinenses foram afetadas.
Ano passado a bela Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, enfrentou a fúria das águas: elas encharcaram os morros que desabaram e causaram mortes. Este ano o Rio de Janeiro viu repetir a mesma cena, mas com mais intensidade e em outra região: na serra.
E de quem é a culpa?

Joinville é uma cidade conhecida pela frequência de precipitações. Segundo estudiosos em metereologia, esta é uma das cidades com a maior frequência de chuva do país. Então fica claro que estamos acostumados aos guarda-chuvas. Ainda assim, passamos por alagamentos e perdas há muito tempo e essa realidade nunca muda. Pelo contrário: cada ano a coisa piora.
Pelo que eu sei, na China, por exemplo, os prédios são construídos para que a estrutura consiga se manter em pé em um caso de terremoto. No Chile isso também ocorre. Eles fazem isso porque sabem que essas regiões são muito propícias a abalos císmicos. Mas aqui no Brasil a coisa não funciona desse modo.
Jutta Hagemann, joinvilense e historiadora entusiasta, conta que as enchentes sempre aconteceram na cidade, desde a chegada dos imigrantes, em 1851.



O fato é que Joinville tem pontos abaixo do nível do mar, como o Centro, por onde passa o Rio Cachoeira e sofre, além da chuva, com a influência das marés. Se isso é típico da cidade, porque ninguém nunca fez nada? Porque não existem sistemas especiais de captação da água da chuva, redes pluviais largas, piscinões e o que mais a tecnologia permitir? Certamente essas coisas são mais simples e baratas que estruturas prediais a prova de terremotos, não? Será que desde 1851, durante o crescimento da cidade, entre as várias enchentes que ocorrem, nunca NINGUÉM sentiu a necessidade de fazer algo? Faltou dinheiro? Faltou tempo?
Não dá para culparmos - somente - o governo atual. Porque os outros prefeitos também nunca fizeram nada?


Além do descaso das autoridades, temos o agravante da falta de educação da população que joga lixo nas ruas; as águas levam para os bueiros e entopem as bocas de lobo. Sem educação, não há político que faça a realidade das enchentes mudarem. E aqui a culpa é somente dos atuais moradores, porque não creio que em 1851 eles tivessem muito lixo pra jogar na rua...

Da mesma forma que em Joinville, no Rio de Janeiro as autoridades sabiam do risco que aquelas regiões corriam. Mas não fizeram nada! E da mesma forma como aqui, a população sabe que tem que agir de modo diferente e mais respeitoso com a natureza e não o faz.
O que não pode acontecer é ficarmos - nós e as autoridades - parados sem mudanças de atitudes. Isso é regressão. Isso é querer morrer.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Negro novembro

Chove em Joinville (pleonasmo). Há mais de dois meses não se sabe o que é passar uma semana sem chuva. Não dá de planejar nada: a chuva vai estragar os planos. Os tênis não terminam de secar, as roupas nunca estão limpas. Aquela calça que eu tenho branca no guarda-roupa não pode ser usada. Se usá-la, será só por um dia pelas próximas duas semanas, porque ela terá de ser lavada e demorará outro tanto de tempo para secar.
Sinto cheiro de fungo no ar. As ruas estão encharcadas e o solo não suporta mais a umidade. Está como uma esponja pesada. A cidade está cinza. As pessoas saem de casa desconfiadas. É claustrofóbico. Joinville parece um elevador gigante. O clima é inconstante. Não há sorriso. Não há cores.

A chuva provoca doenças: as janelas estão fechadas, os guardas-chuvas não protegem os pés das poças de água das calçadas destruídas e mal acabadas. Nem dos carros que, violentos, passam em alta velocidade sob a faixa de pedestre. Os motoristas protegidos em seus veículos bem vedados, som ligado e ar-condicionado não se dão conta que há pessoas fazendo contorcionismo para tentar fugir da chuva desagradável debaixo de um ineficiente guarda-chuva.

E que dizer dos mal-educados que não respeitam quem se descuidou e deixou o companheiro básico do joinvilense em casa? Pedestres protegidos que usam a marquise deixando os desprevenidos à mercê da chuva constante.

Nem o concreto é mais impermeável. Minha casa já tem goteiras. Está alangando, móveis estragando e a agonia de ter o chão molhado e as roupas penduradas dentro de casa aumentam a sensação de mau humor. É como se a chuva fosse administrada por uma instituição que não soubesse mais regulá-la direito, e tivesse perdido o jeito de fazer as coisas.

E com tudo isso surge o resfriado.

Os resfriados tranformam-se em gripes.

E as gripes atingem os mais azarados com sinusites, pneumonias e, no meu caso, amigdalite.

E tudo isso dá febre.

No negro novembro tive duas amigdalites seguidas. Passei dias sem dormir, sem engolir. Estava praticamente sem viver. E foi neste mesmo negro novembro que, depois de curado das amigdalites, me surgiram duas ínguas na nuca, do lado direito. Logo elas se multiplicaram, e já são 7 ínguas espalhadas pelo meu pescoço e nuca.

Ir no médico? Como? Se não têm mais horários disponíveis para clínico geral na rede de saúde pública básica de Joinville para este ano?

Ir no PA (Pronto Atendimento 24 horas)? Lá, com o Protocolo de Manchester, que usa as pulseirinhas para identificar a gravidade do problema, o meu será tido como sem nenhuma gravidade, e vou ficar infinitas horas esperando pra me consultar, conseguir um exame, mas sem retorno previsto. Ou seja, ficarei sem saber o que tenho até janeiro.

Bom... minha mãe tinha consulta hoje e aproveitou para explicar à médica o que eu tinha. Ela se limitou a dizer que "ínguas são causadas por infecções graves, e é preciso fazer um exame de sangue detalhado para saber do que se trata exatamente". Ajudou muito.

E para o novembro ficar ainda mais negro, meus dias estão curtos demais para minhas necessidades. E, apesar de a carência e o desânimo, às vezes - mesmo que eu procure afugentá-los - existirem, não posso dizer de maneira nenhuma, sendo joinvilense, que estou na seca.


Foto: Laercio Beckhauser

terça-feira, 27 de abril de 2010

O caso crítico da Busscar

É só você prestar bastante atenção. Em algum momento da sua vida você já embarcou, ou ao menos já viu um ônibus Busscar, empresa com sede em Joinville, SC. Essa marca já foi uma das maiores exportadoras de carrocerias de ônibus da América Latina, só ficava atrás da gaúcha Marcopollo. O motivo nem era a falta de clientes: é que na Busscar o processo sempre foi artesanal: monta-se o ônibus conforme o desejo do cliente, inclusive alongando o chassi. Na Marcopollo, o processo segue as restrições das máquinas e da linha de produção massivamente mecânica.

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Não à toa, vários artistas nacionais encomendaram seus ônibus de viagens na Busscar. Até a Rede Globo tem um para o quadro Garota Fantástica, da revista eletrônica dominical da emissora.
São mais de 60 anos de história, produtos exclusivos rodando no mundo inteiro e uma marca de fazer tremer qualquer concorrente. A rodoviária de Joinville leva o nome daquele que foi o presidente da empresa por anos: Harold Nielson.
Estou eu contando uma história de alegrias e sucesso? Não. Infelizmente, não. Pelo menos no que se refere à ultima década.

Há menos de dois anos a Busscar tinha mais de 6 mil funcionários. E há menos de dois meses quase 2 mil participaram de um programa de demissão voluntária devido à situação econômica da empresa. Naquela época, a fabricante de carrocerias já não tinha seus 6 mil colaboradores.
Ninguém mais empresta dinheiro para a empresa joinvilense. O governo também não ajuda mais. Os funcionários estão desacreditados. As famílias que dependem da fábrica estão desesperadas. E o município teme uma situação de descontrole econômico na cidade. Ou seja, a história é mais triste e grave do que se pode imaginar.
O problema não vem de hoje. Em 2001 o negócio da família Nielson já não ia bem das pernas. Na ocasião, todas as esferas do governo: municipal, estadual e federal fizeram o possível para liberar ajudas e empréstimos milhonários para resgatar a empresa do vermelho.
Pouco tempo depois, tomou fôlego, mas já não era a mesma, apesar de querer se fazer "a empresa forte": contratou dezenas de funcionários, liberou horas extras descontroladas, não adotou nenhum forte procedimento de economia e houve até registros de chefias boicotando a empresa. Além da falta de organização na linha de produção e o visível descompromisso de muitos colaboradores com o trabalho. Isso que eu falo é fato. Apesar da falta de registros, foi justamente a época que, por 6 meses, eu trabalhei lá.
Não estou vomitando no prato que comi, até porque alguns de meus familiares ainda dependem da Busscar e desejo muito que ela volte a ser o que era em sua era de ouro. Mas minha crítica vai à administração desta fábrica.
É do conhecimento da maioria dos joinvilenses as fortes ligações evangélicas dos proprietários da Busscar com a igreja que frequentam. Tem um pastor que vive fazendo orações e dando conselhos para os funcionários. Isso não seria nada prejudicial se não fosse em demasia. Soube, há pouco, que o presidente Cláudio Nielson doou cerca de R$ 50 mil nesses últimos dias para o tal pastor. Além disso, a Busscar sempre patrocinou programas da tal igreja na África. A causa até é louvável se não houvesse tantas outras famílias precisando do bom senso da empresa aqui mesmo, na sua cidade-sede.
Como se não bastasse, há um lugar para orações no coração do parque fabril. Nada mau, se a pessoa não fosse liberada para, a qualquer momento, fazer a tal oração. Ao passar por lá, tenham certeza, ouvia-se mais roncos do que louvores.

Não foi somente a igreja, porém, que afundou a Busscar. Aí ainda tem alguma história mal contada. O mercado está aquecido (vide os índices das concorrentes, como Marcopollo e Comil), pedidos haviam aos montes, e o motivo da paralização da fabricação foi, nada mais, nada menos que... a falta de matéria prima. Isso mesmo! Não faltavam pedidos, não faltavam chassis. Na verdade havia até mais pedidos do que a capacidade de atendimento, e sempre tinha sido assim desde a retomada no início dos anos 2000. Mas a Busscar não pagava mais os fornecedores, e não tinha mais créditos com eles. Nem com os bancos. E nem com o governo, que já tinha dado todos os tipos de auxílio na última crise.
Venderam a recreativa pela metade do que valia (o Grenil, um belo espaço para funcionários e familiares) para quitar dívidas e está à espera de um repasse federal referente ao IPI, que continuava sendo cobrado da Busscar, mesmo com a insenção.
Ainda assim, a soma da dívida é maior que este valor, e maior que o valor do próprio patrimônio. Muitas soluções já foram apresentadas, mas parece que o Sr. Cláudio Nilson prefere achar que vai ganhar o céu doando R$ 50 mil para seu pastor, do que ajudando as milhares de famílias que dependem daquele emprego. É lamentável.

O Sindicato dos Mecânicos sugeriu abrir o capital (a empresa é Sociedade Anônima de Capital Fechado), vender a marca (segundo boatos, a Marcopollo tinha interesse), enfim... era só ter vontade de agir. Já disse Carlito Merss, prefeito de Joinville: "O problema da Busscar não é do mercado, é administrativo". E é fato: não há uma organização de comunicação institucional, o próprio alto escalão da empresa está sem informações, a comunidade não tem satisfação de nada, a imprensa está às cegas (e sempre teve, mesmo nos bons momentos o atendimento aos veículos de comunicação era péssimo) e isso demonstra tudo aquilo que a empresa é e aquele lugar para onde, sem mudanças de atitude, eles nunca vão chegar: o sucesso.

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